Foto / Facebook/Reprodução

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Saudosismo.

substantivo masculino

tendência, gosto fundado na valorização demasiada do passado

Polêmica à vista. “No meu tempo era melhor…”. Essa frase, tantas vezes evocada pelos mais antigos, faz todo o sentido em algumas áreas e situações. Tecnologia? Não, é claro. Tudo hoje é melhor, de carros a telefones, de eletrodomésticos a aviões. Qualidade de vida…  melhorou, para muitos. Para outros tantos, miséria e sofrimento só aumentam. E na música? Na nossa tão rotulada MPB…

Mas vamos ao que me instigou a abordar esse tema. Estava me deliciando com os textos de Zuza Homem de Mello no seu imperdível livro “Música com Z”, (Editora 34), quando me deparei com um texto que ele fez para o catálogo de uma exposição sobre MPB realizada em Paris, em 2005.

PUBLICIDADE

Relembrando a época de ouro dos festivais, o escritor (para mim, uma das maiores autoridades sobre música do Brasil) faz a constatação definitiva sobre o surgimento de uma leva privilegiada de músicos, compositores e intérpretes. Um parágrafo –que aqui reproduzo– dá a dimensão da porrada que ele nos dá.

“Vieram praticamente de uma só vez, numa florada incomparável e feliz, Elis Regina, Edu Lobo, Chico Buarque, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Dori Caymmi, Nana Caymmi, Sidney Miller, Milton Nascimento, Fernando Brant, Paulinho da Viola, Eduardo Gudin, Egberto Gismonti, Tom Zé, Gal Costa, Alceu Valença, Evinha, Paulinho Tapajós, Antonio Adolfo, Macalé, Capinam, Aldir Blanc, João Bosco, Fagner, Gonzaguinha, Raul Seixas, Sergio Sampaio, Ivan Lins, além dos grupos MPB4, Os Mutantes, com Rita Lee, Quarteto Novo, com Airto Moreira e Hermeto Pascoal, e Novos Baianos, com Moraes Moreira. Todos eles desabrocharam para suas carreiras nos festivais. Em sete anos. Quantos anos mais serão necessários para que se possa contar novamente com um elenco desse naipe na música popular brasileira? Ninguém sabe.”

Isso sem falar em Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Moraes, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Os Cariocas, João Donato, entre outros, que já nos tinham dado os caminhos da Bossa Nova.

PUBLICIDADE

É, Zuza. Passaram-se muitos anos e… nada. Uma coisinha aqui, um Lenine ali, uma Maria Rita acolá (essa tem berço, tá no sangue), mas nada de muito relevante.

Estamos em 2021. O que temos de peso, com qualidade de composição, interpretação? Nada comparável a essa safra de talentos. Ah, mas as coisas hoje estão diluídas, a indústria do disco acabou, tudo é streaming. Ok, mas não rola nada no nível desses caras. Nada. E posso dizer: naquele tempo era melhor.

 

> Henrique Macedo é jornalista (MTb nº 29.028) e músico. Mora há 40 anos na Vila Ema.

 

PUBLICIDADE