Foto / SuperBairro

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Conheço São José dos Campos desde o início dos anos 1960 e observo desde essa época como os jovens buscavam o seu lazer, em palcos de flertes e namoro, diversão alegre e sadia. Quando não entremeada de boa música e danças.

No início, ainda nessa década, havia o “footing” de que hoje só os maduros se recordam. A rua fechada, a saber, a principal no centro da cidade: a Rua Quinze de Novembro. Saía-se dali do começo da Praça da Matriz, caminhava até o Jardim da Preguiça e voltava.  A moçada subia e descia, as garotas com aqueles vestidos compridos, meias soquete, os rapazes alguns de terno de linho branco, mas vestidos sobriamente, encostados ao longo das lojas fechadas.

E tome piscadela, flerte, sorrisos. Era o “point” da época, talvez volte a ser com a revitalização. Não que não houvesse os bailes, nos domingos o da Associação Esportiva São José, da Praça da Matriz.

Isso foi até 1970, quando um prefeito inusitado acabou com o footing. Talvez por considerá-lo atrasado. Pode ser que via como impedimento ao tráfego único de veículos em destino a Campos do Jordão, não havia outro acesso ou estrada. Ou ainda por achar simplesmente uma caipirice. Discordo, mas o fato é que foi extinto.

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Para onde iriam os jovens da cidade? Com a expansão súbita de São José dos Campos rumo aos bairros ditos nobres, a partir dos inícios de avenidas como a São João, a Adhemar de Barros ou a Francisco José Longo, o point migrou para o começo da Avenida Nove de Julho. Com a Doceria Marinella, a Charme e o Mezzanino, além da Padaria Nove de Julho, mais tarde o McDonald´s, formou-se o local para reunir a turminha, antes da Bossa Nova, agora do Disco Music e do roque nacional de bandas tupiniquins.

Outro “point”, beneficiado com o prolongamento da Avenida São José, foi o da Rua Luiz Jacinto, do Caipira, da Cantina da Nena, do Pub, principalmente da boate Number One. Havia ainda o concorrido Garden Music Hall, na Nélson D´Ávila. Já no Tênis Cube, o antigo salão da Rua Euclides Miragaia tornou-se também uma boate de categoria, igualmente para receber jovens da alta classe média.

Algumas ruas fizeram às vezes do “footing”, como a Nove de Julho e, por pouco tempo o chamado Pôr do Sol, a Avenida Anchieta, com uma exuberante orla do Banhado, que ficava repleta de jovens bonitos, com suas motos e carrões, além de outras coisas. Mas durou até ser invadido por outros vindos de bairros. Até que isto não afugentou a juventude elitista, que sucumbiu, porém, quando observou a presença de traficantes e ladrões.

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Difícil de entender não é, neste país chamado Belíndia, a desigualdade de renda, o abismo social, cada qual sossegado em seu mundo até que um invade o outro, escancarando as diferenças lamentáveis entre ricos e pobres. No caso, a Índia visitando a Bélgica.

Atualmente, o “point” dos jovens está no Jardim Maringá, na região da Vila Ema, no final da Adhemar de Barros e ruas circunvizinhas, como a Heitor Villa-Lobos e Madre Paula. Sem considerar os bairros, como a zona sul, virtual e bela cidade, autônoma em tudo. A moçada (também coroas) circula à noite, entre barzinhos e restaurantes.

Gastando mais que “footing”, obviamente, quando nada custava se não um sorriso e uma piscadela!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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