Hoje não sei dizer como é. Mas, no passado, como assessor de imprensa da Câmara Municipal; depois, na equipe de dois vereadores, via chover queixas da população contra a Sabesp, empresa responsável por fornecer água, coletar e tratar o esgoto em São José dos Campos.
Ora uma conta pela hora da morte; ora um atendimento precário. O zum-zum chegava aos gabinetes dos senhores edis –caixas de ressonância (viva o clichê!!) dos queixumes da população– e era transformado em requerimento ou indicação pelo então eclético e competente time capitaneado por José Carlos de Oliveira e Fátima Mieko, na secretaria da Câmara.
À noite (na ocasião as sessões legislativas eram noturnas), na defesa de suas proposituras, os vereadores se revezavam nos microfones e faziam suas a voz do povo. E deitavam falação sobre a Sabesp, de quem cobravam providências para as muitas queixas dos munícipes. Depois o queixoso recebia em casa cópia da manifestação do vereador, uma forma de cevar o eventual eleitor.
Na época, da indignação brotou uma rima que mostrava bem como o brasileiro consegue ser criativo, mesmo fulo de raiva. Num arredondamento de essa peste, a Sabesp virou “sapeste”. Passados trinta e tantos anos, a tecnologia avançou, o mundo se tornou virtual e a Sabesp continua desrespeitando a população.
No dia 22 de outubro fui ao guichê da empresa no Poupatempo pedir nova ligação de água, pois, como já disse aqui, estou construindo uma laje. Apresentei os documentos solicitados e a atendente me disse que em três dias úteis seria feita uma visita de inspeção, o que só ocorreu quase vinte dias depois e durou cinco minutos. Isso, após inúmeras cobranças no 0800 e muito estresse.
Como o funcionário da Sabesp que fez a inspeção me assegurou que o serviço seria executado em cinco dias, apaguei o facho. Agora vai!, pensei. Ledo engano!
Passado um tempo, recebi ligação da empresa. Solicitaram o meu e-mail, endereço pelo qual recebi e imediatamente devolvi, devidamente assinados, um termo de responsabilidade e minha concordância com o orçamento, que me foi enfiado goela abaixo.
Tudo bem, eu não ligo, desde que a minha água seja ligada, pois daqui a pouco a laje fica pronta e não pode ser habitada porque as torneiras estão secas. A casa não tem água, porque a Sabesp não cumpre com o seu dever de atender o munícipe com um mínimo de respeito. Me pediram mais sete dias de prazo.
À meia dúzia que aqui tenho no encalço peço desculpas por advogar a própria causa. A Sabesp, maior empresa de saneamento básico do mundo, continua sendo a velha e odiada “sapeste” da boca do povo no que se refere ao atendimento das demandas de sua clientela.
No momento em que você lê este texto, já se vão mais de 40 dias de uma novela que parece não ter fim. E o pior é que eu não tenho a quem recorrer. Ou devo me queixar ao bispo?
> Carlos José Bueno é jornalista profissional (MTb nº 12.537). Aposentado e no ócio, brinca. Com os netos e as palavras.