Foto / Televisa/Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Não fica bem a gente colocar Deus em tudo quanto é miudeza de problema. Então, este desafio fica para o Chapolin Colorado mesmo, o herói trapalhão que ocupava manhã, tarde, noite, madrugadas –ufa!!– do SBT velho de guerra.

Desculpe a referência mais que datada para iniciar esta crônica. Mas o fato é que certas coisas têm que ser tratadas mais na base da pilhéria, do non sense, do que com muita seriedade. Até porque não adianta ser sério com o que não é nada sério.

E o que é que não dá para levar a sério? Os nossos direitos de consumidor, caro leitor ou leitora. São tantos os absurdos que povoam o nosso dia a dia que parece até não existir o Código de Defesa do Consumidor (CDC), um conjunto de posturas e normas criado na medida para defender os brasileiros nas suas relações de consumo com empresas industriais, comerciais e de serviços.

Vale a pena lembrar que a lei nº 8.078/90, de 11 de setembro de 1990, que criou o Código do Consumidor, tem muito a ver com o Vale do Paraíba, pois o projeto é de autoria do então deputado federal Geraldo Alckmin, que antes havia sido prefeito de Pindamonhangaba, deputado estadual e, depois, seria governador de São Paulo por dois mandatos e meio. Nascido a partir da Constituição de 1988, o CDC brasileiro é considerado um dos códigos mais avançados do mundo.

O Código do Consumidor gera benefícios enormes para a sociedade. Mas ainda é preciso avançar muito para que a lei seja mais respeitada e cumprida.

A partir daqui, segue um rosário de queixas deste pobre cidadão que quase diariamente é feito de bobo por alguma empresa. Veja você se eu não tenho razão:

– As Casas Bahia entram em contato comigo várias vezes por semana, há meses, por telefone ou mensagem de celular, para cobrar de mim uma dívida, oferecer renegociação, dizer que meu nome irá para o Serasa etc. … tudo certo se a dívida fosse minha, mas é de um certo José. Já cansei de pedir para os semirrobôs que me ligam –às vezes máquinas, às vezes pessoas–, para desfazer o engano. Cinco minutos depois, vem nova ligação, atendo e alguém diz: “Você é… José?”

– A nossa conterrânea Oscar Calçados também me oferece renegociação de dívida etc. etc. Mas como convencer a mensagem insistente de que eu simplesmente não tenho dívida com a loja? Dá até vontade de comprar, não pagar e, aí sim, ser cobrado por algo que existe.

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Quer mais?

Vamos então ao abuso das ligações dos serviços de telemarketing e lojas de comércio eletrônico:

– Recebo de quatro a seis e-mails por dia do Submarino, o site de e-commerce; recebo também duas ou três de um troço chamado Compare Planos que me oferece planos de saúde. Recorri ao mecanismo legal que permite à “vítima” clicar em um botão no final da mensagem pedindo para ser retirado do mailing dessa gente. Fazem, então, uma série de malabarismos para, enfim, garantir que você deixará de ser incomodado em 72 horas. Foi o que esses dois algozes me prometeram há cerca de um mês. E nada…

– E os boletos bancários então? Você mira o celular no código de barras, espera, espera, espera até que vem o aviso de que “o código está incompleto”. Só falta ser mais explícito: “Seu burro, incompetente, o código está incompleto”. Mas ele não chega a tanto. Só faz você digitar aqueles vinte ou trinta números para pagar uma conta.

Mais ainda? Vamos lá…

– Tenho um telefone celular, mas quase não atendo ligações, a não ser que reconheça o número. Por quê? Porque recebo várias e várias ligações das mais diversas origens. As mais “camaradas” são as que aparecem como vindas de cidades como Teresina, Goiânia, Brasília, Salvador etc. etc. Quanto a estas, sei que são os chatos de sempre para me oferecer novos planos de telefonia, internet etc. etc. Você diz não, implora para tirarem seu nome da lista, prometem que irão fazer isso e, minutos depois, começa tudo de novo.

– Em alguns casos, a chamada é sequencial, começa no meu celular, eu atendo e desligo imediatamente para, segundos depois, tocar o meu telefone fixo. É desumano.

Aí você acredita naquela orientação de bloquear os números junto à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), anota todos os números dessa gente que te liga do Brasil inteiro e tenta bloquear os tais números. Aí descobre que, na prática, não funciona assim; você só pode colocar o seu próprio número de telefone para dizer que não quer receber ligações. É claro que isso não funciona.

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Vamos em frente?

– Aí você precisa entrar em contato com um desses planos de saúde, ou com algum serviço de concessionária, ou com algum órgão de governo. E perde a paciência com as várias sequências de opções que tem que digitar para, muitas vezes, voltar sempre ao mesmo lugar e ter de começar tudo de novo. O pior é que agora inventaram moças-robôs engraçadinhas, que simulam um bate-papo descontraído com você. Outro dia ganhei um beijão da Magalu, a robô da Magazine Luiza. Diga, quem merece isso?

Vamos parar por aqui? Eu teria vários outros exemplos para mostrar que nem sempre a tecnologia facilita a vida moderna. Quando você não consegue convencer um robô de que está certo, e ele, o robô, tem sempre a última palavra para dizer que você está errado, é melhor tentar se controlar para não ficar xingando uma máquina, o que seria o primeiro passo para o Chuí ou o Francisca Júlia.

Agora você…

Mas como o desabafo faz bem para a alma, convido você, que lê essas minhas lamentações, que interaja comigo e com os demais internautas contando no espaço destinado aos comentários no Facebook qual foi o maior dos seus desgostos como consumidor.

E ofereço todo este conjunto de desrespeitos e desprezos com o Código de Defesa do Consumidor ao meu caro amigo Georges Assaad, advogado dos bons, servidor público sério e competente, atualmente à frente do Procon de São José dos Campos. Quem sabe ele nos mostra o caminho para que a gente se livre de tantos aborrecimentos?

Se o fizer, prometo dar o “mapa da mina” a você, leitor. Sem nenhuma garantia de que vá funcionar, esclareço desde já. E se nada disso adiantar, quem sabe o nosso desastrado super-herói Chapolin Colorado apareça para nos salvar? É a nossa última esperança.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.