General diz que não estava, mas as câmeras mostram que ele estava no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Na última quarta-feira, o meu sempre talentoso vizinho de coluna aqui no SuperBairro, doutor Fourniol Rebello, abordou a dificuldade que muita gente, muita gente mesmo, tem com as novas tecnologias digitais, especialmente as pessoas com mais idade e as com menos instrução.

O doutor Fourniol tem razão. Mexer com telefone celular, microcomputador e internet –dentro dela, redes sociais como Instagram, Facebook e WhatsApp–, não é coisa para amadores. É importante dizer que a maioria dos usuários dessas geringonças sabe pouco mais que o “basicão”. Craques mesmo são poucos, muito poucos.

Eu mesmo sou um dos que não se aprofundam nos recursos dessas tecnologias. No computador, sei ligar, escrever meus textos, fazer pesquisas, buscar fotos, cortar no tamanho que eu quero e publicar no site do SuperBairro para você ler aqui. E pouco mais que isso. Outros recursos do word? Planilhas no excell, uso do photoshop para melhorar as imagens? Esquece.

E o pior é quando os fabricantes dessas coisas resolvem dar a “grande notícia” de que criaram uma versão mais moderna dos programas e aplicativos e me mandam atualizar tudo. Ou seja, o pouco que eu sabia, passo a saber menos ainda, tenho que reaprender a fazer o básico que já fazia.

Até aí, tudo bem. Como diz o ditado, “o pouco com Deus é muito”. Mas tem muita gente que não se limita a se relacionar com a tecnologia com segurança e começa a usar mais os dedos do que o cérebro. Aí é que mora o perigo. Quando menos esperam, já fizeram grandes besteiras que podem custar reputação, amizades, dinheiro e, talvez, até o “nada consta” com a Justiça.

PUBLICIDADE

Se beber, não tecle. Este deve ser o primeiro mandamento de todo usuário de celular, internet e redes sociais. Sabe quando a pessoa não tem coragem de dizer ou mostrar o que tem vontade, mas depois de uns goles a mais resolve que vai falar ou mostrar só um pouquinho? Os pecados mais comuns nesses casos: “armar um barraco” com toda a família ou com os melhores amigos; resolver dizer o que realmente pensa sobre o emprego em que está ou sobre os seus chefes; contar alguns segredinhos “bobos” que lhe pediram para nunca revelar; enviar uns nudes para a sogra pensando que estava enviando para o amor da sua vida. Já imaginou o trabalho que vai dar no dia seguinte para tentar consertar os estragos?

E tem aqueles que digitam com rapidez no celular, até com dedos das duas mãos, mas se esquecem de revisar o que foi digitado antes de enviar. É aí que o maldito corretor ortográfico –criado para ajudar– pode criar grandes confusões, trocando palavras, nomes e outras coisas. Imagine a sua mulher se chamar Maria e aquela vizinha gostosona se chamar Marisa. Aí você resolve mandar pra Maria umas mensagens apimentadas, mas o corretor muda para Marisa. Ai, ai, ai…

E os vídeos? Quantos casos já não existiram de mostrar o que não deve ser mostrado ao postar um inocente videozinho feito em casa? Exemplos: o humorista Fábio Porchat fazia uma “live” na sala de casa quando, de repente, passa ao fundo a mulher do cara, nuazinha em pelo; ou um atleta de futebol europeu, acho que espanhol, que fazia o mesmo e acabou mostrando a amante no mesmo vídeo.

E as reuniões de trabalho? Exemplos: o “intelectual” que tinha um banner de fundo com a imagem de uma belíssima biblioteca, mas o banner resolveu cair em plena exibição do vídeo; o “esperto” que acha normal colocar camisa, gravata e paletó para aquela importante reunião por vídeo, mas se distrai e, ao se levantar para fazer alguma coisa, mostra que está usando apenas cueca da cintura para baixo; isto sem falar dos “tarados” que resolvem praticar sexo durante uma dessas reuniões –acredite, isso é mais comum do que se pensa.

PUBLICIDADE

Esquecendo um pouco o celular, vamos entrar em uma outra armadilha dos tempos modernos. Quando você acha que está sozinho e, portanto, liberado para fazer o que quiser, não se engane: muito mais próximas do que você imagina estarão as câmeras de videomonitoramento. Elas estão nas empresas, nas lojas e supermercados, nas ruas e calçadas, nas estradas, nas escolas, nos hospitais… se ligue, você já é um participante do BBB e não sabia disso.

Um exemplo. O general Gonçalves Dias, que era até dias atrás o chefão do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) do governo federal, jurava de pés juntos que nem havia se aproximado do Palácio do Planalto naquele fatídico 8 de janeiro em que o lugar foi invadido por vândalos golpistas. E não é que aparecem as imagens do milico desfilando calmamente pelos corredores enquanto os “malucos” depredavam o patrimônio público? É bom lembrar que não foi captada uma imagenzinha, um flashezinho de 10 segundos. As câmeras daquele andar do palácio produziram nada menos que 160 horas de imagens contínuas. Resultado: o general caiu.

Para terminar. Como se não bastassem as regras de não beber, “fumar”, “cheirar” etc. antes de digitar, ou de não clicar “enviar” antes de se certificar do que está enviando, também nesta semana surgiu, acredite, a modalidade de “não tomar morfina antes de gravar um vídeo”. Pelo que disse o senhor Jair Bolsonaro em seu depoimento à Polícia Federal, no dia 10 de janeiro, depois de ser medicado com a tal morfina, o homem resolveu gravar. E conseguiu produzir –e enviar!– um discurso que poderá ser classificado como incitação a um golpe de Estado e terminar com a perda dos seus direitos políticos por oito longos anos.

Então, fica a dica: tomou morfina, desligue todos os aparelhos, apague a luz e vá dormir. E depois não diga que eu não avisei…

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 22 anos.

 

>> O texto foi atualizado às 14h22 do dia 28/4/23 para revisão ortográfica e correção de uma informação: o vídeo de Jair Bolsonaro foi postado no dia 10 de janeiro, e não no dia 8, como publicado no texto original.

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE