Diamond: o bull terrier tatuado nos olhos, focinho e orelhas ganhou até abaixo-assinado nas redes sociais. Foto / Facebook.

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O século é 21 e o ano 2021, mas quem poderia imaginar que chegaríamos tão longe para perdermos tempo criando leis que proíbem realizar tatuagens em animais de estimação? Isso mesmo, você leu direito: tatuagens “em” cachorros, gatos, porquinhos… e não tatuagens “de” animais de estimação, coisa que tutor faz quando ama muito o seu bichinho.

Diante disso, lembrei de uma frase do famoso físico alemão, Albert Einstein, que disse: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”.

Mas não é que é isso mesmo! E resolvi falar sobre esse assunto a pedido da amiga Isabel Camacho, também jornalista, que ficou indignada quando, recentemente, viu uma matéria na TV falando sobre tatuagens em animais e as leis que estão sendo criadas para que esse procedimento seja proibido.

Mas dizer o quê? Falar o que de alguém que submete seu bichinho –que ele diz amar– a uma tortura desse nível?

Mas tem gente que faz isso?

Tem. Pior que tem. Na Rússia, por exemplo, é uma febre, principalmente em gatos da raça Sphnys, aqueles que não têm pelos, possuem a pele lisinha.

Nos Estados Unidos, em Nova York, virou moda tatuar, principalmente, cachorros grandes, como os da raça pitbull. Mesmo com uma lei proibindo o ato de crueldade (implantada em 2004), muitos tutores ainda se arriscam e postam suas “artes” nas redes.

A modelo ucraniana Elena Ivanicka teve que se explicar com seus seguidores após foto de sua gata tatuada. Foto / Instagram/Reprodução

No Brasil

Aqui no Brasil tivemos alguns casos que viralizaram. Em 2015, por exemplo, a internet ferveu quando um tatuador mineiro, Jaykson Rockstrok, postou fotos da sua pitbull sendo tatuada na parte interna da coxa, e claro, a “obra” já pronta.

Após a postagem das fotos, quando os comentários no post começaram a ficar, digamos, pesados, o tatuador se defendeu dizendo que a cachorra havia sido dopada e que não tinha sentido dor. Ah, então tá tudo bem, né?

Pit bull tatuada na parte interna da coxa. Foto / Inter TV dos Vales/Reprodução

Um ano depois aconteceu mais ou menos a mesma coisa com outro tatuador, também de Minas Gerais. Emerson Damasceno (ou Emerson Candido, ele trocou o nome na rede social depois do acontecido), que pasme leitor(a), tatuou os olhos, as orelhas e o focinho de seu cão da raça bull terrier. E ainda teve a cara de pau de dizer que estava fazendo aquilo para que seu animal não tivesse câncer de pele.

Emerson, acabou execrado nas redes sociais. Sabe-se lá o quanto de dor que esse cachorro teve que suportar, porque as regiões que ele tatuou no animal são das mais sensíveis, e tudo isso para atender aos seus caprichos.

Apesar de terem sido achincalhados nas redes sociais, nenhum dos dois tatuadores tiveram qualquer problema com a lei.

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Dor com CRMV

E para piorar um pouco mais, já tivemos casos de clínicas veterinárias tatuando, na região da barriga de cachorros e gatos, o nome e telefone de seus donos, sob a alegação de que, se eles fugissem, ficaria mais fácil localizar seu tutor.

Uma dessas clínicas fica na cidade de Franca, em São Paulo. Em 2018, a clínica realizou cerca de 100 tatuagens desse tipo por mês. E a médica veterinária disse, na época, que não ia parar porque estava amparada pelo CRMV – Conselho Regional de Medicina Veterinária, do qual fazia parte.

Convém lembrar que não se trata só de fazer o animal sofrer com a dor de ser tatuado. Se ele for anestesiado, menos mal, mas ainda assim existe o risco da própria anestesia.

Um procedimento anestésico sem a analgesia ou inconsciência adequadas, a falta de cuidado na monitoração e controle das funções fisiológicas, podem levar o animal a ter sérios problemas, ou até mesmo a óbito.

Outro fator que não podemos esquecer é que pode ocorrer inflamação no local, pois a tatuagem exige cuidados e higienização que animal nenhum tem condições de realizar sozinho. Sem falar nas inúmeras complicações que podem ocorrer –já que acontece com humanos quando fazem tatuagens–, como febre, diarreia, dor de cabeça, mal-estar. Como identificar isso no animal?

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Arte. Jura mesmo?

E para encerrar esse assunto nada agradável, em Pequim, na China, porcos são tatuados e vendidos a preços exorbitantes graças ao artista belga Wim Delvoye, que tatua porcos desde a década de 90.

Para ficar longe do olhar de reprovação das entidades de defesa dos animais, em 2004 ele resolveu comprar uma fazenda na China onde desenvolve a sua arte. Arte? Jura?

Ele elaborou um novo conceito que chamou de “Art Farm”. Especialistas cuidam de seus porcos, raspam as peles, os sedam e o artista os tatua. Os veterinários tratam as peles após as tatuagens para garantir que fiquem hidratadas.

Os compradores podem escolher entre porcos vivos ou taxidermizados; alguns compradores optam por comprar os leitões e deixá-los envelhecer na fazenda. Outros optam por comprar a pele do porco após a sua morte. As peles chegam a custar mais de R$ 200 mil.

Enfim, a estupidez é infinita mesmo.

Delvoye em sua exposição “Les cochons tatoués”. Porcos tatuados e empalhados. Foto / Daily Mail/Reprodução

Oremos!

Em agosto desse ano, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que proíbe a realização de tatuagens em animais com fins estéticos. Quem infringir a lei poderá ser detido com pena de três meses a um ano, mais multa. A proposta está em análise no Senado. Oremos!

Adote

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.