Quando comecei a pensar no projeto do SuperBairro, uma das minhas principais reflexões foi sobre o que as pessoas precisam realmente saber no dia a dia delas. Queria derrubar o mito de que uma pessoa bem informada é aquela que recebe maior quantidade de informação do que outra.
Não é bem isso. Quantidade nunca foi qualidade. O segredo está na seletividade. Você é bem informado quando define as suas fontes de informação e decide o que quer que elas informem a você.
Você não é um cesto de coleta de notícias, onde tudo o que acontece é jogado junto das demais informações. Você não precisa saber que aquela atriz de tevê teve um chilique durante uma gravação, ou que a tal ex-BBB resolveu nadar nua em uma praia deserta; ou ainda que aquele ator consagrado decidiu comer uma pizza em um lugar da moda.
Faz algum tempo, postei no Facebook –que já não está com essa bola toda por causa do novo queridinho, o Instagram–, que uma pessoa comum precisa de poucas notícias diariamente para viver bem. Continuo achando que é por aí. Aliás, acho que, pelo “rumo dessa prosa”, quanto mais seletivo o sujeito for, melhor para a saúde mental e emocional dele.
Você acredita que não vai perder o rumo das coisas se receber apenas, digamos, as três principais notícias locais, do seu país e do mundo durante, digamos novamente, um período de 24 horas? Seriam nove informações por dia.
Tente fazer isso. Tenho certeza de que você vai perceber que, além do que precisa saber de fato, lhe chegam notícias de todo tipo, principalmente essas bobagens sobre subcelebridades, políticos que não decidem nada, “digital influencers” que são apenas uma réplica das antigas garotas-propaganda ou, mais recentemente, dos vomitadores de merchandisings.
Permita-me voltar ao projeto do SuperBairro para tentar reforçar o que eu estou dizendo. O conceito que nos orientou foi o seguinte: que tipo de informação as pessoas precisam para ajudá-las a tomar decisões no seu dia a dia? Veja bem, eu não estou falando aqui no prazer de ler, na ampliação das áreas de conhecimento, na literatura, na poesia, na cultura, que são muito importantes para ampliar a bagagem cultural do indivíduo. Falo das questões práticas, do que afeta a vida de cada um.
É com esse “desafio” que analisamos, medimos, comparamos e, por fim, chegamos a um número: ninguém precisa de mais de dez notícias/informações por dia para viver. E mais ainda: todo cidadão precisa muito mais das notícias locais, aquelas que estão o mais próximo possível dele, do que das notícias regionais, estaduais, nacionais e internacionais.
Chegando a esta conclusão, a Equipe SuperBairro definiu a sua receita de cobertura jornalística: 70% de notícias superlocais, ou seja, dos 35 bairros e vilas que formam o nosso “país” SuperBairro. Depois, 20% sobre a nossa cidade São José dos Campos. Os outros 10% das notícias são sobre a região do Vale do Paraíba, o país e o mundo.
Como explicar essa receita? Fácil. Vamos inverter a ordem da explicação acima. Para explicar o Brasil e o mundo existem dezenas, centenas, talvez milhares de fontes de informação; para informar sobre a nossa cidade, mais de uma dezena de veículos. Por fim, para levar até você o que está acontecendo no seu bairro, nos bairros vizinhos, na sua rua, com os seus vizinhos, só um ou dois veículos de informação. Bingo! O SuperBairro é um deles.
Aí você vai dizer: “mas eu não posso me limitar às notícias factuais e objetivas porque os meus interesses vão muito além”. Perfeito. Aí a gente defende a outra “metade” do projeto do SuperBairro: os colunistas.
Esse espaço no SuperBairro não foi criado para quem acha que tem “jeito pra escrever”. Não é isso. Vamos inverter a lógica novamente. A gente procura quem pode levar até você reflexões, ideias, propostas, desafios, humor, conselhos, orientações para acrescentar alguma coisa na sua vida.
Esse é o desafio que o nosso time de colunistas resolveu encarar. Primeiro, caprichando no conteúdo que levam até você; segundo, respeitando você ao entregar novos conteúdos semanalmente para que esse vínculo entre colunista e leitor se solidifique sempre mais.
A receita final a que a Equipe SuperBairro chegou fica resumida assim: a nossa missão é analisar as informações que chegam a cada minuto, separar o que é essencial para você, redigir essas notícias de forma sintética e fazer chegar tudo até você o mais rapidamente possível.
Terminada esta missão principal, vem um complemento tão importante quanto ela: levar mais informação geral, mais cultura, mais prestação de serviço, mais ideias para melhorar a vida de todos.
Aí voltamos ao título deste texto: quem lê tanta notícia? A pergunta foi feita por Caetano Veloso na letra de Alegria, Alegria lá no distante ano de 1967. Daquela época até aqui, imagine como a mesma pergunta tornou-se ainda mais pungente, mais incisiva, mais trágica. Repito: “quem lê tanta notícia?”.
A única saída para esse “enigma” é a seguinte: leia no dia a dia apenas o que tem efeito direto sobre a sua vida. Depois disso, leia aquilo que acrescenta à sua vida, aos seus prazeres, aos seus hábitos, às suas curiosidades.
Seguindo esta “receita”, você vai poder conviver com o lado caótico da chamada “aldeia global”, definida pelo filósofo canadense Marshall McLuhan na década de 1960, quando identificou o volume gigantesco de informação a que todos nós seríamos submetidos no futuro.
Seja seletivo. Escolha o que você precisa e quer saber. E viva melhor.
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.