Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

− Querida, já é novembro. Você ainda não colocou as luzinhas de Natal na fachada? A vizinha de frente saiu na sua frente!

Há décadas minha mulher e a vizinha competem para saber quem instala a primeira iluminação de Natal. É um tal de colocar luzes da fachada, armar a tradicional árvore, guirlandas nas portas, bonecos do Papai Noel –os mais variados, tem um que desce por uma corda, na janela. Outro, um casal com o velhinho e a esposa dançando graciosamente, lindos bonecos. E eu não sabia nem que ele era casado… As crianças adoram, nós também, são enfeites para todos os lados, mas com cautela para evitar a cafonice do excesso.

Certo é que tal é uma importante festa religiosa, o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, podendo significar também o renascimento da nossa fé.

Mas o bendito Papai Noel não é exatamente o verdadeiro São Nicolau, eu diria que é, sim, um vovozinho bonachão, porém pagão. O santo nasceu na Grécia, em Patras, no século III. Portanto, extremamente diferente da imagem e da historinha que envolvem o atual bom velhinho.  O santo nada tem a ver com o Papai Noel, cuja imagem ficou definida pela Coca-Cola no século XX.

O mito desse Natal sobretudo comercial foi criado ou ganhou importância no século passado, baseado na figura pitoresca e simpática desse velhinho vestido de vermelho, óculos e barbas brancas como a neve, aquele vovô querido. Aliás, é lá na Finlândia, na Lapônia precisamente, que ele mora −um frio de doer− com seus duendes laboriosos, as renas que puxam o seu trenó voador, a fábrica de brinquedos.

Embora sejam coisas pagãs, nada contra. Ao inverso, tratam da bondade desse velhinho, do seu carinho pelas crianças, conquanto o apelo comercial esteja por trás. São enfeites, um mais bonito que o outro, além de filmes e propagandas televisivas, um bombardeamento diário nos nossos sentidos. Mas vão dando o clima do Natal, a fantasia gostosa que tantos aguardam ano a ano.

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Reconheço que não são todos que gostam. Alguns têm traumas, ou porque não receberam presentes ou outra coisa ruim acontecida. Já contei em crônica que certa vez surpreendi um rapaz mal vestido parado em frente a um desses bonecos de Papai Noel de loja, em tamanho natural, desses que tocam música e movimentam os braços e a cabeça. Ele estava bravo, gente! Vociferava de dedo apontado para o atarantado boneco. Escutei algumas frases como estas:

− Você nunca me deu nada!  Você não existe. Eu queria um brinquedo e não ganhei nada!

Outra que não é muita entusiasta do Natal é a mal-humorada tia Filoca. Quando viu as primeiras decorações, já foi logo dizendo, na sua rabugice:

− Ih! Já vem essa marotagem natalina. Tudo isso é para ganhar dinheiro! O meu não! Já vou avisando: não quero presentes e não dou nada pra ninguém! A não ser esmola na igreja e reza para o Menino Jesus.

Menos, tia. São momentos de magia, de encantamento, que não impedem as práticas religiosas. Atenuam as durezas da vida, indicam o início das férias. Eu também deixo claro: não abro mão de presentes, não.

 

José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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