Foto / Kevin Wong on Unsplash.

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Estava eu pra lá de cansada, recém-chegada da estrada, numa quarta-feira recente, quando decidi assistir a um filme pra relaxar um pouquinho. Vejo muitos filmes, aliás, ainda mais agora em tempos de #fiqueemcasa.

Gosto de ficção científica e escolhi ‘A 5ª Onda’, pensando em ver algo leve e divertido, por que não? Mas não foi exatamente assim.

Na trama, de 2016, a Terra está sob o quarto ataque de alienígenas que disseminam um vírus. Curiosamente, ele mata alguns e não afeta outros. Ou seja, Hollywood já previu de tudo mesmo. Até Trump presidente foi previsto pelos Simpsons. Nada demais.

Tem muito clichê na história, como adolescentes que perdem a família e são obrigados a crescer enfrentando a crueldade do mundo e dos alienígenas que eles chamam de “os outros”. Cá entre nós, não vale muito o investimento de tempo.

Minha paciência já estava pedindo licença, quando algo mais interessante do que o filme ocorreu para me distrair: um vagalume invadiu meu quarto. Se estatelou na parede algumas vezes, enquanto acendia e apagava a bunda. Desculpe, não tenho definição mais elegante para a parte do vagalume que brilha, rs.

Há quanto tempo eu não via um vagalume. Reformulando, há quanto tempo nós nos acostumamos a não ver vagalumes ou insetos voadores de nenhum tipo. A não ser, é claro, o resiliente Aedes aegypti, o mosquitinho zebrado da dengue, resistente como ele só.

Lembrei de quando era criança –isso faz mais de 40 anos pra mim– e viajávamos de carro à noite. Encandeados com a luz dos faróis, todo tipo de inseto virava pasta gosmenta no impacto veloz contra o para-brisas. Eram muitos, não faziam falta. Naquela época.

Deve vir daí a necessidade do serviço de lavar para-brisas nos postos de gasolina. Os frentistas vinham gentilmente com o galão de água e lavavam os vidros salpicados de insetos.

E aí veio a massificação dos agrotóxicos, o extermínio de tudo que é miúdo e se desloca voando, ou quase tudo, não podemos esquecer do Aedes. Esse, resiste até ao fumacê (aquele carro que passa nos bairros, periféricos principalmente, soltando uma nuvem de fumaça branca e fedorenta).

Por um instante fiquei olhando o vagalume enfrentando a parede, sem saída. Cego pela luz elétrica que transforma a noite em dia. E me dei conta de que somos “os outros” dos outros seres desafortunados que dividem o planeta com a gente.

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.