Ilustração / Maria D'Arc Hoyer

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

A caminhada matinal é um hábito já incorporado à rotina de muitos. Tem gente que vai na marra, por obrigação e recomendação médica. Outros se dedicam ao exercício para manter a forma.

Com tantas pessoas morando em apartamentos e com a vida sempre na correria, essa caminhada por ruas e parques é também uma ocasião para socializar com vizinhos, conhecidos e desconhecidos.

Afinal, ninguém mais tem tempo, segurança ou espaço para colocar a cadeirinha na calçada e trocar dois dedos de prosa com os vizinhos, como se fazia antigamente.

Eu caminho de manhã, com pequenas variações de horário, ditadas pelas obrigações profissionais. E confesso que um dos prazeres da caminhada é esse contato humano rápido e sem compromisso. Aquele “bom dia, será que chove hoje?” ajuda a espairecer. Pelo menos a mim ajuda, rs.

E esse hábito, antigo como a humanidade, comum a todas as culturas, mesmo sendo uma demonstração de educação, carrega o desejo de que o outro, que está à sua frente, tenha horas agradáveis, que seus negócios e afazeres corram bem. É energia boa fluindo.

Durante minhas caminhadas, eu achava ainda melhor quando os cumprimentos vinham embalados com sorrisos. Agora é um pouco mais complicado, mas ainda é bom. Eu gosto de pensar que saio de casa para colher esses desejos de dias agradáveis e capricho no bom dia que ofereço para receber positividade como retribuição.

Nos primeiros tempos da pandemia, eu lembro que esses cumprimentos ficaram mais escassos. Parece que as pessoas –eu inclusive– tinham receio até de olhar umas para as outras.

Mas o tempo fluiu e a gente se adaptou como pode a esse modo torto de viver. Voltei a insistir nos “bons dias”. Eu capricho na entonação, dou uma empostada na voz para projetar as palavras além do tecido da proteção e espero o retorno.

Com as expressões escondidas atrás das máscaras, passei a prestar mais atenção ao tom de voz das pessoas. E fui identificando melhor os diferentes tipos de “bom dia”.

Tem bom dia tímido, que mal dá pra ouvir, vindo de pessoas cujo olhar segue preso ao chão. Outros são apáticos, a voz não vibra, respondem por obrigação. Tudo bem, ninguém é obrigado a viver radiante por aí.

Outro “bom dia” triste de vivenciar é o cumprimento ignorado. Você diz bom dia, mas fica no vácuo. Tem pessoas que me olham como se eu fosse doida mesmo. Implícito no olhar está a frase: eu te conheço?

Há ainda o bom dia emburrado. Aquela obrigação social cumprida de má vontade. Parece que a pessoa nem quer estar ali. O bom dia dos emburrados soa assim: Bom dia, por quê? Cruz credo, nessa hora eu aperto o passo, outros bons dias virão. Importante é não desistir.

A energia melhora com o “bom dia” rasgado e sem reservas. É renovador quando essa troca acontece. Você diz bom dia e quando a pessoa responde o sorriso está impresso em cada onda sonora, como se a máscara nem estivesse encobrindo o rosto.

É aí que meu dia fica bom mesmo e volto pra casa mais feliz.

E você, que tipo de bom dia tem recebido e ofertado quando sai para caminhar?

 

> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.