Empresários e trabalhadores do comércio e serviços esperam que não haja mais retrocessos no Plano SP. Foto / Charles de Moura/PMSJC

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

WAGNER MATHEUS

Depois de 36 dias de portas fechadas, o comércio e a área de serviços de São José dos Campos encaram com um misto de esperança e ceticismo a reabertura das atividades, que começou no último domingo (18) e só está garantida até o próximo dia 30.

O SuperBairro ouviu duas entidades patronais, a Associação Comercial e Industrial (ACI) e o Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sinhores). As duas querem mais garantias do Governo do Estado, responsável pelo Plano São Paulo, para exercerem as suas atividades.

“As empresas precisam, urgentemente, da retomada da economia. Elas fazem a sua parte investindo em normas de segurança sanitária. Mas é preciso mais, a união de todos pela saúde da população, manutenção dos empregos e retomada da atividade econômica de forma consciente”, pede Eliane Maia, presidente da ACI.

Antonio Ferreira Junior, presidente do Sinhores, vai mais longe. “A nossa expectativa é de que o Plano São Paulo não volte a regredir. Em 36 dias de fechamento do comércio era esperado que os resultados já tivessem acontecido”, observa. “Se os números de mortes e infecções por covid-19 não caíram é porque os bares e restaurantes não são os responsáveis por eles.”

Erros do Plano SP

Na outra ponta do problema está o Sindicato dos Empregados no Comércio (Sincomerciários). Eurípedes Barsanulfo, presidente da entidade, cobra do governo estadual: “A saúde deve ser mantida em todos os sentidos, mas a falta de recursos causada pelo erros do Plano São Paulo afeta a vida e a saúde dos nossos trabalhadores”.

Resumindo, o que empresários e trabalhadores querem é poder trabalhar, seguindo rigorosamente os protocolos sanitários para contribuir com o combate à pandemia de covid-19. Veja a seguir a entrevista com os três dirigentes contendo expectativas e reivindicações para que o setor de comércio e serviços consiga vencer a crise em que se encontra.

 

A economia de S. José e a pandemia

 

Que avaliação a sua entidade faz e que expectativas tem para a retomada?

Eliane Maia / ACI – A fase de transição já é um indicativo de que está havendo uma melhora no combate à pandemia. A abertura do comércio vai ajudar na retomada da economia. A ACI espera que os pronunciamentos, a partir de agora, sejam sempre sobre abertura, extensão de horários e de capacidade.

Antonio Ferreira Junior / Sinhores – Essa insegurança atrapalha muito o nosso setor. Estamos falando de uma transição de 24 a 30 de abril [para restaurantes, bares e similares]. Quantas vezes reabriu e voltou a fechar? Para voltar, temos que refazer estoques para atendimento presencial, pois sobremesas e entradas, por exemplo, não tinham saída no delivery; temos que reescalonar equipes, voltando com garçons e copeiros. Em outras vezes, montamos estoque e não usamos. Infelizmente, essa reabertura não nos dá nenhuma segurança.

Eurípedes Barsanulfo / Sincomerciários – É incontestável a necessidade de medidas para contenção do vírus, mas paralelamente temos que pensar nos milhões de trabalhadores que estão sendo expostos a outros males, como desemprego, necessidades e até fome. A flexibilização poderia ser um pouco mais ampla, respeitando, claro, todos os protocolos de cuidados. Hoje, recebemos inúmeros trabalhadores para homologação de suas dispensas de trabalho, o quadro exige uma atenção maior das autoridades para que o cuidado com a doença não comece a matar na outra extremidade, os que precisam trabalhar.

ELIANE MAIA / ACI — “É preciso a união de todos pela saúde da população, manutenção dos empregos e retomada da atividade econômica de forma consciente.”  Foto / Pedro Ivo Prates/Divulgação

O que mais poderia ser feito para o setor neste momento?

Eliane – As empresas necessitam de contrapartidas do poder público [União, estado e município] para reduzir o impacto da crise sobre elas. A ACI espera a reedição da MP do Emprego e a abertura de novas linhas de crédito, como um novo Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, do Governo Federal], por exemplo. No estado, há recursos do Desenvolve SP que estão ao alcance das empresas, cujo acesso pode ser simplificado. No município, a prefeitura é uma grande aliada.

