Foto / Facebook/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O Brasil está entrando no período de uma campanha eleitoral que irá substituir prefeitos e vereadores de mais de 5.500 municípios. Já imaginou quanta gente está envolvida na luta pelo voto? É muita gente.

Quando a gente pensa em campanha eleitoral vem a ideia de uma ampla discussão dos problemas e soluções para cada uma dessas mais de 5.500 cidades. Porém, quando você dá uma olhada no marketing eleitoral dos dias atuais, não entende nada. Porque o que menos acontece é o debate de ideias, a busca de soluções.

O político antigo era sério. Aliás, como se diz da mulher de César, não bastava ele ser sério, tinha que parecer sério. Na República Velha, somente os trajes, gravatas, colarinhos e casacas já davam um ar senhorial a quem os usava. Some-se a isto as barbas generosas, com bigodes e cavanhaques cuidadosamente arrumados, para criar um ser humano acima de qualquer suspeita.

Exemplos? Marechal Deodoro da Fonseca, Prudente de Morais, Campos Sales, o guaratinguetaense Rodrigues Alves, todos da República Velha. Quer voltar um pouco mais no tempo? Veja D. Pedro II, que rendeu até um livro intitulado “As Barbas do Imperador”. Sugiro uma visita ao Google, digitando os nomes acima, e você vai me dar razão. Não parecia gente de carne e osso, pareciam estátuas imponentes.

Após a Revolução de 30, veio o gaúcho Getúlio Vargas revezando-se entre a farda militar de ocasião, as bombachas de estancieiro e os ternos bem cortados, um símbolo de seriedade e comprometimento com o povo.

Dali em diante, tivemos alternâncias entre militares sedentos de poder, como Eurico Gaspar Dutra, brigadeiro Eduardo Gomes, marechal Henrique Teixeira Lott, e civis também candidatos a estadistas, como Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda, Jânio Quadros, e por aí afora, todos cuidadosos com a pose e o traje.

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Aí vamos fazer um breve desvio nesse raciocínio para dizer que, logicamente, “o hábito não faz o monge”, como diz o famoso ditado, significando que não bastava ao religioso usar a vestimenta adequada, mas era necessário ter o espírito do monge, austero, abnegado e desapegado das coisas materiais.

Nesse caso, temos que reconhecer que, apesar da pose, muitos desses políticos de antigamente não suportavam uma breve análise para terem os seus pequenos e grandes defeitos escancarados. Sugiro a quem gosta do tema a leitura do “Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes da República”, de Paulo Schmidt. (Editora Leya, 2016). O autor não perdoa quase nenhum deles.

Mas esta crônica não trata desses desvios de conduta, o objetivo é discutir o lado simbólico da figura do político brasileiro. Definitivamente, o tipo ideal de representante do povo mudou. Nada daquelas caras de cansados de um Ulysses Guimarães ou um Tancredo Neves, nada da careca lustrosa e conformada de um Magalhães Pinto, nada disso. O leiaute mudou.

E por que mudou? Ora, porque o marketing político e o eleitoral passaram a ganhar a cada dia mais espaço na política brasileira –e mundial, é claro. Vou arriscar aqui que uma das primeiras campanhas eleitorais em que o candidato se adaptou ao perfil traçado pelos marqueteiros –e não o oposto, como ocorria antes–, foi a de Fernando Henrique Cardoso para presidente, em 1994.

Eu me lembro bem que FHC era mostrado, em filmes com qualidade de cinema, como uma espécie de semideus: camisas imaculadamente brancas sem um vinco sequer, gravatas perfeitas, ternos de corte clássico sob medida. E o homem aparecia em um grande salão em que “trabalhavam” especialistas em todas as áreas imagináveis, todos eles dando ideias geniais que Fernando Henrique iria colocar em prática para mudar o Brasil.

A campanha de FHC foi um sucesso –ele foi eleito no primeiro turno– e foi um dos marcos do surgimento ou fortalecimento daqueles seres mágicos e míticos que faziam a glória ou a ruína dos candidatos: os marqueteiros.

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De lá para cá, penso que nunca mais um candidato a um posto razoavelmente importante deixou de usar as ferramentas do marketing político, nas quais têm importância fundamental as pesquisas de opinião pública. Outro dia comentei em uma outra crônica que o candidato moderno não diz o que pensa para conseguir o seu voto, ele prefere saber antes o que você pensa por meio das pesquisas para, aí sim, dizer exatamente o que você quer ouvir.

Voltando à questão da figura do candidato nos dias de hoje, percebi que a mudança de perfil ganhou uma velocidade espantosa. Hoje, seriedade, erudição, inteligência, elegância, fineza, formação acadêmica parecem ter perdido completamente a importância. Hoje, o fundamental é que o candidato apareça como um cara legal.

E o que é uma cara legal? É um cara brincalhão, que sabe contar piada, cantar, dançar, rebolar, usar roupinhas agarradinhas… É aquele cara que você encontra na rua e, em vez de apertar a mão, dá aquele soquinho com o punho fechado, só faltando perder o respeito de vez e soltar um “e aí, mulek?”.

A campanha para prefeito de São José dos Campos, que está começando, será um bom laboratório para a gente entender quem está certo nessa composição da persona de um candidato. Já deu para perceber que teremos os candidatos Anderson e Dr. Elton dispostos a tudo para compor o tipo “moderno”. Em contraposição, até agora, o candidato Eduardo Cury não parece muito disposto a sair de uma moldura “clássica” tradicional.

Os demais candidatos –Wagner Balieiro, Toninho Ferreira e Wilson Cabral– também parecem bem-comportados. Mas ninguém sabe o que pode acontecer até outubro. A foto que ilustra esta crônica, por exemplo, mostra o petista Balieiro entrando no modo engraçadinho, mas quem o conhece tem dúvidas de que ele se sinta bem nesse papel.

Convido você a entrar nessa espécie de BBB dos candidatos criados pelo marketing político. O modelo vencedor vai ser o do modernão desinibido ou o do clássico comportadinho? Como se dizia na velha política, “quem viver, verá”.

E quem sabe ainda sobre algum tempo para esse pessoal falar de programa de governo, essa coisa tão fora de moda nos dias de hoje.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 48 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 23 anos.