Ilustração / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Há cerca de duas semana, terminei de ler o romance histórico “O Bom Alemão”, de autoria do norte-americano Joseph Kanon. Gostei. Combina história e suspense, na Berlim devastada logo após o final da 2ª Guerra Mundial.

A questão principal que o livro aborda é tentar entender onde estavam os bons alemães, que existiam, é claro, durante a ascensão de Adolph Hitler ao poder e todas as barbaridades que se seguiram. Será que a maioria silenciosa do povo alemão não percebeu a loucura contida nas ideias expansionistas de dominação do mundo, na insanidade de querer exterminar toda a raça judia do planeta?

A Humanidade viu o que aconteceu. Ao preço de 50 milhões de mortos, os sonhos de Hitler foram sepultados e o mundo sente até hoje os efeitos do maior conflito da História. E ficou também para a História a falta de lucidez e reação de um povo que poderia ter ao menos tentado deter o monstro de bigodinho esquisito lá nos seus primeiros passos.

Longe de mim querer responsabilizar todo o povo alemão da época pelos atos de Hitler e dos seus seguidores. Porém, o que o livro quer demonstrar –e eu concordo com ele– é que houve, durante a chegada do nazismo ao poder, um anestesiamento das consciências, uma falta de atitudes, a entrega de um cheque em branco para Hitler colocar o seu projeto de poder. E deu no que deu.

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Longe de mim, também, querer comparar o passado com o presente. Mas é fundamental que nós tenhamos aprendido, com aquele passado, o que fazer para evitar novas tragédias. Não dá para ficar assistindo aos acontecimentos e não reagir de alguma forma, seja na crítica, seja no voto.

O mais que conhecido Donald Trump está chegando pela segunda vez ao poder na nação mais poderosa do planeta, os Estados Unidos. Já tivemos uma amostra suficiente do que ele é capaz de fazer para se manter no poder. E de como pode afetar toda a ordem política e econômica mundial com suas ideias malucas. Mesmo assim, o homem foi eleito para um novo mandato.

E chegou chegando. Falando em um estranhíssimo “interesse” por Canadá, Groenlândia e canal do Panamá. É isto o que você leu. Sem querer comparar, mas o nazista Adolph Hitler também chegou falando em um tal “espaço vital” para a expansão do território alemão e sua ocupação pela raça ariana. Deu no que deu.

Estou dizendo aqui que Trump pode ser um novo Hitler? Não. Trump é Trump, Hitler foi Hitler. Estou dizendo que os bons norte-americanos –e os bons democratas de todo o mundo– não podem fizer anestesiados quando um sujeito resolve falar de outros países como se estivessem ameaçados de invasão pela nação mais poderosa do mundo.

É preciso reagir a essas insanidades quase que em tempo real. A resposta a Trump deve ser dada energicamente pelas nações, pelas instituições como a falida ONU, pelas religiões e pelas populações capazes de raciocinar.

APOIO SUPERBAIRRO

Já deu para perceber uma antes impensável transferência de poder para grandes corporações comandadas por biliardários como Elon Musk –e agora o espertinho Mark Zuckerberg– abrindo seus cofres e suas poderosas redes sociais para o louco Trump. E nós aqui conversando fiado no X, Instagram e Facebook, achando que eles são apenas um espaço para diversão.

Alguns dirão: “Deixa de ser bobo, o Trump está só blefando para defender os interesses dos Estados Unidos”. E o bobo vai responder: “O bobo aqui não dorme tranquilo enquanto um cara blefa sentado sobre o maior arsenal de armas nucleares do planeta”.

Longe de mim também querer mostrar este artigo daqui alguns anos e me vangloriar com um “eu não disse?”. Pelo contrário. Desejo que no futuro próximo vocês possam dizer: “A era Trump passou e aquele medroso do Wagner Matheus estava errado”. Ufa, que alívio…

Enquanto isso, espero que os bons norte-americanos e os bons cidadãos de todo o mundo não percam o senso crítico, não engulam discursos megalomaníacos e pensem no futuro da Humanidade. Coisa que os bons alemães não fizeram quando deveriam ter feito.

 

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 49 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 24 anos.