Segundo o hospital Francisca Júlia, a equipe de Apoio Social da Prefeitura deixou o local antes que paciente que conduzia fosse internada
DA REDAÇÃO
O hospital Francisca Júlia CVV responsabiliza o serviço de Apoio Social da Prefeitura de São José dos Campos pela fuga de uma paciente que, depois de ser levada até lá, foi vista andando desorientada a cerca de 1 km, próximo à rodovia dos Tamoios, no acesso à estrada Bezerra de Menezes, na região sudeste da cidade. O fato ocorreu no sábado (21) por volta das 16h.
A jornalista Maria D’Arc da Silva passava de carro pelo local com uma amiga quando viu uma mulher vestida apenas com calcinha e uma camiseta listrada de vermelho e branco. Pela proximidade do Francisca Júlia, uma instituição de atendimento a portadores de transtornos mentais e dependentes químicos, concluiu que deveria ser uma paciente em fuga.
D’Arc foi ao hospital comunicar o fato e pedir ajuda. Ela chegou à janela de atendimento da entrada quase ao mesmo tempo que outra mulher que viu a mesma cena e foi, junto com o marido, pedir providências. Ambos se identificaram como argentinos moradores em São José.
“Os funcionários explicaram que ela havia fugido de lá, que o próprio carro do Apoio Social a levou até o hospital, mas não foi resgatá-la após a fuga, mesmo a equipe tendo sido alertada para isso”, relata a jornalista. “Nos mandaram ligar para o 192 (Samu) e 153 (Guarda Municipal), a quem está ligado o serviço de Apoio Social.”
Continuando seu relato, ela conta que, ao ligar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ouviu um não como resposta e a orientação de ligar para o número 153. Também nesse serviço, segundo D’Arc, “passei por todas as explicações solicitadas, nome, local, descrição da situação e, no fim, me disseram que não poderiam fazer nada. A atendente me perguntou apenas se nenhum enfermeiro estava acompanhando, informei que não”. Ao dizer que gostaria de registrar uma reclamação, a atendente lhe indicou ligar para a ouvidoria da Prefeitura.
Sem atendimento do Francisca Júlia, Samu e Apoio Social, o caso foi resolvido pelo casal argentino, que conduziu a mulher até o hospital caminhando pela estrada. A paciente caminhou pela pista amparada pela argentina, vindo o marido atrás delas com o pisca-alerta do carro ligado.
Antes de ser reconduzida ao hospital, a paciente se identificou pelo nome (as iniciais são R.A.L.), respondeu que mora nas ruas e que duas netinhas viveriam com ela. Disse ainda que não pode ir para casa porque, lá, apanha de um irmão.
Terminado o episódio, Maria D’Arc deixou o local e escreveu uma crônica relatando tudo o que viveu, publicada na segunda-feira (23) no SuperBairro. Em seu texto –utilizado para compor as informações desta reportagem–, ela questiona o comportamento das instituições.
“Por que o Apoio Social, embora alertado pelo hospital, não foi buscar a mulher? Por que os serviços 153 e 192 não podiam atender e não tinham protocolo para nos orientar sobre o que fazer? Por que nem mesmo um enfermeiro do hospital foi destinado para nos acompanhar e dar ajuda profissional na abordagem, já que dissemos que sabíamos onde ela estava?”, pergunta.
Hospital explica
Contatado pelo SuperBairro, o hospital Francisca Júlia CVV informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está apurando o ocorrido, porém adiantou que “a paciente chegou até a Unidade de Emergência de Saúde Mental (UESM) Francisca Julia encaminhada por profissionais do apoio social da Prefeitura de São José dos Campos e por estes acompanhada”.
A nota informou ainda que R.A.L. ainda aguardava por atendimento médico quando deixou a unidade sozinha e responsabilizou o Apoio Social da Prefeitura, que a conduziu até lá, por não ter aguardado que a internação da paciente fosse finalizada.
“A Francisca Júlia reconhece o equívoco pela saída da paciente e reforça que o protocolo de atendimento preconiza que, no momento da entrada na unidade e até que seja atendido por um especialista, o(a) paciente deve estar sob os cuidados de um acompanhante. A Francisca Júlia irá tomar as providências cabíveis juntos aos órgãos de atendimento em saúde mental para que fatos como este não ocorram novamente”, disse a nota.
O hospital também informou que, na quarta-feira (25), a paciente R.A.L. seguia na unidade, “sendo assistida por médicos psiquiatras, psicológicos, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, entre outros profissionais, com tratamentos terapêuticos para sua recuperação”.
Prefeitura responde
O SuperBairro também enviou perguntas para as secretarias de Apoio Social ao Cidadão e de Saúde pedindo esclarecimentos sobre o que fizeram o Apoio Social e o Samu, respectivamente, no episódio da fuga. A resposta, também enviada na última quarta-feira, veio em uma única nota e foi a seguinte:
“A Prefeitura de São José dos Campos tem o melhor atendimento integrado da região, com profissionais dedicados e bem preparados para acolher a população. Os serviços públicos amplamente utilizados pelos munícipes seguem os critérios de urgência e emergência para o atendimento às demandas.
