Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Nessas minhas andanças pelas ruas, deparei-me outro dia com um velho amigo. Parecia que falava sozinho e, ao abordá-lo, voltou à vida e me saudou:

− Oi Zé, quanto tempo, hein?

E foi emendando com tudo o que certos idosos gostam de falar, doenças, médicos e outras coisitas tais, constrangedoras e catárticas. Para completar, me forneceu também um panorama aleatório do ano que passou, rememorando eleições, campanhas de ódio, falsas notícias, copa do mundo, esperadas mortes de celebridades no período, desgraças climáticas e de trânsito. Com cores fortes, os feminicídios, as roubalheiras e as guerras. Não precisei nem ver as indefectíveis retrospectivas televisivas, algumas, aliás, bem tediosas.

Pensei com meus botões: prefiro me lembrar, saudoso, porém atento apenas às obras de alguns formidáveis artistas, como os cantores Elza Soares, Gal Costa e Rolando Boldrin. Quanta coisa boa e como é gratificante saborear seus frutos artísticos, sem se importar com a vida pessoal de cada um, que de resto não ponho reparo.

Choque com a sofrida morte do Edson, contudo num momento de enquadramento definitivo do gênio Pelé na história mundial do esporte e dos povos, esbaldando-me com a profusa publicação pela mídia de filmes ressuscitados e na aclamação mundial do Rei.

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Vale uma reflexão. Por que fazemos somente essas retrospectivas anuais e não aproveitamos, enquanto indivíduos, para constantes e saudáveis retrospectivas para rememorar os fatos da nossa própria vida?

Aliás, nesse passo, sugiro uma autoanálise, como indicado no início do século 20 por um médico alemão, depois refutado pelo Freud, que estabeleceu a necessidade da presença do psicanalista para realizar o que chamou de psicanálise, para cura da alma humana.

Fugindo à regra, sempre vi como muito salutar a busca dos fatos passados, encontros com os nossos traumas, removidas as resistências. Assim detectando dramas esquecidos, no mais das vezes sucedidos na infância e sem muita importância. No entanto, aboletados sorrateiramente no subconsciente, criando neuroses e sofrimento.  E, nesse processo, viver mais tranquilo, com consciência de que, pelo menos alguns de nossos grilos ficam superados por essa revelação.  Funcionou para mim de alguma maneira, embora não se possa negar a essencial ajuda de um psicólogo ou psicanalista.

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Por outro lado, nessa autorretrospectiva de vida, trazemos à consciência os bons momentos da existência −não só as tragédias, mesmo para cura– porém tudo aquilo de bom, reconfortante e feliz que todos têm guardado no fundo do baú da mente. No chamado “outro”, o inconsciente ou subconsciente. É um bom e saudável relembrar −sem se deixar escravizar pelo passado− superando momentos ruins, revivendo os bons, mas sempre a encarar o presente, dia a dia (carpe diem).

Contudo, cuidado com essa investigação positiva do passado –mesmo que possa ser útil aqui e agora–, pois inimigos solertes, determinadas pessoas, estão sempre prontos para reagir mal, como a crítica e desabusada tia Filoca:

− Pare com isso, Zezinho. Você fica escarafunchando o passado e acaba lembrando aos outros muitas coisas de que não querem nem saber mais.  O que é bom para você pode não ser tão bom para o outro. Se você falar alguma coisa da minha vida, daquelas que eu já enterrei bem enterrado lá atrás, sapeco esse chinelo em você, seu praga!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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