Ambientada no fim do século XIX, The silver skates, a primeira produção russa lançada como longa-metragem original pela Netflix, foi traduzida no Brasil como “Cidade de Gelo”. É uma boa mistura de romance e aventura, com a destreza de patinadores nas belíssimas ruas congeladas de São Petersburgo, com suas pontes decoradas por guirlandas natalinas à espera da entrada do ano de 1900.
O jovem Matvey (Fedor Fedotov) é o melhor entregador da confeitaria Le Grand Pie e se destaca por sua habilidade com os patins de prata herdados de seu pai, que tinha como profissão acender os lampiões nas noites geladas da cidade. Como num bom conto de fadas, o protagonista é de família humilde e se apaixona pela bela e culta Alissa (Sonya Priss), que alimenta o sonho de estudar ciências contra a vontade do pai, um nobre e conservador oficial do governo. O destino dos jovens se cruza logo no início do filme e mantém a emoção em alta até o final.
Gravado na cidade de São Petersburgo (Leningrado, no período comunista, que voltou ao nome original após a queda do Muro de Berlim), o filme encanta pela riqueza dos cenários: a exuberância da Rússia pré-revolução pode ser reconhecida pela arquitetura e interiores de palácios originais, castelos majestosos e catedrais cobertos de neve, além da reprodução de um baile da aristocracia no Jardim de Yusupov.
Entre os encontros furtivos do casal, suas tentativas de fuga e a perseguição de ladrões e soldados patinadores ao longo do Mercado de Natal do Rio Neva, o diretor Michael Lockshin também leva ao espectador boas doses da cultura russa e suas questões sociais, como a luta de classes e a época em que as mulheres precisavam de autorização do pai ou do marido para estudar.
Eis uma opção leve da Netflix, que combina perfeitamente com uma xícara de chocolate quente, pipoca e pijaminha de flanela nestas noites frias de inverno.
Para o seu fim de semana
> Filme
REENCONTRANDO A FELICIDADE
O filme é de 2011; o tema, atemporal. A dramaticidade de Nicole Kidman (Becca) é reconhecida no olhar, em leves gestos, no sorriso artificial da mãe que faz de conta que está tudo bem e se recusa a superar a morte do filho ainda pequeno. Howie (Aaron Eckhart), há meses é afastado pela esposa a qualquer insinuação de intimidade e tenta, sem sucesso, que o casal se mantenha no grupo de terapia de luto para pais. Emoção e revolta vêm à tona a cada encontro de Becca com sua mãe (Dianne Wiest, de Hanna e suas irmãs, A mula e o recente Eu me importo), que também perdeu um filho, de 30 anos de idade, por overdose. Enquanto uma reconhece e expõe a dor da perda, a outra a nega como forma de mantê-lo vivo. Um filme forte, com excelentes atuações, daqueles em que é praticamente impossível não chorar. Disponível no Now.
> Séries
FÓRMULA1: DIRIGIR PARA VIVER
Engana-se quem pensa que essa é uma série documental exclusivamente para aficionados do esporte. Drive to survive (título original) é uma ótima produção conjunta da Netflix e F1 que aborda os bastidores das escuderias, a tensão que circunda as equipes, o perfil psicológico de pilotos e chefes de equipes e, na terceira temporada, consegue manter a adrenalina do espectador ao mostrar em detalhes os fortes momentos de emoção a cada corrida, dentro e fora das pistas.
LUPIN
Maurice Leblanc é o autor dos romances policiais famosos na literatura francesa que têm como protagonista Lupin, o conhecido e gentil gênio do crime em Paris no início do século XX. A série, que está se tornando um fenômeno global, atualmente na segunda temporada, é baseada na obra de Leblanc, trazendo o ótimo Omar Sy (Intocáveis) no papel principal de Assane Diop, um imigrante senegalês que se inspira em Arsène Lupin para vingar a morte de seu pai, condenado injustamente por um crime de roubo. Classificado como drama e policial, nos episódios há de tudo um pouco: pitadas de aventura, gotas de romance, fortes relações de amizade, perseguições policiais, mas tudo bem dosado, com vários cenários parisienses como pano de fundo. Curiosidade: até ser convidado para o papel, o ator não havia lido os romances, mas sim um mangá de Lupin, quando ainda era jovem.
> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), atua como redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há nove anos na Vila Ema.