Foto / Riotur/Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Oi, Zé!  Está pronto para o Carnaval?

Não respondi ao amigo, cuja pergunta escondia ironia, sabendo não ser eu um exato folião. Pensei logo, a resposta, porém ficou apenas na intenção:  − Sim, amigo, a poltrona de casa está ótima, a TV de tela grande formidável, uma ocasional pipoca, a companhia da mulher e da família, sem falar nas minhas sossegadas leituras.

Esse o Carnaval para a maioria silenciosa dos joseenses, dias de folga, descanso, churrasquinhos, eventuais passeios aos bons parques que a cidade possui. Sem falar nas excursões aos shopping-centers, bonitos, seguros, ar condicionado para atenuar a canícula de verão, lanchinho em conta na praça de alimentação, paquerinha dos jovens. Ainda há os barzinhos e os restaurantes.

Carnaval mesmo, além de bailes dos clubes –saudades daqueles de outrora– tem eventual decoração de rua da Prefeitura, desfiles bissextos, mas sempre a presença do valoroso bloco Engole Sapo, do Luiz Paulo Costa, hoje na batalha por patrocínio. A cidade fica uma beleza: vaziinha, sem trânsito, quem pôde e gosta foi para o litoral, montanha, ou mesmo pagou um pacote turístico. O Carnaval do joseense que ficou será assistir pela TV aos indefectíveis desfiles das escolas de samba e de rua por todo o país.

Anos atrás, outro amigo, mineirinho-joseense, fez com que três casais, eu e minha mulher inclusos, fôssemos a uma excursão ao Rio de Janeiro, para ficar no famoso Hotel Glória e assistir ao desfile das campeãs do Carnaval daquele ano.

Primeiro azar: o ônibus da excursão teve o pneu traseiro furado na altura de Resende. Lá ficamos parados, acrescentando horas na viagem. Chegamos ao célebre Hotel Glória, contudo de glórias passadas, infelizmente decadente e gasto. Dava para dormir, satisfazia, pois ficaríamos compensados com o fantástico desfile das campeãs.

Ah, enfim, chegamos ao afamado Sambódromo da Sapucaí, entramos para achar nosso lugar na arquibancada, não era nem cadeira de pista, nem muito menos camarote.

Aliás, dizem que também nesses camarotes ninguém assiste direito ao desfile, só uns dez exibidos que ficam na frente, o resto que se contente com poltronas, canapés de bebidas. Se o excesso de lotação permitir você sentar ou comer.

Voltemos à bendita arquibancada, nosso destino: um horror, e explico o porquê. Ficar sentado naqueles degraus de concreto, sem encosto, a não ser que você se esfregue nas pernas de quem está acima (até estádio hoje tem cadeiras), ninguém merece. Se fosse pelo tempo de um jogo de futebol, tudo bem, eu já aguentei isso no passado e suportaria ali. No entanto, ficar por quatorze horas assim, varando a madrugada?

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Não preciso dizer que eu e minha mulher estávamos loucos para ir embora, todavia o entorno da Sapucaí é um pouco intimidador, para dizer o menos. Dois joseenses perdidos ali, como chamar um táxi ou outra condução, sem risco? Ademais, não queríamos magoar os amigos, que pareciam entusiasmados.  As pessoas ao lado sabiam todas as letras dos enredos de cada escola, desde a décima colocada até a primeira. Teve até uma escola de samba italiana: dá para acreditar?

A primeira escola, beleza. A segunda, a terceira, na quarta já não aguentávamos mais. Entre uma e outra, intervalo grande. Compramos refrigerante, havia uns sanduiches suspeitos numa lanchonete tabajara, a fome já batendo e tome escola de samba!

Valeu a excursão pela companhia dos dois casais muito queridos. Depois disso perdemos o ímpeto de assistir a desfiles de escola de samba. Quando alguém fala nisso, temos arrepios. Na TV, na atualidade, só os bons momentos dos noticiários.

Mas não é que o mesmo impertinente amigo da onça, aquele do início deste texto, me perguntou outro dia:

− Como é, Zé?  Vamos assistir ao desfile das campeãs das escolas de samba do Rio?

Saí apressado, quase correndo, fingindo ter me esquecido de algo. E sem responder ao estafermo! Desaforo!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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