A "morte" não aconteceu, mas a postagem recebeu muitos cliques. Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Você deve estar lendo a coluna desta semana em uma página ou grupo de Facebook. Mas eu posso garantir que tudo o que está escrito aqui é real, verdadeiro, tem endereço certo e o autor se responsabiliza pelo que está escrevendo.

Tão diferente de uma infinidade de perfis e páginas que estão chegando até você, não é? Pois este é o tema de hoje: fake news, enganação, golpe, armadilha, arapuca, 171, engodo… você escolhe o nome. As redes sociais estão lotadas de gente querendo enganar você.

Como tudo o que é inventado e vai para o mercado, as redes sociais nasceram com objetivos nobres. Um canal de comunicação com quem você já conhece, um meio de fazer novos amigos e, por que não, até de fazer bons negócios. Mas, como tudo o que é bom dura pouco, essas redes às vezes ultrapassam o limite do “útil e agradável” e passam a ser mais um meio de gente “ixxxperta” ganhar dinheiro e prejudicar os outros.

PUBLICIDADE

Talvez as “fake news” sobre política sejam um dos ataques menos perigosos que você pode receber no seu micro ou celular. É claro que, a médio prazo, essas bobagens muito bem arquitetadas por gente do mal vão fazer um grande estrago na sua cabeça. Você vai perder todos os parâmetros para avaliar os bons candidatos e separá-los dos maus. Mas tem jeito. Basta ficar atento e começar a seguir fontes de informação mais confiáveis.

Vamos entrar em uma outra área, mais delicada, pois mexe com a vida e a reputação dos outros. Acredita que existem esquemas profissionais para produzir notícias completamente enganadoras que chamam a sua atenção para conseguir milhares e até milhões de cliques? Pois é. Você está se divertindo nas redes e, de repente, surge um post sobre a morte de um artista famoso, ou um esportista, enfim, alguém bem conhecido. Aí você abre a postagem e só falta sair de lá um boneco dizendo: “enganei um bobo na casca do ovo”, ou “perdeu, playboy”.

“Mataram” a Glória Menezes. Foto / Reprodução

Algumas dessas postagens estão ilustrando esta coluna.

Um pouco menos agressivas e mórbidas, mas também prejudiciais, são aquelas dezenas de “notícias” que vêm no final de alguns sites, muitos deles de veículos de comunicação até bem-conceituados. A receita é a seguinte: “Novo método para tratar fungos nas unhas vira febre em São José dos Campos”. É só substituir o tipo de produto e concluir dizendo que ele “vira febre” na cidade.

O mais estranho de tudo isso é que muita gente boa, que diz que a “Globo” é um lixo, que a “Folha de S. Paulo” não presta, gente que garante que sabe das coisas, cai todos os dias nessas pegadinhas e, aparentemente, acha normal. Mas é normal as pessoas serem enganadas apenas com o objetivo de aumentar os lucros de quem inventa tudo isso?

Você sentiu alguma “febre” na cidade? Foto / Reprodução

A palavra-chave é monetização. Funciona mais ou menos assim. Se eu tenho 5 mil cliques no meu banner, canal de YouTube ou outro meio de comunicação, as empresas que administram esses canais publicam um certo número de anúncios publicitários no meu conteúdo e me enviam uma “grana” como pagamento.

Entendeu? Se eu tiver, em vez de 5 mil, 50 mil, 500 mil ou 5 milhões de cliques, vou receber uma “grana” proporcionalmente maior. E o céu é o limite. Imagine, então, toda esta gente que publica conteúdo pensando, pensando, pensando no que fazer para atrair o seu dedinho para o “like”, o “joinha”, a curtida, o comentário, o elogio, o xingamento, tudo soma. Ou seja, quanto mais eles te enganarem, mais vão faturar.

PUBLICIDADE

A revista “Veja” desta semana publicou reportagem sobre uma outra modalidade de esperteza para conquistar os seus cliques e o dinheiro dos anunciantes. Gente trabalhando na área da Segurança Pública filma o próprio trabalho, transforma esse serviço público em uma “aventura” com armas nas mãos, viaturas cantando pneus, suspeitos –ou não– pedindo perdão, gritos, sirenes etc. E tudo acaba bem, com os novos “xerifes” posando de heróis.

O campeão nacional desse esquema é o canal Polícia em Ação, do Espírito Santos, que ostenta inacreditáveis 130 milhões de visualizações mostrando o dia a dia de um soldado PM de 29 anos pelas ruas da cidade de Colatina. Em São Paulo, o canal do delegado Da Cunha, em apenas três episódios de uma captura, conseguiu quase 30 milhões de visualizações, rendendo ao “servidor público” até R$ 350 mil por mês. Tudo com armas, viaturas, investigadores e outros apetrechos pagos pelo Governo do Estado. E o que é pior: prestando um serviço público que tem os seus próprios regulamentos.

O delegado Da Cunha foi afastado e agora voltou-se contra a estrutura da Segurança Pública. Ou seja, vai alimentar uma disputa na qual tem tudo para perder, certo? Errado. Quando mais encrenca, mais cliques, curtidas, joinhas ele vai receber e mais dinheiro vai entrar na sua conta bancária.

“Artistas” ganhando o nosso dinheiro enquanto prestam serviço público. Foto / SuperBairro/Reprodução

Vamos combinar? Antes de apertar a tecla do “curtir” com o dedinho, faça um rápido questionamento: Onde eu estou? O que eu vim buscar aqui? Posso confiar nesse pessoal? Esse conteúdo vai me ajudar? O que eles querem de mim?

Quem sabe, agindo assim, você para de financiar esses espertalhões e ajuda as redes sociais e o YouTube voltarem a ser um território mais do bem e menos do mal.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.