Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− A internet deu voz a uma legião de imbecis.

Assim fulminou o rabugento, mas notável escritor, filósofo, semiologista italiano, Umberto Eco, autor dos romances “O nome da rosa” e “Pêndulo de Foucault”.

Não chego a tanto, na verdade isso encontra justificativa no fato de que tanta gente lança ao mundo cretinices sem tamanho, por um canal confortável, o celular, cheio de opiniões grotescas, porém vazio de cultura e ética. Pessoas sem nenhum preparo, com precaríssimos fundamentos da língua portuguesa, se acham no direito de opinar a respeito de tudo. Como se pudessem fazê-lo com um mínimo de competência. Contudo, só se vê asnices e coices.

Navegar pela internet é uma temeridade, chega a ser irritante de tanto absurdo dito por furiosos sem freio, que acham ser possível ofender impunemente as pessoas e instituições. Daí o inconformismo do grande escritor, que −acreditem− levou pau de muita gente por falar a verdade.

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No entanto, não vou me aborrecer. Liguei a TV e resolvi, depois de umas férias, curtir o noticiário. Péssima ideia. Vi um presidente da República em palanque crônico, criticando e trombando com supostos inimigos públicos, parecendo sem rumo. Dizem que assim o faz todos os dias e o fará até o último dia de seu mandato.

Como o outro, que produzia disparates diariamente em entrevistas, atacando tanto pessoas como até instituições, inclusive jornalistas. Não diferem muito. A política, todavia, não é a minha seara, como não é o jornalismo. Prefiro navegar em crônicas despretensiosas.

Mas assunto que observei era quase todo de golpistas contra a democracia, investigações, decisões e despachos judiciais, falhas de governos anteriores, tropeços do novo, velhas práticas e velhacos de novo aboletados em seus postos. Más notícias econômicas, gastança e mais gastança, sem correspondente benefício à população. Enfim, tudo o que era antes no quartel de Abranches.

Sintonizei outros canais: mais do mesmo. Sambinha de uma nota só da mídia, como sempre. O leitor já observou que a imprensa, sobretudo a televisiva, foca e martela um assunto só, à exaustão; de repente passa para outro como se por mágica o anterior já estivesse resolvido? Imagino que isso se passe em outros países.

Não há, a meu ver, um justo equilíbrio entre os fatos importantes do mês e os outros. Com o declínio da imprensa escrita, jornais e revistas, as comunicações pioraram.

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Diria um observador atento e modernoso: − Ah, tem a internet, maravilha moderna. Mas daí me lembro da famigerada legião de imbecis. A internet serve muito para quem tem preparo, conhecimento mínimo; porém não é de grande ajuda para ignorantes, que acreditam achar resposta para tudo na enxurrada de informações, grande parte notícias mentirosas, as tais fake news.

Mas não é que peguei, outro dia, minha velha tia Filoca bisbilhotando no Google? Chegou para mim cheia de empáfia, dizendo:

− Se prepare sobrinho sabichão!  Agora que já sei mexer nessa geringonça, você não vai me enrolar mais. Vou conferir tudo o que você disser, eu vou encontrar uma resposta melhor nas minhas pesquisas e sapeco em você, estafermo!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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