Respeitando o sigilo de informações garantido pela Lei Geral de Proteção de Dados, a Prefeitura informa que a paciente em questão foi socorrida pelo atendimento social, Guarda Civil Municipal, acionados pelo CSI (Centro de Segurança e Inteligência), UPA [Unidade de Pronto Atendimento] do Putim e Saúde Mental/Hospital Francisca Júlia.”
Íntegra das respostas
Veja, abaixo, a íntegra das perguntas do SuperBairro e das respostas do hospital Francisca Júlia e da Prefeitura de São José dos Campos.
Francisca Júlia
Qual é o protocolo adotado pelo hospital em caso de fugas de pacientes?
É realizada uma busca e acompanhamento do paciente. Imediatamente é feito registro policial, em seguida a família é informada e acompanhamos se o paciente retorna até os parentes. Também orientamos e acompanhamos o paciente para que ele retorne ao tratamento.
Os familiares dos pacientes são avisados sobre ocorrências desse tipo? Os familiares da paciente R.A.L. foram avisados?
O contato da paciente na Francisca Júlia foi através da casa de apoio do município. Não dispomos de contatos de familiares dessa paciente.
De quem é a responsabilidade pelos pacientes desde o seu deslocamento até a entrada no hospital?
A responsabilidade pelo paciente nesse deslocamento e, até que seja atendido por um profissional de saúde da Francisca Júlia, é de quem está acompanhando o paciente. Pode ser uma pessoa da família, um amigo, profissional da segurança pública ou servidor público de serviços de saúde do município. Esse acompanhante não pode ser liberado até que o paciente seja atendido pela Francisca Júlia e esteja devidamente assistido.
O que o hospital aconselha a população a fazer no caso de encontrar um paciente fora de seus muros?
Importante reforçar que não houve uma evasão da unidade, uma vez que a paciente ainda não estava sendo assistida pelos profissionais de saúde da Francisca Júlia e não estava sob os cuidados da UESM. A Francisca Júlia não utiliza o termo “fuga”, uma vez que toda a área de internação e atendimento emergencial é de livre acesso a pacientes e profissionais. Além disso, a Francisca Júlia preza por um atendimento humanizado, por isso o conceito de “fuga” não se aplica a pacientes, que não são pessoas fugitivas, mas pessoas que necessitam de tratamento em saúde mental. Reforçamos que não há muros no entorno do hospital.
A orientação é buscar atendimento do Samu e outros recursos municipais em saúde mental, como casa de apoio da prefeitura, bombeiros, polícia militar, para que esses profissionais capacitados encaminhem a pessoa até uma unidade de saúde mental especializada.
Apoio Social e Samu
Perguntas à Secretaria de Saúde:
– Poderia descrever o que ocorreu no atendimento à ligação feita ao Samu?
– Por que motivo o Samu não pôde atender à solicitação de resgate?
– Qual é o protocolo adotado pelo Samu nesse tipo de ocorrência?
– O que a Secretaria de Saúde e o Samu aconselham a população a fazer no caso de encontrar pessoas em estado de necessidade nas ruas? O que fazer no caso específico de pessoas com evidências de transtornos mentais?
Perguntas à Secretaria de Apoio Social ao Cidadão:
– Poderia descrever o que ocorreu no deslocamento da paciente? Quem solicitou a condução dela até o hospital?
– Onde a paciente foi entregue na chegada ao hospital?
– Quem a recepcionou e fez o acolhimento?
– Qual era a situação quando a equipe do Apoio Social deixou o hospital?
– Quando cessa a responsabilidade do Apoio Social no transporte de pacientes até unidades de saúde?
– Qual é o protocolo adotado pelo Apoio Social para o telefone 153 nesse tipo de ocorrência?
– O que a Secretaria de Apoio Social ao Cidadão aconselha a população a fazer no caso de encontrar pessoas em estado de necessidade nas ruas? O que fazer no caso específico de pessoas com evidências de transtornos mentais?
Resposta da Prefeitura em uma única nota:
“A Prefeitura de São José dos Campos tem o melhor atendimento integrado da região, com profissionais dedicados e bem preparados para acolher a população. Os serviços públicos amplamente utilizados pelos munícipes seguem os critérios de urgência e emergência para o atendimento às demandas.
Respeitando o sigilo de informações garantido pela Lei Geral de Proteção de Dados, a Prefeitura informa que a paciente em questão foi socorrida pelo atendimento social, Guarda Civil Municipal, acionados pelo CSI (Centro de Segurança e Inteligência), UPA [Unidade de Pronto Atendimento] do Putim e Saúde Mental/Hospital Francisca Júlia.”