Belchior
Quando eu cantar
Quero ficar molhado de suor
E por favor não vá pensar
Que é só a luz do refletor
Será minha alma que sua
Sob um sol negro de dor
Outro corpo, a pele nua,
Carne, músculo e suor
Como um cão que uiva pra lua
Contra seu dono e feitor
Uma fera-animal ferido
No dia do caçador.
Humaníssimo gemido
Raro e comum como o amor.
Quando eu cantar
Quero lhe deixar
Molhada em bom humor
E por favor não vá pensar
Que é só a noite ou o calor
Quero ver você ser
Inteiramente tocada
Pelo licor da saliva
A língua, o beijo, a palavra.
Minha voz quer ser um dedo
Na tua chaga sagrada
Uma frase feita de espinho
Espora em teus membros cansados
Sensual como o espírito
Ou como o verbo encarnado
Antônio Carlos Gomes Belchior, mais conhecido como Belchior, foi cantor, poeta, compositor, músico, produtor, artista plástico e professor. Nasceu em 26 de outubro de 1946, em Sobral (CE). Belchior foi um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira. Em 1974, lançou seu primeiro álbum, mas foi com o segundo disco, “Alucinação”, de 1976, que emplacou sua carreira com hits como “Velha Roupa Colorida” e “Apenas um Rapaz Latino-Americano”. Morreu em 30 de abril de 2017, em Santa Cruz do Sul (RS). Fontes: Wikipédia e Google
> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.