Eu não sabia que minha paixão por Fórmula 1 era tão evidente até que, cerca de 15 anos depois da faculdade, durante a pós-graduação, reencontrei um colega e ele, então professor, fez questão de destacar à turma que eu era a pessoa que ele havia conhecido que mais sabia de fórmula um, como espectadora, claro.
Eu devia ser uma chata nas segundas-feiras da faculdade comentando Fórmula 1 sem parar, rs. Fazer o quê, apaixonados não têm senso algum mesmo.
Pois é, a Fórmula 1 foi uma das minhas grandes paixões na vida. E digo “foi” porque o motivo da minha paixão era, principalmente, a garra de vencer que Ayrton Senna tinha. Quando ele se sentava ao volante e o close da câmera destacava os olhos fixos na pista, não havia dúvida do que estava por vir e o domingo começava no Brasil, mesmo que fosse meia-noite, quando a corrida era no Japão.
Até que chegou o dia 1º de Maio de 1994 e nós brasileiros, que tínhamos tão pouco, perdemos muito. Quase toda nossa alegria foi roubada pela curva Tamburello.
Parei de ver corridas. O trauma foi grande, já que 1º de maio é meu aniversário. Mas parei também por total decepção com a organização, que não fez nada, na época, para tornar o circuito mais seguro. A curva era um local de tragédia anunciada. Sei lá se a morte de Senna poderia ser evitada, talvez não. Maktub, quem sabe… mas, enfim, o ronco dos motores já não me despertava mais. Algo adormeceu dentro de mim. Um sono pesado que passou a ignorar as corridas.
Até ontem, quando descobri o que fez Lewis Hamilton com a nossa bandeira ao fim do GP de Interlagos. Eu não assisti na hora, só fui buscar na internet depois de ver posts dos amigos falando isso, 24 horas depois. Assisti ao vídeo diversas vezes. Me arrepiou, me deu nó na garganta e acho que uma semente adormecida se agitou nas profundezas de mim.
Uma paixão sempre pode recomeçar. Às vezes inesperadamente, pelas mãos de um inglês cuja nação tem histórico de conquistar, devastar e colonizar. Com aquele gesto de reverência pelo ídolo brasileiro que, sem dúvida, é dele também, Hamilton resgatou o orgulho que sempre tive pela bandeira verde-amarela agitada com alegria, sem rancor. Foi assim pra você também?
Certeza, eu vou assistir a esse vídeo mais uma porção de vezes, sou meio boba assim mesmo com tudo que mexe com as memórias e o coração. E estamos tão precisados de emoções aconchegantes…
Valeu Hamilton, por lembrar que é necessário agitar nossas bandeiras e colocar o coração na vitrine, sem medo de ser feliz. Que venha o seu oitavo título; eu estarei assistindo e torcendo, muito, por você.
> Maria D’Arc Hoyer é jornalista (MTb nº 23.310) há 28 anos, pós-graduada em Comunicação Empresarial. Mora na região sudeste de São José dos Campos. É autora do blog recortesurbanos.com.br.