Tragédia climática pode custar quase 10% do PIB gaúcho deste ano. Foto / Bruno Peres/Agência Brasil

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Estudo da CNC aponta caminhos para a recuperação; tragédia pode causar, neste ano, a redução de 9,86% do PIB do estado e 1% do PIB nacional

 

DA REDAÇÃO*

A tragédia climática no Rio Grande do Sul pode representar perdas de até R$ 58 bilhões no próprio estado e de R$ 38,9 bilhões em outras unidades da federação, com um impacto de cerca de R$ 97 bilhões na economia brasileira neste ano. Há possibilidade ainda de atingir 9,86% do Produto Interno Bruto do Rio Grande do Sul, com reflexo de até menos 1% no PIB do Brasil.

No mercado de trabalho, a tragédia causada pelas enchentes pode resultar em prejuízos de 195 mil empregos no estado e 110 mil em outras unidades da federação que, somados, correspondem a 7,19% do estoque de empregos formais no Rio Grande do Sul e 0,69% no país.

As estimativas são de estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgadas nesta quinta-feira (25).

A CNC mostra que além de atingir a atividade econômica, a tragédia tende a impactar a inflação e a dinâmica fiscal de todo o país. “O comércio, os serviços e o turismo sofrerão duramente caso as medidas mitigatórias não sejam implantadas de maneira efetiva”, alerta o estudo.

A perda diária do comércio foi estimada em R$ 5 bilhões, que representam 31,5% do previsto para maio. Na infraestrutura e no abastecimento, muito atingidos, a previsão é de queda de 28% no fluxo de veículos de carga nas estradas. Em situação de normalidade, o estado responde por 7% do volume de vendas no varejo brasileiro.  “As perdas no comércio podem chegar a R$ 10 bilhões, 5% do faturamento de 2023”, acrescentou a CNC.

Os prejuízos no turismo devem chegar a mais de R$ 49 milhões por dia, acumulando até R$ 2 bilhões de perdas até junho, e fechar o ano com impacto de R$ 6 bilhões. “O Rio Grande do Sul foi responsável por 6% do faturamento do turismo no Brasil em 2023. A perda de faturamento pode representar até 21,4% do total faturado em 2023 no estado. A infraestrutura de transporte comprometida é um grande risco, com a interrupção do fluxo de turistas por conta do fechamento do aeroporto de Porto Alegre e rodovias afetadas”, apontou a CNC.

APOIO / SUPERBAIRRO

Reconstrução

Na esteira da reconstrução da economia do estado, o estudo propõe medidas complementares ao pacote de apoio do governo federal no valor de R$ 46,1 bilhões, incluídos recursos, antecipações de benefícios e crédito.

De acordo com a CNC, as estimativas são de que o estado precisa de R$ 19 bilhões para reconstruir sua infraestrutura. “Esses esforços precisam ser complementados com outras ações”, defendeu a CNC.

Empregos

Para preservar empregos, o estudo da CNC indicou a redução proporcional da jornada de trabalho e salários; a suspensão temporária de contratos com compensação financeira; a flexibilização do trabalho remoto; a antecipação de férias e a utilização de bancos de horas.

Crédito

Na área de acesso ao crédito, a entidade destacou a necessidade de um programa de crédito público para pagamento de folha salarial, de forma a evitar o pedido de recuperação judicial ou a criação de processos jurídicos individuais por parte dos credores; renegociação de dívidas tributárias e redução a zero do spread bancário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

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Tributos

No sentido de um alívio tributário, o estudo apontou para a postergação por seis meses do pagamento do Simples Nacional e de impostos federais e a criação do Programa Perse-RS, com redução de alíquotas para o setor de turismo até 2027.

De acordo com a CNC, ao fazer as estimativas e propor medidas para a recuperação, a instituição quer orientar a retomada econômica do Rio Grande do Sul e minimizar os impactos negativos da tragédia climática.

“A rápida implementação das medidas de auxílio é muito importante para evitar efeitos prolongados e danos adicionais à economia gaúcha e à brasileira como um todo”, defendeu o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

No entendimento do presidente do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac-RS e 2º vice-presidente da CNC, Luiz Carlos Bohn, é preciso que as medidas tenham um viés de resiliência.

“O Rio Grande do Sul passou por uma tragédia histórica, com perdas que não se restringem apenas ao momento atual. Muita infraestrutura e muito capital privado de famílias e empresas foram destruídos. Para amenizar as perdas futuras, é necessário auxiliar todos que foram atingidos direta e indiretamente no estado e, fundamentalmente, garantir que isso jamais se repita nas proporções vistas recentemente”, afirma.

Para o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, “a reconstrução do Rio Grande do Sul exigirá esforços contínuos e investimentos substanciais para restaurar a economia e os empregos perdidos”.

 

*Com informações da Agência Brasil.