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Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Pense numa bebida genuinamente brasileira, muitíssimo popular por aqui, e que faz a cabeça do mundo inteiro por seu sabor característico e sua versatilidade. Se cogitou a cachaça, acertou.

Poucos sabem, ou não atentam –menos ainda os sedentos–, mas a danada tem uma data para chamar de sua. Quem quiser, pode brindar. Desde que brinde com cachaça, claro! Instituído em 2009 por projeto de lei, todo dia 13 de setembro comemora-se o Dia Nacional da Cachaça. Nem por isso se bebeu um gole a mais na segunda-feira que passou. Ou a menos.

Diz a lenda que nessa data, em 1661, a produção de cachaça no Brasil foi oficialmente liberada. Mas ao preço da insurgência: a Revolta da Cachaça. O pau cantou feio porque a Coroa Portuguesa quis proibir o fabrico da nossa pinga e impor, através de decreto, uma tal bagaceira, que os portugueses produziam na terra deles com o bagaço da uva. Estava formado o sururu.

Há quem sustente que o quiproquó teve outra motivação. Com a mixuruquice da extração do ouro, a Monarquia resolveu taxar a cagibrina, cuja produção bombava. Os alambiqueiros se uniram e rodaram a baiana. E a cachaça acabou virando símbolo da resistência ao domínio português no Brasil.

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Histórias e lendas à parte, a popular pinga é conhecida dos brasileiros por muitos sinônimos: mé, branquinha, levanta-defunto, engasga-gato, quebra-gelo, água-que-passarinho-não-bebe, manguaça, entre outros, conforme a região do Brasil.

É consumida pura ou curtida no cambuci, carqueja, sassafrás e numa infinidade de frutos, folhas, cascas de árvores e especiarias. Tem até mistura exótica, que não convém contar aqui para não dissuadir o leitor a dar a sua talagada. Com limão, açúcar e gelo vira caipirinha, indispensável companheira da feijoada, prato típico da nossa culinária.

A bebida é o resultado da fermentação e destilo do caldo da cana em alambique, que transforma o açúcar da garapa em álcool.

Aproximadamente 10% do volume é considerado a cabeça da cachaça. Contém substâncias voláteis, por isso é descartado.

O corpo ou coração, em torno de 80%, é o padrão, pronto para engarrafar ou envelhecer em tonéis. Com pouco álcool, o restante é aguado e fraco. A bebida para o mercado consumidor tem entre 38% e 48% de teor alcoólico, por exigência de lei.

Conforme os entendidos, apesar da bebida ser forte, a aguardente boa não queima a boca. As envelhecidas têm aspecto aveludado e aroma peculiar. Para aferir sua excelência, faça com o copo da bebida movimentos circulares, e observe. A cachaça de qualidade escorre suave e encorpada pela parede do copo, até o fundo; a ruim desce de volada.

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Segunda bebida alcoólica mais consumida pelos brasileiros, perdendo apenas para a cerveja, a cachaça representa mais de 70% do mercado de destilados no Brasil, além de figurar entre as mais apreciadas no mundo. Minas Gerais concentra o maior número de produtores, principalmente do produto artesanal, enquanto São Paulo é o campeão do consumo.

Segundo o jornal “Estado de Minas”, com dados do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), a pandemia do coronavírus impôs um baque de 24% na venda do produto em 2020. Apesar do recuo, a produção ficou em torno de 400 milhões de litros, gerando um faturamento de R$ 12 bilhões. O setor responde por 600 mil postos de trabalho diretos e indiretos.

Com pouco mais de 40 mil habitantes, desde 2018 Salinas é a capital nacional da cachaça. Localizada no Vale do Jequitinhonha, a 600 quilômetros de Belo Horizonte, a cidade mineira promove anualmente o Festival Mundial da Cachaça. De sua produção estritamente artesanal constam marcas badaladas como Canarinha, Boazinha, Seleta, Havana e outras.

Do Vale do Paraíba, as marcas Pardin 3 Madeiras, de Natividade da Serra; e Mato Dentro Prata, de São Luiz do Paraitinga, estão entre as 50 melhores cachaças do Brasil na categoria armazenada/envelhecida. O ranking é de 2020, elaborado pela Cúpula da Cachaça, grupo composto por profissionais da área para valorização e fomento da atividade.

Agora que você conhece um pouco mais da bebida queridinha do Brasil, lembre-se: beba moderadamente e, depois que beber, não dirija.

 

> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.