Depois da última crônica, sobre a Revolução Constitucionalista de 32, que ficou enorme, o editor-chefe do SuperBairro me sugeriu que escrevesse textos de conteúdos menos densos e mais sintéticos. “Textos leves combinam mais com você”, afirmou. Mas eu estou em “modo avião”, quieta, silenciosa e sem viço.
Para piorar o quadro, ao invés de utilizar meu tempo para os meus tantos estudos e demais afazeres, tenho me perdido nas redes sociais. E é real que nos tornamos do que nos alimentamos… tenho emburrecido!
Acompanhando o perfil de uma querida, a Edi –amigas desde 1988–, observo que ela está o oposto de mim! Em transição de carreira (empreendendo na área de mídias sociais), empoderada, se “jogando” na academia e estudando! Um show de mulher!
Ela sempre foi forte porque é determinada e porque é alta e encorpada. Nos conhecemos quando estudamos no Colégio Objetivo –que ficava na avenida Nelson D’Ávila–, era uma escola de gente de classe média/alta. De cara, a achei uma chata! Ela não fez amizades por ser chata. Eu também não me aproximei de ninguém por minha baixa autoestima. Ficamos no “só tem tu, vai tu mesmo” #soquenao
A falta de opção, neste caso, virou uma tremenda sorte! Ficamos superamigas, aquelas adolescentes “indesgrudáveis”!
Voltando ao meu tempo de ócio não criativo, de ficar xeretando a vida dos outros na internet só para me torturar, enciumei com sei lá o quê e escrevi para ela no Insta:
–– Oi Edi, vc tá pegando mal comigo?
–– Oi Vana, por que eu estaria?
–– Por nada, não – (Deixei quieto porque não havia um motivo real para esta prosa.)
Ops, havia sim! Carência de amizade somada a tempo de covid unidas ao meu “estilinho” melancólico de ser, completando com as temperaturas baixas de julho.
Ela terminou o papo:
–– Amiga, eu tô cuidando de mim.
–– Ok, bejo, bejo...
–– Bejo…
Mas a pessoa que vos escreve agora, caro leitor(a), continuou sua vida inútil… xeretou novamente o perfil da amiga Edi e a viu se convidando para sair com outra amiga dela. Um chute no meu saco emocional!
Tentei racionalizar, deixar tais sentimentos distorcidos –a que ponto cheguei– ter ciúmes de amiga! A semana foi passando… achei que tinha largado este assunto pra lá…
Dias atrás, percorri a avenida Anchieta tipo meia-noite, frio danado e muitos adolescentes e jovens lotando a avenida, as calçadas e o deck. Muitos deles bebendo e alguns bebendo um líquido que eles chamam de vinho, mas já experimentei e é horrível! Mais parece uma água com tinta vermelha e muito álcool. Os estilos musicais mais horríveis ainda tocando dos vários carros estacionados… funk e um novo brega que ainda não sei explicar!
Por que estou falando sobre a avenida Anchieta? Por que, na hora que passei por lá, lembrei-me da Edi. Lembrei que também fui adolescente, também ficava em pé ou desfilando em uma rua em que ficavam muitos jovens da nossa época. Eu e ela!
Era na rua Santa Clara, três bares que dividiam um terreno: o Post Office era o mais caro e frequentado por adultos, o Frangão, em que fomos algumas vezes e, no fundo, a Adega. Na Adega, tocavam os sons que nós curtíamos: rock e punk nacional e MPB.
Era onde nós mais íamos porque tudo era mais barato e sempre saíamos com pouca grana que nossos pais nos davam. Eles nos levavam umas 21h e iam nos buscar umas 23h30. Foi uma lembrança tão gostosa, real e distante das elucubrações atuais.
É, minha amiga Ediângela Scarpel, como é bom ficar velha! A gente, na hora em que está começando a pensar besteira, pode acionar o HD mental. Fiz uma viagem ao passado intenso e alegre… obrigada por sua amizade verdadeira. Esta volta no tempo me fez desencanar de bobagem de ciúmes e sensação de abandono…
Mas, Edi, me chama logo para a gente conversar? @ediangela.scarpel
> Vana Allas é jornalista (MTb nº 26.615), licenciada em Letras (Língua Portuguesa) e pós-graduada em Filosofia da Comunicação. É autora do livro “Vale, Violões e Violas – Uma fotografia do Vale do Paraíba”. Mora na Vila Icaraí.