Antonio – A nossa expectativa é de que o Plano São Paulo não volte a regredir. Em 36 dias de fechamento do comércio era esperado que os resultados já tivessem acontecido. Se os números de mortes e infecções por covid-19 não caíram é porque os bares e restaurantes não são os responsáveis por eles.

Eurípedes – Como já disse, ampliar a flexibilização para que as empresas possam ter um fôlego maior para a manutenção de seus empregados, criar dispositivos como, por exemplo, a ampliação e não a diminuição de horários de atendimento para que não aconteçam aglomerações nos horários de funcionamento das empresas.

ANTONIO FERREIRA JUNIOR / SINHORES — “Se os números de mortes e infecções por covid-19 não caíram é porque os bares e restaurantes não são os responsáveis por eles.” Foto / Divulgação

Existe algo que a Prefeitura pode fazer para fortalecer essa reabertura?

Eliane – O desejo de todos nós é a retomada da atividade econômica. A Prefeitura tem sido parceira nesse intento, cuidando do combate ao coronavírus e atendendo, dentro do possível, às solicitações do empresariado, por exemplo, dilatando o prazo de pagamento de impostos municipais como o ISS. No mais, ela tem que seguir o Plano São Paulo, não está em seu poder mudar a lista de atividades essenciais ou liberar horários à revelia do estado.

Antonio – A Prefeitura poderia ter aliviado mais na questão dos impostos. O ISS [Imposto sobre Serviços], por exemplo, teve o vencimento postergado, mas vai haver um acúmulo lá na frente. Só estamos adiando o problema, pois o faturamento perdido não vai ser recuperado. Nesse mais de um mês de fechamento, o faturamento do setor despencou.

Eurípedes – O prefeito tem se mostrado sensível aos problemas e necessidades dos trabalhadores. Já tentou até na Justiça ampliar a flexibilização em nosso município, porém está engessado em virtude de uma legislação estadual que o impede de buscar outros caminhos que não os impostos pelo governo estadual. Por outro lado, esperamos que a Prefeitura atenda a um pedido, que já encaminhamos, de inclusão dos comerciários na lista de prioritários da vacinação, principalmente os que atuam em serviços essenciais, em virtude da sua exposição diária no trabalho.

EURÍPEDES BARSANULFO / SINCOMERCIÁRIOS — “Esperamos que a Prefeitura atenda a um pedido, que já encaminhamos, de inclusão dos comerciários na lista de prioritários da vacinação.”  Foto / Divulgação

Quais foram as perdas do seu setor desde o início do ano?

Eliane – Não existe um levantamento global sobre essas perdas, o impacto tem sido desigual em muitos setores. Os setores de bares, restaurantes, academias, salões de beleza sofreram perdas acentuadas. O comércio também, diversas lojas fecharam. Mas há setores em expansão, como supermercados, construção civil, indústria farmacêutica, por exemplo. Segundo dados do Escritório Regional da Jucesp [Junta Comercial do Estado de São Paulo], que funciona na ACI, tivemos um balanço positivo no número de empresas abertas no primeiro trimestre de 2021, o que é significativo. Nesse período, a Jucesp registrou a constituição de 956 empresas contra 444 baixas, um saldo positivo de 512 empresas.

Antonio – A quantificação das perdas é uma coisa difícil de ser feita neste momento, penso que só será possível uma avaliação mais segura quando esta crise terminar. Mas, para se ter uma ideia, segundo a Abrasel [Associação Brasileira de Bares e Restaurantes], 30% dos estabelecimentos do setor fechariam as portas até o final da pandemia. A previsão foi feita para até o final do ano passado. Mas entramos em 2021 e a crise continuou, ou seja, a situação pode ser ainda mais grave.

Eurípedes – Ainda não temos um levantamento numérico da situação, mas o que se percebe é que a cada dia mais ela se agrava. As empresas, sem opção, demitem, e os trabalhadores são prejudicados por um plano que tem se mostrado ineficaz e danoso principalmente à nossa população de baixa renda.