Estava à toa na vida no final da noite de domingo quando li no site da revista Veja um título pouco empolgante: “Pesquisa mostra por que os rostos da terceira via não empolgam”. Isso, como diria o meu vizinho de coluna aqui no SuperBairro, o brilhante Carlos José Bueno, me encasquetou. Isso: encasquetou.
Por que, diabos, a gente não consegue pensar em uma terceira via para dirigir o Brasil? Por que essa bipolarização entre o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula? Por que essa “sinuca de bico” quando a gente sabe que, desculpem-me os adoradores de um e de outro, nenhum dos dois é, ainda me inspirando no Bueno, “flor que se cheire”?
Não são mesmo. A começar pelo Lula, é mais sujo que pau de galinheiro. Lembro-me bem do surgimento dele, ainda inodoro –mas não insípido, nem incolor– lá por volta de 1978, como presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e região. Pior que vocês não vão acreditar: fui metalúrgico antes da era Lula. E na mesma cidade.
Em julho de 1973, segundo diz a minha carteira de trabalho, fui contratado pela Volkswagen do Brasil, de São Bernardo do Campo, como “menor aprendiz” da escola do tipo Senai que a empresa instalou dentro da sua fábrica à margem da via Anchieta.
Infelizmente para o meu pai –Sebastião Wagner, empregado da VW desde o final dos anos 50– e felizmente para mim, meses depois de entrar na tal de Volks por um processo de seleção dificílimo, constatei o óbvio, que não tinha nenhuma vocação para a nobre carreira de metalúrgico.
O que me salvou de cair nos braços do “Lulão” poucos anos depois foi a minha nascente –e breve– carreira de atleta de voleibol na cidade. Depois de seguidos títulos de campeão paulista nas categorias mirim e infantil, fui convocado para ocupar um espaço na seleção paulista e disputar o campeonato brasileiro infanto-juvenil de 1974, em fevereiro daquele ano, na cidade de Maceió, estado de Alagoas.
Para não prolongar muito, vou resumir. Para desgosto do meu pai, abandonei a carreira de metalúrgico (pré-Lula) e mergulhei de “peixinho” no voleibol. Dos cerca de 90 convocados de todo o estado, depois de meses de treinamento e sucessivos “cortes”, terminei como um dos dois levantadores titulares da seleção paulista. Em Maceió, porém, não conseguimos o título por uma série de motivos.
Ficam na memória as seguintes lembranças dos destaques: foi a primeira experiência como treinador do gigante Antonio Carlos Moreno, que era considerado, ainda naqueles anos de 1973/74, um dos maiores jogadores do mundo no voleibol. Destaque também para dois atletas: o grande Amauri, que seria anos depois o maior bloqueador do mundo e medalha de ouro na Olimpíada de 1992, foi cortado do grupo; e como adversário, pelo Rio de Janeiro, estava o também gigantesco Bernard, que seria ídolo do vôlei brasileiro e mundial.
Ainda bem que, quando voltei de Maceió, sem o almejado título, embiquei para a Imprensa, carreira que, acredito, tenha sido predestinada para mim, onde estou até hoje, a pouco meses de completar 46 anos de atuação.
Já disse como me livrei de Lula, que ser enroscou em quase todos os grandes escândalos da época do PT no poder. Agora vamos ao Bolsonaro. A direita no Brasil da minha época de adolescente e jovem adulto era uma direita envergonhada por causa da tutela do regime militar. Ninguém admitia que era de direita, aquilo seria uma confissão vergonhosa. No máximo, admitiam que apoiavam o governo dos militares da época.
Me acostumei a pensar, assim como praticamente toda a sociedade do período dos anos 70 a 90, que as opções de governo estavam do centro para a esquerda, porque qualquer outra opção mais à direita esbarrava no autoritarismo, no militarismo.
Isto sem pensar nos extremos, que ligavam a direita à repressão do período militar, que incluiu, indiscutivelmente, desde torturas de adversários políticos, até o temido “esquadrão da morte”, que eliminava, pura e simplesmente, bandidos pequenos ou grandes por meio de “fuzilamento” ilegal depois de julgamento sumário fora da esfera do Poder Judiciário. Sem a participação do Estado, mas com os olhos fechados do Estado.
Achei que depois de 1985, quando terminou o regime militar, o Brasil teria dias gloriosos pelas décadas e séculos que viriam. Afinal, tínhamos uma classe política forjada na luta, seja ao centro, à esquerda ou à direita. Tínhamos, em todas essas classificações, gente como Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Tancredo Neves, Leonel Brizola, Miguel Arraes, Jarbas Passarinho, Delfim Netto, Célio Borja, Aureliano Chaves, Petrônio Portela, José Sarney, entre dezenas de outros nomes que poderiam conduzir o Brasil no futuro.
O azar foi eleger um noviço chamado Fernando Collor de Melo na primeira eleição direta para presidente da República desde 1960, quando foi eleito o instável –para dizer o mínimo– Jânio Quadros.
Maior azar foi o Brasil perder uma grande classe política, de esquerda, de centro e de direita, criada nos anos de chumbo do governo militar, após eleições em que o povo não votou com o cérebro, mas com a emoção e a inexperiência depois de tantos anos sem votar.
Esses grandes nomes da política brasileira, ou morreram, ou entraram em decadência, principalmente pela idade, e chegamos aos dias de hoje. Políticos pouco expressivos, com poderes limitadíssimos e não reconhecidos como líderes nacionais. O que nos sobrou? Os extremos, os discursos direcionados aos mais radicais?
Isto explica a “bananosa” em que nos metemos. Dois extremos tentam polarizar o debate político, enquanto faltam nomes de centro com a mesma visibilidade dos dois líderes radicais.
Qual é a saída?
Como o nosso campeão olímpico Isaquias Queiroz ensinaria, a saída é remar, remar muito para se chegar a um porto seguro. Os radicais de direita e de esquerda jogam com o seu medo, a sua ansiedade, o seu amor à família para conquistar espaços. Desses dois extremos, pouco de bom pode sair, mas você acha não existe nada viável fora da dupla Bolsonaro e Lula.
Ledo engano. Existem dezenas e dezenas de homens mais preparados politicamente para governar o Brasil do que esses dois. Não acredita? Pense durante cinco minutos em quem pode liderar o país nesses tempos difíceis. Aposto que, com um pequeno esforço, você vai encontrar um ou mais nomes melhores que Lula e Bolsonaro.
Pense nisso. Não tenha medo de mudar, de buscar nomes novos. Se servir como estímulo, siga comigo a minha carreira de várias mudanças, que obedeceram a uma sequência de estudante, atleta, metalúrgico, atleta e, enfim, jornalista. Você tem opção. Analise e tome a melhor decisão para o futuro do Brasil.
“Tamojuntos”. Contra o radicalismo!
> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.