Um ambiente multicolorido na antiga loja “Castália”, em São José dos Campos. Foto / Fabíola de Oliveira

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Está aí um assunto que me empolga até a raiz. Não sou especialista em cores, mas convivo com a pretensão de acreditar que tenho uma boa sensibilidade por elas. Do que causam em nosso humor e bem-estar, da luz que refletem, da combinação e mistura harmoniosas, da ousadia possível, sem cair no carnavalesco. Mas acredito que o uso da cor, em tudo, está relacionado à liberdade de ousar, ainda que se corra o risco do exagero.

Existem teorias e regras para a combinação de cores (ainda vou fazer um curso sobre isto), no entanto a sensibilidade de cada pessoa vai ditar o que mais a atrai nessa ou naquela cor. E aí reside a liberdade que se manifesta nas possibilidades de criar ambientes com cores que se amoldem à personalidade, hábitos e costumes de quem as escolhe.

Vários tons de azul. Foto / Fabíola de Oliveira

Exemplos simples são as sensações que se sente quando entramos em ambientes onde prevalecem cores claras, escuras, neutras, suaves ou vibrantes. Cada pessoa tem sensações distintas, há as que se sentem muito bem em um espaço com cores bem neutras, e outras (como eu) que se alegram em lugares com cores vibrantes.

No blog Viva Decora Pro encontramos alguns pontos interessantes sobre o efeito e a escolha de cores nos ambientes de moradia ou trabalho. Eles relatam que no livro A Psicologia das Cores, de Eva Heller, após uma pesquisa realizada com mais de 2 mil pessoas, conseguiu-se demonstrar que cores e sentimentos não se combinam ao acaso e nem são uma questão de gosto individual –são vivências comuns que desde a infância foram se enraizando em nossa linguagem e pensamento.

Vários tons de verde. Foto / Annie Sloan Home

Então, para entender o efeito psicológico que uma cor pode causar, é necessário observar o contexto onde ela está inserida, e analisar toda simbologia que pode estar atrelada a ela.

– Podem exercer diversas sensações na criação de ambientes;

– Possuem diversas funções e podem influenciar em nosso “estado de espírito” (emoções), pois criam diferentes atmosferas, alteram visualmente as proporções de um ambiente, aquecem ou esfriam, valorizam ou criam centros de interesse;

– São um dos principais fatores na forma como nos relacionamos com nosso ambiente e o que ele nos transmite;

– Estimulam nossos sentidos e podem encorajar o relaxamento, o trabalho, o divertimento ou o movimento.

A escolha do vermelho e objetos coloridos. Foto / Arquitectural Digest

Vejam que não é pouca coisa. O fato é que por vezes não observamos o quanto as cores podem influenciar em nosso humor e o quanto a escolha delas reflete a nossa personalidade e história.

O uso das cores, na moda, nos objetos, na decoração, está fortemente associado ao meio ambiente, ao clima e à cultura de cada povo. O branco, por exemplo, pode se traduzir em inúmeras nuances e tonalidades para os esquimós que vivem em um ambiente onde o branco prevalece. Talvez, para nós, tudo lá possa parecer somente branco. Pois por aqui, e em outras terras quentes, as cores vibram em tudo que vivenciamos. Nos espaços urbanos, nas roupas, nos objetos e nas moradas.

Se você fizer uma viagem para algum país europeu mais frio, para a Áustria, ou Alemanha, por exemplo, e lá ficar por alguns dias (sobretudo no inverno), vai levar um choque quando retornar ao Brasil. Logo que chegar vai perceber a profusão de cores em tudo, depois de sair de ambientes onde prevalecem o cinza, os neutros e escuros, sobretudo no inverno.

Não é à toa que os “gringos” adoravam (alguns ainda gostam) chegar no Brasil usando camisas com cores e flores berrantes, crentes que dessa forma estariam mais integrados ao ambiente tropical. No mínimo muito “cringe” (oba, consegui usar uma expressão da moda! No meu tempo era “cafona”).

Um canto colorido para escrever. Foto / Pinterest/Reprodução

Dito tudo isto, penso que é meio incompreensível como, até os dias de hoje, tanta gente tem receio de ousar nas cores quando planeja um ambiente para morar ou trabalhar. Até algum tempo atrás as cores da moda na arquitetura e decoração variavam entre os tons de bege, cinza e branco. E, embora seja perceptível uma mudança, ainda existem muitos arquitetos e decoradores (ou designers de interiores) que preferem a sobriedade dessas cores. E isso acontece não só nas moradas de quem tem poder aquisitivo para contratar esses profissionais, mas também em todas as camadas socioeconômicas.

Se você gosta das cores neutras, e do branco não abre mão, paciência. Mas pode, por exemplo, caprichar nas cores da decoração, mesmo que simples, com almofadas, quadros, estofados e móveis coloridos, além de vasos com flores e plantas. Garanto, até prometo, que vai se sentir mais alegre em casa.

 

> Fabíola de Oliveira é jornalista há 43 anos (MTb nº 11402/SP) e tem doutorado em jornalismo científico pela USP. Aposentada do INPE, onde era responsável pela área de comunicação, foi depois professora e coordenadora do curso de jornalismo da Univap. Desde a infância é apaixonada por decoração e jardinagem.