Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Bateram à porta, cedo, no último dia de outubro, fui atender. Eram crianças fantasiadas para o Dia das Bruxas, o tal de Halloween, que antecede o Dia de Todos os Santos.

− Doçura ou travessura? Gritaram alegremente as crianças. Dei algumas balas.

Tradição importada dos americanos, já está bem enraizada no país, principalmente pelo seu apelo comercial. Vende-se bem, alegra a todo mundo.

A todos, não exatamente. A tia Filoca, por exemplo, é contrária à celebração, ela mesmo sendo uma certa bruxa quando enraivece. O que parece sempre acontecer:

− Não me venham com essa pulha de Halloween que para mim não pega. É coisa de gringo! Querem ganhar dinheiro às nossas custas! Se pedirem doces, jogo água, a bacia já está pronta!

Por falar em bruxas, na vida real já vi muitas. Afinal, quem já não teve de conviver com uma na sua existência? Diga você, leitor.

A primeira que tive de aturar –verdadeira exceção à lenda da amada professorinha– foi minha primeira e rabugenta mestre do primeiro ano de grupo escolar. Uma bruxa, eu bonzinho e ela me deixando injustamente sem recreio. Não esqueci.

Já no ginásio, outra bruxa, personificada na professora de matemática, maldosamente chamada pelos alunos de Fidel Castro, porque tinha uns pelos no queixo e no buço. Admito que ensinasse muito bem, mas era duríssima, exigente nos pormenores, pródiga em zeros e expulsões de classe. Os jovens de hoje não conseguem imaginar o nível de braveza da fera.

APOIO SUPERBAIRRO

Em dias mais recentes, não me livrei delas. Minha vizinha −não digo quem, nem onde ou quando− era a rainha das bruxas. A meninada a chamava de Bruxa do 71, em alusão ao seriado do Chaves, de que tive superdose anos atrás com a minha primeira neta. A bendita implicava com tudo, brigava por nada com os vizinhos, punha sal grosso na roda dos carros que ousavam estacionar na frente de sua casa. Amalucada e de mal com a vida, falava alto, com sua voz desagradável, parecia curtir a antipatia.

Como se vê, não precisam as bruxas de um dia especial, elas estão aí −bruxos também, gente− para infernizar nossa vida à vontade. Basta ver muitas sogras –o que não é o meu caso, ressalvo. Nós mesmos, ocasionalmente que seja, podemos representar esse papel. E bruxaria é que não falta na política nacional e mesmo nas instituições.

A tia Filoca, como não podia deixar de ser, assustou as crianças com sua cara enfezada e hostil.  Mas não é que esse protótipo de bruxa não mostrou a sua humanidade debaixo da sua capa de durona? Eu sabia.  Escondido, comprou uns doces para dar às crianças. Depois, disfarçou:

− Não pensem que eu mudei de ideia, não! É que fiquei com um pouquinho de pena da criançada. Mas não me venham com travessuras e outros mais que o chinelo canta!

 

> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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