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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Ricardo Aleixo

 

Conheço vocês

pelo cheiro,

pelas roupas,

pelos carros,

pelos anéis e,

é claro,

por seu amor

ao dinheiro.

 

Por seu amor

ao dinheiro

que algum

ancestral remoto

lhes deixou

como herança.

Conheço vocês

pelo cheiro.

 

Conheço vocês

pelo cheiro

e pelos cifrões

que adornam

esses olhos que

mal piscam

por seu amor

ao dinheiro.

 

Por seu amor

ao dinheiro

e a tudo que

nega a vida:

o hospício, a

cela, a fronteira.

Conheço vocês

pelo cheiro.

 

Conheço vocês

pelo cheiro

de peste e horror

que espalham

por onde andam

– conheço-os

por seu amor

ao dinheiro.

 

Por seu amor

ao dinheiro,

deus é um

pai tão sacana

que cobra por

seus milagres.

Conheço vocês

pelo cheiro.

 

Conheço vocês

pelo cheiro

mal disfarçado

de enxofre

que gruda em

tudo que tocam

por seu amor

ao dinheiro.

 

Por seu amor

ao dinheiro,

é com ódio

que replicam

ao riso, ao gozo,

à poesia.

Conheço vocês

pelo cheiro.

 

Conheço vocês

pelo cheiro.

Cheiro um e

cheirei todos

vocês que só

sobrevivem

por seu amor

ao dinheiro.

 

Por seu amor

ao dinheiro,

fazem até das

próprias filhas

moeda forte,

ouro puro.

Conheço vocês

pelo cheiro.

 

Conheço vocês

pelo cheiro

de cadáver

putrefato que,

no entanto,

ainda caminha

por seu amor

ao dinheiro.

 

Ricardo José Aleixo de Brito, ou apenas Ricardo Aleixo, nasceu em Belo Horizonte (MG) em 1960. É autodidata e atua em diversas áreas. Estreou em 1992 com o livro Festim. Em Belo Horizonte é curador do Festival de Arte Negra (FAN), coordenador de projetos culturais. Edita a revista Roda – Arte e Cultura do Atlântico Negro, pela Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte.

 

> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.