Foto / Pixabay

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Desde boa data que um sentimento de brasilidade não sacode o brasileiro. O que se vê são ondas e os surfistas de sempre, movidos por interesses políticos ou outros, inconfessáveis.

No Brasil contemporâneo, movimento popular verdadeiro e natural de amor à pátria, dá para abonar o das Diretas, entre março de 1983 e abril de 1984.

Com base política, mas cunho popular, teve a finalidade de restituir ao povo o direito de eleger o presidente da República pelo voto direto. Objetivo frustrado com a derrota da emenda Dante de Oliveira na Câmara dos Deputados –mesmo tendo a proposta 84% de aprovação dos brasileiros, segundo pesquisa de opinião da época.

Outra marcante demonstração verde e amarela –da qual se serviu a Ditadura Militar– aconteceu com a bola rolando. A protagonista foi a seleção de futebol do Brasil mais deslumbrante de todos os tempos, que deu ao regime o mimo da Jules Rimet.

Por trás da beleza e do fascínio daquele futebol, a equipe tricampeã da Copa do Mundo de 70 instrumentalizou o patriotismo para o governo militar. Feito que restou cristalino também na foto propagandística em que o lateral Carlos Alberto, capitão da seleção, levanta a taça junto com o general presidente Emílio Médici.

Na primeira Copa com transmissão direta em cores pela TV, lembro bem do país no embalo de “Pra Frente Brasil”, hino ufanista cantado aos quatro cantos por milhões de brasileiros encantados com o futebol de Pelé, Gerson, Rivelino e companhia.

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O Brasil ainda foi tetra (1994) e penta (2002), mas não me recordo de igual furor patriótico. Depois que Roberto Baggio chutou para fora pênalti decisivo na final da Copa nos Estados Unidos, um afônico Galvão Bueno tentou tocar fogo no estopim patriótico do brasileiro com o grito de “é tetra! é tetra!.. Conquista muito festejada, mas sem o magnetismo de 70.

Em 2014, com o vexame dos 7 a 1 para a Alemanha, em pleno Mineirão, o Brasil virou motivo de chacota e nossa seleção não empolgou mais, ficando a uma distância abissal do torneio do México, referência aqui.

No sábado (7) de manhã fui para a frente da TV ver a disputa do ouro olímpico entre Brasil e Espanha. E tentei arrastar para a poltrona um pouco dessa devoção à pátria que sempre aflora quando entra em campo o time canarinho. Esperava despertar o patriota que existe em mim. Mas nada do bicho acordar.

Em campo, um arremedo de 70 (de novo, a inevitável comparação). Cabelos cortados ao estilo dos recrutas do nosso glorioso Exército, os badalados e ricos jogadores da seleção do Brasil exibiram pouco, quase nada.

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Para nossa sorte, Deus é brasileiro. Quando tudo caminhava para outra loteria dos pênaltis, Malcom, que nem era para estar em Tóquio, fez o gol decisivo minutos antes do fim do tempo adicional, garantindo ao futebol do Brasil o mais alto lugar no pódio.

Diz-se que o brasileiro demonstra amor à pátria apenas por ocasião das grandes competições esportivas –como bem caracterizado em 1970. Na decisão em Tóquio, bem que tentei. Na Copa do Mundo do Catar, quem sabe eu saia enrolado na bandeira do Brasil aos gritos de é hexa! é hexa! A conferir em 2022.

 

> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.