Foto / Doia da Tita/Arquivo pessoal

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Seis leitores me seguem aqui, como já disse. Dois são como chiclete no cabelo. Grudentos. Queria ter mais, mas… quem sabe um dia, se caprichar mais no texto e escolher melhor os temas. Estou me esforçando!

De vez em quando um deles (ou os dois) não lê a minha crônica. Sei que não leu quando não sapecou o emoji. Fico apreensivo, pois vai que o cara teve um arranca-rabo com o vizinho, ralou o carro no portão ou recebeu uma multa. Como saber? Então, dou um desconto.

Eles não são meus vizinhos, mas, suponho, moram nas imediações. Acho que no mesmo bairro, porque sempre topo com um ou outro na padaria, no ônibus, na feira. A gente troca ideias rapidamente e não raro o meu texto vira assunto, normalmente o mais recente.

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Na segunda-feira encontrei-me com um deles no posto de saúde, aonde eu tinha ido para uma consulta. Homem de meia idade e cabelos branquejantes, esse leitor foi logo fazendo considerações sobre a minha última postagem. Encheu-me de elogios para, por fim, perguntar em tom de censura:

–– Senhor jornalista, que história é essa de o santo mijar?

Disse na minha lata que eu não podia lhe atiçar as lombrigas para, depois, deixar barato; e pediu-me para satisfazer sua abelhudice contando essa história, pois, até onde sabia, santo não precisa fazer as necessidades fisiológicas como nós, pobres mortais.

Tentava convencê-lo de que não foi essa minha intenção e explicava que a crônica é um gênero literário que permite pinceladas de humor, ironia e alguma invencionice, quando fui chamado para a consulta. Não vi mais o sujeito. Por isso estou aqui.

Salvo nos mais recônditos grotões deste nosso Brasil, hoje o morador da zona rural dispõe de comodidades como rádio, televisão, internet; sendo os arrabaldes mais afastados dos centros urbanos providos de escola, equipamentos para lazer, ambulatório médico e condução para a cidade.

Via de regra, é assim! Ao contrário de antigamente, quando a vida do matuto era mil vezes mais difícil. Época em que a luz era de lamparina e os produtos do seu suor, como feijão, milho, ovos, porcos e galinhas eram levados para a cidade em lombos de burro e vendidos ou trocados no armazém por botinas, ferramentas, sal, açúcar, fumo etc.

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Aliás, ir à cidade naqueles tempos só mesmo em ocasiões especiais. Como nesse caso, protagonizado pelos irmãos Antônio, Joaquim e José. Moradores do bairro do Melado, na Capital da Içá, certa vez os três jovens saíram da roça para a festa da padroeira, cerca de 20 quilômetros de onde moravam.

Foram a pé, pois ônibus só o intermunicipal, que passava em horário incerto na antiga Rio–São Paulo, ainda de terra. Ônibus que na época era conhecido por jardineira e chamado pejorativamente de cata-jeca.

No caminho, morros, picadas, pinguelas e corredeiras. Por isso, os sapatos iam no embornal e só eram calçados no destino, depois de lavarem os pés no córrego que cortava a cidade. E ainda tinham que vencer o íngreme morro dos Guedes, de refugar cabrito.

Cerca de 500 metros de onde banhar os pés, José correu para estacar numa acolhedora pracinha. O lugar estava uma teteia. Reformado, tinha ganhado um chafariz sobre o qual avistou o que hoje, quase cem anos depois, parece ser a escultura de um soldado. Por certo um tributo aos combatentes que tombaram em terras silveirenses nas revoluções Liberal (1842) e Constitucionalista (1932).

–– Olhe o santo mijando, Joaquim! –gritou José para o irmão, apontando para a pequena estátua sobre o impetuoso jorro d’água, uma novidade para aquele homem simples da roça.

Se até o desatinado pensa dez vezes antes de fazer xixi em local público, porque dá cadeia, imagine se o santo vai mijar na praça “seu” José? Tinha sido só uma gafe do meu tio Juca, de quem guardo muitas e boas lembranças.

E com isso espero ter sossegado as bichas do meu quase vizinho e leitor.

 

> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.

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