As avencas e o seu contínuo renascer. Foto / Fabíola de Oliveira

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Como quase tudo na nossa cultura e costumes, a decoração e a jardinagem têm fases de modas e tendências. Admito que isto é óbvio. Mas é para dar uma pequena abertura ao tema de hoje desta coluna que vai misturar a decoração à jardinagem. A moda do momento carrega no nome o anglicismo de urban jungle, ou selva urbana, em tradução livre.

Não cumpre muito com a realidade, pois trata-se da tendência de trazer o jardim para dentro de casa, ou do apartamento. E um jardim certamente não é uma selva, mas um modo organizado de dispor plantas, flores, móveis e acessórios de tal forma a criar um ambiente harmonioso. Um espaço que atenda a vários requisitos como tipos de plantas, proporção, luminosidade, clima e, por último, mas não menos importante, o gosto de quem habita o espaço.

Então fui buscar o significado de selvinha e descobri que é pior do que a selva, com sua vegetação nativa e aparentemente desordenada. A selvinha, que no título aparece como diminutivo de selva, é um emaranhado quase intransponível de plantas e galhos. Portanto, nada a ver com um jardim. Tudo isso para dizer que vou evitar aqui o termo urban jungle, melhor jardim na casa, ou na sala, ou em qualquer cômodo habitável. Mas se tiver interesse em saber tudo sobre plantas em casa, é bom usar o termo da moda para encontrar centenas de sites e contas nas mídias sociais que tratam do assunto.

A moda não é nova. Nossas mães, tias e avós já tinham o hábito de trazer plantas para dentro de casa. Sem planejamento, sem vasos combinando com a decoração, cresci vendo as mulheres da minha família enfeitando os cantos com plantas de todos os tipos. A experiência lhes mostrava onde poderiam colocar essa ou aquela planta, qual gostava mais de luz, de água, qual o tamanho adequado de vasos ou recipientes para suportar o crescimento das raízes. Vasos de barro, de cerâmica, e até latas de óleo serviam para cultivar as plantas. Essas formavam pequenas selvas, já que não havia muito a preocupação com a estética e a proporção. O que importava é o que ainda mais importa, trazer o verde para dentro.

Luz e proporção de plantas em um apartamento. Foto / Instagram/Reprodução

Quando jovem, lembro-me que as plantas mais cobiçadas para a casa eram as folhagens tropicais que hoje voltam a ocupar as pranchetas de paisagistas, designers de interiores e aficionadas como sou. Samambaias, avencas, e antúrios reinavam absolutos. Onde batia o sol direto, as suculentas e cactos apareciam em profusão.

Os jardins de casa de hoje, apesar de aparente informalidade, podem ser muito bem planejados por especialistas ou até por quem decide dedicar-se a conhecer e cultivar plantas em interiores. Vários fatores são levados em conta, como a incidência de luz sobre o ambiente, o tamanho que as plantas vão ficar com o crescimento, o tipo de terra e insumos a utilizar, as doenças e pragas que podem atingir as folhas e caules. Entendo que a proporcionalidade de uma planta em relação às outras no mesmo espaço é fundamental para garantir uma boa estética e harmonia, enfim, ficar com mais cara de jardim.

Mas, mesmo com todas estas condições consideradas, há uma que é imprescindível para o cultivo de um jardim. Gostar de plantas, e tem que gostar muito, porque dão trabalho, exigem dedicação e conhecimento. Quando falo isso, sempre me lembro de uma colega do apartamento onde morei na época de estudante, uma espécie de “república” de jovens. Ela gostava de encher o quarto com plantas em vasos que comprava na feira perto de casa. Só que não as molhava. As coitadinhas chegavam todas verdes e viçosas e aos poucos iam murchando até morrer. Daí, acreditem, ela jogava fora os vasos e comprava outros. Dizia que gostava deles como enfeites, imaginem só!

Plantas tropicais em uma varanda. Foto / Instagram/Reprodução

Como pretendo voltar a esse tema outras vezes, vou aqui encerrar com minha principal memória afetiva de plantas dentro de casa, no meu caso as avencas. Minha mãe era uma especialista em avencas. Quem já passou dos 40, e gosta de plantas, deve se lembrar que essas folhagens, assim como todos os tipos de samambaias, eram cultivadas em vasos feitos de xaxim, que só recentemente vim a saber que estão proibidos de ser usados para essa finalidade devido ao risco de extinção. O substituto mais usado é a fibra de coco, mas elas também se adaptam a vasos de cerâmica, com boa capacidade de absorver água.

As avencas têm uma beleza delicada e, se bem cuidadas, mostram uma capacidade incrível de renascimento. Lá um dia as folhinhas vão secando e é preciso fazer a poda completa da planta. E por muitos anos você pode ter a certeza de que, aos poucos, elas vão renascer, em qualquer estação do ano.

Nestes tempos de pandemia, observar o desfalecimento das avencas e, após a poda, o lento renascimento, quando retornam por vezes ainda mais exuberantes, tem sido uma mensagem de esperança e alento. Ensinam na prática que, nos piores momentos, existe sempre a possibilidade de renascer.

 

> Fabíola de Oliveira é jornalista há 43 anos (MTb nº 11402/SP) e tem doutorado em jornalismo científico pela USP. Aposentada do INPE, onde era responsável pela área de comunicação, foi depois professora e coordenadora do curso de jornalismo da Univap. Desde a infância é apaixonada por decoração e jardinagem.