Violeta Parra
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Depois de viver um século
É como decifrar sinais.
Sem ser inteligente competente
Voltando a ser de repente
Tão frágil quanto um segundo
Sentindo profundo de novo
Como uma criança diante de Deus
Isso é o que eu sinto
Neste momento fecundo
Se vai enredando, enredando
Como, na parede, a hera.
E vai brotando, brotando
Como o musguito na pedra.
Como o musguito na pedra.
Sim, sim, sim, sim
Meu passo recuado
Quando o de vocês avança
O arco das alianças.
Penetrou no meu ninho.
Com todo o seu colorido
Ele tem andado nas minhas veias
E até a corrente dura
Com que o destino nos amarra
É como um diamante fino.
Que ilumine minha alma serena
Se vai enredando, enredando
Como, na parede, a hera.
E vai brotando, brotando
Como o musguito na pedra.
Como o musguito na pedra.
Sim, sim, sim, sim
O que o sentimento pode
Ele não pode saber
Nem o mais claro procedimento
Nem o mais largo pensamento
Tudo muda no momento
Qual mágico condescendente
Nos afasta docemente
De ressentimentos e violência.
Apenas amor com sua ciência.
Torna-nos tão inocentes
Se vai enredando, enredando
Como, na parede, a hera.
E vai brotando, brotando
Como o musguito na pedra.
Como o musguito na pedra.
Sim, sim, sim, sim
O amor é turbilhão
De pureza original
Até o animal feroz
Sussurra seu doce trino
Pare os peregrinos.
Liberte os prisioneiros.
Amor com seus esmeros
O velho torna-o criança.
E o malvado, só o carinho.
Torna puro e sincero.
Se vai enredando, enredando
Como, na parede, a hera.
E vai brotando, brotando
Como o musguito na pedra.
Como o musguito na pedra.
Sim, sim, sim, sim
De par em par, a janela
Abriu como por charme.
O amor entrou com seu manto
Como uma manhã quente
Ao som da sua bela Diana.
Fez brotar o jasmim
Voando qual serafim
Pôs brincos no céu
E meus anos em dezessete
Os transformou o querubim.
Se vai enredando, enredando
Como, na parede, a hera.
E vai brotando, brotando
Como o musguito na pedra.
Como o musguito na pedra.
Sim, sim, sim, sim
Violeta del Carmen Parra Sandoval foi cantora, compositora, artista plástica e ceramista, considerada a mais importante folclorista e destaque da música popular chilena. Nasceu em 4 de outubro de 1917, em San Carlos (Chile) e morreu em 5 de fevereiro de 1967, em La Reina (Chile). Fonte: Wikipédia
> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.