Antônio Brasileiro
Enfileirados ao longo da avenida,
porcos para o abatedouro.
A avenida é a principal.
Carros engarrafam.
Ao volante, de soslaio,
freia-se um pouco, observa-se.
O grunhir dos suínos e os freios dos carros
compõem uma musiquinha muito chata.
Anúncio de supermercado? perguntam-nos.
Não, só mil porcos grunhindo.
Vão morrer.
A polícia (ou os bombeiros?) é avisada,
mas não chega. Um jornalista
sorri e fotografa. Turistas
julgam ser festa (da padroeira?),
crianças assustadas, homens sérios.
E soam subitamente quatro horas.
Hípica é a tarde.
É quando de um furgão descem soldados
a metralhar os bichos
e os homens e as crianças e os turistas
e os jornalistas e os motoristas e as vidraças.
Desta janela o mundo é confortável;
não ponho a cara de fora,
só relato.
Antônio Brasileiro Borges é poeta, cordelista, professor, ensaísta e artista plástico. Nasceu em 1944 nas Matas do Orobó, no sertão baiano. Mora em Feira de Santana (BA). Dentre seus livros, destacam-se: “Dedal de areia” (poesia, 2006), “Poemas reunidos” (2005), “Da inutilidade da poesia” (ensaio, 2002), “A história do gato” (conto, 1997), “Antologia poética” (1996), “Caronte” (romance, 1995), “Licornes no quintal” (poesia, 1989), “A pura mentira” (poesia, 1984) e “Os três movimentos da sonata” (poesia, 1980). Fontes: Via Litterarum Editora e Wikipédia
> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.