─ Amigo, você que é daqui de São José dos Campos, pode me indicar um hospital para eu internar minha mãe? Ela tem uma doença grave.
Respondeu o joseense, um tanto gozador:
─ Leve ao Hospital Dutra, na ambulância Marron.
Diante da minha perplexidade, explicou melhor:
─ A rodovia Dutra, companheiro, ela leva você e sua mãe até São Paulo com os ônibus Pássaro Marron. Aqui não tem bom atendimento, nem médicos.
Evidente exagero e mesmo injustiça, ao menos com respeito aos médicos. Porém, verdade é que São José dos Campos naquele 1964, só tinha três hospitais dignos desse nome: a Santa Casa de Misericórdia, o Nossa Senhora de Fátima e o Hospital Pio XII, em Santana.
Havia sanatórios para tuberculosos, como o grande Vicentina Aranha, o israelita Ezra, o da Cruzada de São José, o Vila Samaritana, o Maria Imaculada, o Antoninho da Rocha Marmo, para crianças. Isso além das inúmeras pensões ainda em funcionamento, mas declinando, como os sanatórios, grande parte na Rua Engenheiro Prudente Meirelles de Morais. O declínio desse tipo de tratamento ao chamado mal dos poetas se devia aos antibióticos, no caso específico, da estreptomicina.
O quadro geral, na realidade, era de insuficiência de hospitais, embora o CTA (DCTA) e algumas grandes multinacionais tivessem instalações próprias.
Isto não significa que São José não tivesse bons médicos. E não se está falando nos excepcionais e antigos facultativos, como Mário Galvão, Ivan de Souza Lopes e os notórios Rui Rodrigues Doria e Nelson Silveira D´Ávila, sem se esquecer do mais antigo, o italiano João Guilhermino.
Sobressaíam os doutores Campoy, Carlino Rossi, Leopoldo Froes, o afável Fausto Ivan Pinheiro Villas-Boas, o excepcional pediatra Frediano Bianchi, o não menos prestigiado doutor Nilton. Tinha ainda o Maurício de Freitas e, de famílias conhecidas na cidade, Othon dos Santos Mercadante, Ayres Vianna, pai de outros médicos, Décio Lemes Campos e Terezinha Veneziani, a primeira mulher médica de São José. Destacavam-se o doutor Ricardo (do cachimbo), bem assim os muito humanos Fauze Métene e José de Castro Coimbra, também políticos de gabarito. No CTA (DCTA), reinava o simpático Ivan Teixeira, além desses dois últimos citados, acompanhado pelo Adelmo de Oliveira.
Notável geração dos médicos: Rubens Savastano, Luiz Daher, Jackie Maroni, João Reis Quaglia, Carmen Pricolli Quaglia, ligados ao Lions Club de São José dos Campos, então único.
Como não se lembrar do Ciro Guimarães, dos partos, Moacir Prestes, além dos notórios Jorge Cury e Maurício Cury, filhos do estimadíssimo Fuad Cury, cujo neto Eduardo foi prefeito anos depois. Também Amaury Louzada Veloso, Moacyr Prestes, Orlando Feierabend, Jorge Zarur, cujo filho igualmente é médico. O inverso foi Faustino Nelson D´Ávila, filho daquele famoso D´Ávila, muito honrando o pai. Anoto ainda os nomes de José Maimone Neto e Otávio Del Nero, bem como os doutores Isaias e Dellias.
Finalmente, a cidade tinha José de Carvalho Florence e Farid Jorge, ortopedistas, são os que me recordo, havendo mais ilustres médicos.
Nunca acreditei inteiramente nos boatos acerca de negligências médicas e maus tratos. Teriam resultado algumas infelizes vítimas, que foram ficando por aí sem braço, sem perna, sem dedo. Talvez fatalidades. Hoje, assunto superado.
O certo é que, como se viu, São José tinha um bom time de médicos, outros vieram a tornar a cidade, com modernos hospitais, uma referência na região.
Portanto, amigo, não vá mais ao Hospital Dutra!
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.
*Republicação. Crônica publicada originalmente no SuperBairro no dia 14 de setembro de 2022.