Já está aí a Black Friday, época de ofertas maravilhosas, tevês, fogões, geladeiras, laptops, livros, roupas, enfim, tudo o que o consumidor está ávido por comprar, a preços supostamente baixos, mercadorias baratíssimas.
Só que não, gente, você sabe disso. Não digo que não haja nenhuma oferta, mas, verdadeira, difícil. Grande parte não é friday, mas fraude mesmo. O comerciante joga os preços lá em cima um mês antes e no dia da oferta tira pouco, de modo que sua redução não é honesta, vende por preço comum, enganando o consumidor.
Tia Filoca sempre diz nessas ocasiões:
− Já começou a enganação! Comigo não, Bastião! Não me enganam. Vejo o preço de tudo um tempo antes. Se for redução mesmo eu posso até comprar. Dá vontade de sentar a vassoura na cabeça desses safados. Pensam que todo mundo é trouxa!
Aliás, fraude parece ser a especialidade deste país. O governo, por exemplo, colabora ativamente. Cria benefícios de uma maneira que já dá ensejo a fraudes. Criou bolsa família, fraude à beça. Agora um tal BPC (Benefício de Prestação Continuada), que para receber basta se cadastrar e já sai recebendo. Uma maravilha, para os fraudadores. Péssimo para nós contribuintes.
Vi agora na televisão fraude no bilhete único, criminosos sem medo vendendo no metrô carregamento de cartões em valor superior por preço menor. Por um software para acabar com a fraude pagou-se vinte e cinco milhões de reais. Depois houve desistência.
Na Previdência Social, milhões vão para os bolsos de fraudadores. Ou seja, tudo é fraudado, os déficits se acumulam e a solução é o covarde aumento de impostos, ao invés de eficiência na fiscalização.
Será que a fraude está no DNA do brasileiro? Ou mesmo do ser humano? Engana-se, simula-se, dissimula-se, é demagogia, mentira, engodo o tempo todo.
Verdade é que em nossa vida também sempre temos nossa trapaça. Não? Pois sim. Não é certo que todo mundo engana em termo de namoro e casamento? Sim, você quer vender sua mercadoria, parecendo melhor, mais bonito, educado, certamente será bom pai e marido (ou mulher). Esconde seus defeitos e vícios, parecendo bonzinho, prestativo, amoroso, para depois do casamento mostrar suas garras.
Essa espécie de fraude é acolhida pela sociedade. Os franceses dizem que “en marriage trompe que peut“. Ou seja, engana-se o que se pode em tema de casamento. Se o que foi escondido, dissimulado, não for essencial, é vida que segue. Não cabe anulação.
Parece que com isso não concorda a rabugenta tia Filoca:
− Por isso que eu não me casei! Antes de casar, é benzinho pra cá, amorzinho pra lá, um primor de polidez, flores e outras lorotas mais. Depois, já se sente à vontade e aí começam as grossuras e egoísmos. E o bendito vai logo querendo pôr as manguinhas de fora, arrumando uma filial. Fosse comigo, eu já dava o cartão vermelho, se não cortava….
Calma, tia, não seja radical. Dá até um frio na espinha!
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.