Que atire a primeira pedra quem nunca falou: meu cachorro parece gente, ele entende tudo o que eu falo.
Nada? Nenhuma pedrinha?
Foi o que imaginei, porque é exatamente isso o que a gente pensa dos nossos pets, que eles são gente, que nos entendem e, mais do que isso, têm sentimentos como nós.
Opa, aí já exagerou!
Será?
O naturalista britânico Charles Darwin –o primeiro a estudar as emoções dos animais de maneira sistemática– atribuiu seis emoções para os animais: raiva, aversão, felicidade, tristeza, medo e surpresa. Com o tempo, outros estudos acrescentaram a esse rol de sentimentos o ciúme, o desprezo, a culpa e a inveja.
Mas Gergory Berns, professor de neuroeconomia da Emory University, em Atlanta, nos Estados Unidos, foi mais longe e provou, por meio de muitas pesquisas, que os cachorros, de fato, usam a mesma parte do cérebro humano para sentir.
Ou seja, quando a gente diz que os danados entendem a gente e parecem sentir o que a gente sente, é a mais pura verdade.
Magoado
Meu cachorro, por exemplo, não suporta ficar longe da família e até mesmo uma ida ao pet shop para um banho –coisa de 40 minutos– é o suficiente para ele ficar de bico e sem conversar comigo.
Quem lê isso acha que eu estou exagerando e até ri, por que como um cachorro pode ficar de bico e, pior ainda, sem conversar? Por acaso cachorro fala?
Bom, o bico pode ser comprovado na foto que ilustra a coluna, e quando a gente diz conversar, estamos querendo dizer que eles abanam o rabo, dão pulinhos, latem, lambem, pulam, orelha pra frente, orelha pra trás, tudo para mostrar o que estão sentindo. E no dia do banho, Johnny (é o nome dele) vira uma estátua.
Olhos parados, pura raiva, e dá para perceber uma profunda mágoa por eu tê-lo levado a um lugar de que ele não gosta, porque ele me evita. E eu que me vire com esses sentimentos, que só passam um bom tempo depois, quando ele me procura pra dizer que estou perdoada e que continua me amando.
Pois é, não é loucura da cabeça da gente, não. Eles têm sentimentos, sim.
Puro sentimento ou sentimento puro
E quando falamos sobre os sentimentos dos cachorros não tem como não falar do maior de todos eles, do imenso amor que eles dedicam a seus donos e que vem acompanhado de fidelidade e companheirismo.
O cinema já mostrou esse sentimento em vários filmes biográficos, como o do cachorro Hachiko, da raça akita. Esse cachorro ia todos os dias recepcionar o dono, após o trabalho, numa estação de trem no Japão. Um dia o seu dono não voltou, sofreu um AVC e morreu.
Hachiko, com toda a sua lealdade, permaneceu por quase uma década nessa estação de trem à espera de seu dono. Essa incrível fidelidade rendeu não só o filme, mas uma estátua em sua homenagem na estação onde ele acabou morrendo. A estátua de Hachiko tem a expressão de angústia e sofrimento, sentimentos que marcaram seus últimos anos de vida.
Hoje em dia também somos contemplados com imagens desse sentimento tão puro do cão para com o seu dono. São muitos os vídeos e fotos nas mídias sociais que mostram essa cumplicidade.
Eu, particularmente, me emociono quando vejo os animais plantados na porta de hospitais esperando por seus tutores que estão internados, geralmente moradores de rua. Prova de que não existe qualquer outro interesse.
Dia desses, rolando o feed de notícias, vi o vídeo de um rapaz sendo preso e, ao ser colocado na parte de trás da viatura, seu cachorro imediatamente pulou junto e ficou olhando com uma cara do tipo: “mano do céu, pra onde a gente tá indo, quem são esses caras?”, provando mais uma vez que eles são companheiros para o que der e vier.
Enfim, quando o assunto é compreender o ser humano, não existe animal que se compare ao cachorro. E isso não sou eu quem está afirmando, mas uma pesquisa feita pela Universidade Columbia, de Nova York, que descobriu que os cachorros reagem ao nosso olhar de uma forma como apenas os humanos são capazes de fazer.
É isso por hoje, saber que ter um cachorro é experimentar do mais puro amor e da maior fidelidade que existe nesse mundo.
> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.