Alexandre de Moraes liga atentado a “gabinete do ódio” e diz que ato reforça a necessidade de eliminar qualquer possibilidade de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro
DA REDAÇÃO*
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos Rodrigues, disse nesta quinta-feira (14) que as explosões registradas na noite de quarta-feira (13) em Brasília não representam “fato isolado” e que a unidade de investigação antiterrorismo da corporação já foi acionada para auxiliar nos trabalhos.
“Quero, inicialmente, fazer um registro da gravidade dessa situação que enfrentamos ontem. Tudo isso aponta que esses grupos extremistas estão ativos e precisam que nós atuemos de maneira enérgica –não só a Polícia Federal, mas todo o sistema de Justiça criminal”, afirmou, completando: “Entendemos que esse episódio de ontem não é um fato isolado, mas conectado com várias outras ações que, inclusive, a Polícia Federal tem investigado em período recente”.
Durante coletiva de imprensa na sede da corporação em Brasília, Passos disse ainda que já determinou a abertura de inquérito policial e o encaminhamento do caso ao Supremo Tribunal Federal (STF) diante das hipóteses de atos que atentam contra o Estado Democrático de Direito e de atos terroristas.
Polícia retira o corpo
A Polícia Civil retirou o corpo de Francisco Wanderley Luiz da Praça dos Três Poderes às 9h desta quinta-feira. Conhecido como Tiu França, ele era de Rio do Sul (SC) e morreu na noite anterior ao detonar explosivos em frente ao prédio do STF, por volta das 19h30. Seu corpo ficou cerca de 13 horas no local, enquanto a equipe de perícia trabalhava.
Durante a madrugada, o esquadrão antibombas da Polícia Militar (PM) do Distrito Federal fez uma varredura no local e encontrou mais três dispositivos, que foram desativados para garantir a segurança dos agentes que trabalham na investigação da ocorrência, a cargo da Polícia Federal e da Polícia Civil do DF. O local foi liberado para a perícia às 7h da manhã. Os prédios do STF e do Palácio do Planalto também foram vistoriados durante a noite.
PF estuda o ataque
Peritos criminais da Polícia Federal vão investigar as explosões com estratégia semelhante à reconstrução de cenário na identificação dos crimes de 8 de janeiro do ano passado, quando os prédios da Praça dos Três Poderes sofreram ataques golpistas.
Vídeo das câmeras de segurança do STF mostram Francisco atirando artefatos explosivos em direção à escultura “A Justiça”, que fica em frente ao prédio da Corte e, em seguida, acendendo outro no próprio corpo. Momentos antes, o carro do homem também explodiu no estacionamento próximo ao Anexo IV da Câmara dos Deputados.
Entre os primeiros procedimentos no local estão a identificação de todos os vestígios, além de um levantamento das imagens da área com ferramentas tecnológicas 3D a fim de compreender, em detalhes, a dinâmica do ataque.
Os estrondos das explosões foram ouvidos ao final da sessão que ocorria no plenário do STF e os ministros da Corte foram retirados do local em segurança. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não estava no Palácio do Planalto no momento do ocorrido. Ele deixou o local por volta das 17h30.
PM encontra mais explosivos
A Polícia Militar do Distrito Federal informou ter encontrado artefatos explosivos no local onde Francisco Wanderley Luiz estava hospedado, em Ceilândia, região administrativa a cerca de 30 quilômetros do centro de Brasília.
A PM segue fazendo varreduras na casa e no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados, onde estava o carro de Francisco. Os agentes estão fazendo a detonação controlada dos explosivos encontrados no carro.
Moraes liga a ‘gabinete do ódio’
O atentado cometido nas proximidades do Supremo Tribunal Federal teve como fonte de estímulo, segundo o ministro Alexandre de Moraes, a polarização política instalada no país nos últimos anos e o “gabinete do ódio” montado durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
“O que ocorreu ontem não é fato isolado do contexto. Queira Deus que seja um ato isolado, mas, no contexto, é algo que se iniciou lá atrás, com o famoso gabinete do ódio destilando discursos de ódio contra instituições, Judiciário e, principalmente, o STF. Contra as pessoas dos ministros do STF e os familiares de cada um dos seus ministros. Isso foi se avolumando, agigantando, aumentando o descrédito nas instituições, resultando no 8 de janeiro”, disse o ministro.
O “gabinete do ódio” citado por Moraes é o nome dado ao núcleo de auxiliares e assessores de Bolsonaro que, segundo as investigações da Polícia Federal, teria o objetivo de espalhar notícias falsas e ataques a adversários durante a gestão do ex-presidente.
De acordo com Moraes, o atentado cometido pelo ex-candidato a vereador pelo PL reforça a necessidade de eliminar qualquer possibilidade de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro contra as sedes dos Três Poderes, bem como a necessidade de regulamentação das redes sociais.
PL repudia atentado
O Partido Liberal manifestou repúdio contra os atentados a bomba. O autor foi ex-candidato pelo PL ao cargo de vereador do município de Rio do Sul. A manifestação veio tanto do diretório nacional do partido como da regional de Santa Catarina.
“Reiteramos que o PL repudia veementemente qualquer tipo de violência e reafirma seu compromisso com os valores democráticos. Reforçamos ainda que ataques a instituições públicas vão contra os princípios defendidos pelo partido”, disse o PL nacional, afirmando ter confiança nas investigações judiciais.
Em outra nota, o diretório regional do partido em Santa Catarina reafirmou sua posição contrária a “qualquer ato de violência que fira pessoas ou ameace as instituições democráticas. Defendemos firmemente o equilíbrio entre os poderes da República. Nossas bandeiras sempre serão pautadas na defesa da democracia”.
*Com informações da Agência Brasil.