WAGNER MATHEUS
A empresária Valéria Verdi Macedo mantém há 30 anos um dos negócios comerciais mais tradicionais da região do SuperBairro. A Torteria Haguanaboka começou na região e, devido ao sucesso de suas tortas doces e salgadas, doces, bolos, sorvetes e outras delícias, hoje possui duas lojas próprias e três franqueadas.
Além de um caso de amor com seu negócio, Valéria também é apaixonada pelos bairros da região, onde mora desde os 15 anos de idade. “Sou bairrista”, confessou, dizendo que adora sair a pé para fazer compras no comércio ou ir aos seus restaurantes preferidos.
A empresária recebeu o SuperBairro em sua loja da avenida Nove de Julho, que está, como o comércio em geral, trabalhando com delivery e drive-thru nesta fase da pandemia. Trajava um elegante vestido preto. “Sempre uso roupas de cores alegres, mas o estranho é que hoje só me senti à vontade usando preto, acho que isto simboliza o momento que nós estamos vivendo.”
Valéria falou de sua relação com a região, do desafio de manter seu comércio, fez críticas a algumas medidas do governo e avisou: “Se for preciso, recorro a crédito, mas vou lutar. Decidi que não vou falir, não vou fechar, pois isto aqui é a minha vida”.
Veja os principais momentos da conversa com Valéria Verdi.
Qual é a sua relação com a região do SuperBairro?
Sempre morei nesta região, desde os 15 anos de idade. Morei na Adhemar de Barros, em frente à Padaria Pão de Queijo [Jardim São Dimas], morei na Rua Esperança [Vila Icaraí], morei no edifício Terra Brasilis [Vila Betânia], até que viemos para o Jardim Apolo. Meu marido queria sair do apartamento para uma casa térrea, por isso optamos pelo Apolo, para não deixar a região. Sou bairrista, não abro mão da minha qualidade de vida.
De que mais gosta aqui?
Acho que o mais gostoso desses bairros é que eles mantêm características provincianas, apesar de nós estarmos em uma grande cidade. Tudo é perto, supermercado, padarias, os melhores restaurantes, especialistas médicos… Sempre que posso, vou a pé para fazer comprar ou comer em restaurantes.
Como começou a Haguanaboka?
Eu era professora na rede municipal, mas não me senti bem naquela carreira e acabei pedindo exoneração. Sem emprego, comecei a pensar no que iria fazer. Lembrei que sempre gostei de cozinhar, adoro ficar entre panelas, forno e fogão. Como minha mãe, dona Miltis, hoje com 82 anos, também gostava, acabamos fazendo uma parceria. Fazia de tudo um pouco: vendia, produzia, entregava, administrava.
Minha primeira loja foi montada na avenida Adhemar de Barros, onde hoje existe uma lavanderia. Ficamos dois anos lá, até que viemos para a Nove de Julho, onde estamos há 28 anos. O ponto ajudou muito, tem uma grande visibilidade. A Haguanaboka existe há 30 anos. O segredo do nosso sucesso é a persistência. Com a loja, encontrei o que me dá prazer. Isto me fortalece nas dificuldades.
Costumo lembrar que, na infância, minha mãe descrevia tão bem a casinha de doces da história de Joãozinho e Maria, que eu acabei montando a Haguanaboka. Ela é a minha casa de doces da história que eu ouvia…
Como a pandemia afetou o seu negócio?
Tive uma reunião com os funcionários na semana passada para falar sobre esta crise. Pedi união em torno do desafio de tocar o negócio nesse período. Antes da pandemia, tinha 33 funcionários e hoje estamos com 24. Além da loja da Nove de Julho, temos outra loja própria no Shopping Colinas. Aqui na loja do bairro, nosso movimento caiu mais de 70 por cento, enquanto na do shopping, fechada há quatro meses, a queda é total, 100 por cento. Decidi que não vou falir, não vou fechar, pois isto aqui é a minha vida. Conto com a ajuda da equipe, tenho crédito, tenho credibilidade, vou lutar até que tudo isso passe.
Qual é a sua avaliação da atuação dos governos na pandemia?
Fico revoltada com a situação que estamos vivendo. Acho que o Governo deveria ser mais ágil, ter mais atitude. É preciso diminuir a circulação, manter o distanciamento etc.? Tudo bem, entendo que é importante. Mas fazer um lockdown é muito complicado. O drive-thru, por exemplo, é injusto, você atende somente a população que tem carro. Por que não manter as vendas para as pessoas consumirem fora da loja? Pelo menos isso. Sou muito grata aos amigos, que estão sendo muito solidários neste momento. Além de continuarem consumindo, fazem questão de compartilhar os nossos produtos nas suas redes sociais.
Tem sido viável a opção do drive-thru que está vigorando nestes dias?
Algumas leis mostram falta de visão, não sabem o que acontece nas ruas, fora dos gabinetes. Por exemplo, essa história de não poder comprar fora do carro. Faz alguns dias, chegou na loja um senhor idoso, carregando vários envelopes enormes com os seus exames, acompanhado de sua filha. Eles eram de São Sebastião, vieram a uma clínica ao lado da minha loja e, ao saírem, a filha imaginou que poderia deixar o pai, com problema de mobilidade, descansando, comendo alguma coisa, enquanto ela ia até a farmácia. Não tive dúvidas: acolhi o senhor, deixei-o sentado em uma cadeira no interior da loja.
Vencida a crise atual, quais são seus planos para o futuro da Haguanaboka?
Além das duas lojas próprias, temos também a opção das franquias. Lançamos o projeto há cinco anos e já estamos com três lojas franqueadas. As primeiras foram instaladas no Jardim Aquarius e Centervale Shopping. A terceira loja foi aberta na sexta feira que passou [12 de março], no Urbanova. Quem quiser montar uma Haguanaboka, é só nos procurar.