Foto / Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Você já deve conhecer essa história…

Um sapo colocado em um recipiente com a mesma água da sua lagoa fica estático durante todo o tempo em que a água é aquecida. Ele não reage ao aumento gradual da temperatura até que a água ferve e o sapo morre. Mas se esse mesmo sapo fosse atirado dentro do recipiente, porém com a água já em ponto de fervura, ele saltaria para fora imediatamente.

Voltaremos à história mais adiante…

Agora vamos falar da alta do custo de vida. A situação já vinha se agravando desde antes da pandemia com uma alta inesperada no preço do feijão. Depois, foi o arroz que subiu. E depois o óleo.

E a gasolina, é claro, o tempo todo nos lembrando que a Petrobras tem todos os privilégios de uma empresa estatal e toda a liberdade de fixar preço de uma empresa privada.

Vamos relembrar algumas historinhas dessa escalada dos preços que está gerando uma inflação em torno dos 10% anuais quando todo mundo imaginava que os nossos governos tinham aprendido a lidar com ela.

PUBLICIDADE

Combustíveis

Pensando como povo, e não como estudioso da macroeconomia, fica claro que alguma coisa está errada com a Petrobras e a sua relação com o Estado brasileiro. Decidiu-se que os preços dos combustíveis no mercado interno acompanhariam as altas das cotações do próprio petróleo no mercado internacional e, para piorar, também a cotação do dólar.

Ou seja, não adiantou nada o Brasil ter alcançado a autossuficiência, termos refinarias espalhadas por todo o país, vendermos petróleo de qualidade superior para o exterior e comprarmos petróleo inferior para abastecer a nossa frota de veículos. Não adianta nada o governo brasileiro favorecer a Petrobras de todas as formas. Ela dita os preços.

Se é para ser assim, é urgentíssimo promover a privatização da Petrobras. Como empresa privada ela deixará de ser protegida pelo governo para se livrar de qualquer risco empresarial e vai passar a competir com todas as refinadoras e distribuidoras de todo o planeta que tenham interesse em atuar no Brasil. Várias delas já estão aqui, mas são obrigadas a seguir a política de preços da Petrobras, que tem o monopólio do refino e da distribuição.

Resumindo: a concorrência seria muito saudável para o setor do petróleo no Brasil. E o governo continuaria recebendo os impostos normalmente. Aí, como diz o ditado popular, quem puder mais, chora menos.

PUBLICIDADE

Alimentos

O Brasil é um dos “celeiros do mundo” na agricultura e na pecuária. Isso é o que aprendemos a repetir em qualquer bate papo em torno de uma cervejinha com os amigos –quando o assunto não é mulher ou futebol, é claro.

Porém, vamos pensar nisso. Somo o celeiro do mundo, mas não temos sido o celeiro do Brasil. Ou seja, a produção de alimentos, que antes se chamava “agropecuária”, agora é conhecida como “agronegócio”, ou seja, é como se o país cedesse parte do seu território para abrigar fazendas e mais fazendas que irão produzir e lucrar tendo como prioridade as vendas para o exterior.

Essa política que vem de décadas no país nunca foi tão perversa com o povo brasileiro. Basta dizer que o Brasil é hoje o maior produtor de carne bovina do mundo, mas quase 60% de toda essa carne é consumida pelos chineses. Isso mesmo, a cada dez quilos produzidos, seis vão para a China e quatro devem servir a todos os outros países importadores e, o que sobrar, ao brasileiro.

O que o Brasil e os brasileiros ganham com isso? Divisas? Dólares? Mas para que serve tudo isso se não for para atender à prioridade de servir comida ao povo a preços que ele pode pagar?

Outros produtos e serviços

A cada dia mais os planos de saúde atendem uma elite e o SUS fica mais inchado por famílias que não conseguiram mais pagar. O que fazer? Mais investimentos no SUS.

Gás canalizado e de cozinha pela hora da morte, como as donas de casa diziam antigamente. O que fazer? Se for necessário, subsídio do governo. Ou vão deixar o povo queimando lenha só para provar a teoria macroeconômica de que subsídio não funciona?

Já percebeu que aqueles automóveis básicos que um operário especializado conseguia comprar, mesmo que com muito sacrifício, agora são praticamente proibidos para uma extensa parcela da população? E notou que o mercado oferece veículos a cada dia mais luxuosos e caros, quase tudo entre R$ 100 mil e R$ 200 mil? Para quem? Uma elite.

PUBLICIDADE

A história do sapo…

Vamos finalizar com a história do sapo na água que vai sendo aquecida aos poucos. Há quanto tempo a água do brasileiro médio começou a esquentar?

Primeiro você deixou de comer artigos mais finos e exclusivos; depois deixou de ir a restaurantes com a mesma frequência que ia; depois parou de fazer aqueles churrascos que reuniam a família toda; depois deixou de viajar para a praia; depois deixou de ir ao cinema e a outras opções de lazer; depois começou a evitar itens mais caros da cesta básica, como carne de primeira e sobremesas; depois diminuiu o consumo de bebidas… e aí começou a ter que economizar em outros itens para comprar feijão, arroz, óleo e até carne de segunda.

Será que você não percebeu que a “água” do custo de vida já está bem quente? Vai esperar ferver e perder o “couro” dentro dela? Reaja. Como?

– Volte a se aproximar do sindicato da sua categoria. Os patrões combatem os sindicatos dos empregados, mas se mantêm firmes nos deles.

– Pressione os seus representantes na política e mostre que agora chegou a hora de levar a sério o combate à inflação e a geração de empregos. Se não, você muda o seu voto.

– Reclame, proteste, seja chato, seja insistente nos locais onde você compra. Exija que eles apresentem opções para você se livrar dos preços mais altos. Eles que sejam criativos.

– Bote a boca no trombone! Deixe de ser um cidadão passivo e mostre o seu descontentamento. Faça suas críticas nas mídias sociais, nos meios de comunicação, ocupe todos os espaços que você puder ocupar. Proteste!

Ou você vai imitar o sapo e esperar que a água ferva porque foi se acostumando com ela esquentando aos poucos?

Aí vai ser tarde demais.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

 

*Texto atualizado à 0h33 do dia 27/10/2021 para revisão ortográfica.