A três anos da eleição municipal que irá escolher o sucessor do prefeito Felicio Ramuth (PSDB), pode-se dizer que o candidato tucano está pronto. Também pode-se dizer que existe menos certeza quanto ao partido pelo qual o candidato do grupo irá disputar a eleição do que quanto ao seu nome.
O “projeto 2024” começou com a escolha de Anderson Farias Ferreira para ser o vice de Felicio na eleição municipal do ano passado. Eleito e empossado, ele passou a ocupar –junto com a Secretaria de Governança–um espaço que nenhum outro vice de governo tucano ocupou, desde 1997.
Anderson ganhou status de vice-que-manda, aparece com –e até sem– o prefeito em ações do governo, usa a palavra e ganha boa exposição pública. Ele conta até com uma assessoria para criar conteúdo e gerenciar suas redes sociais.
Outro dia, em um banner atribuído à Juventude Tucana, cometeu-se o exagero de afirmar que “projeto do vice-prefeito Anderson Farias estabelece ensino em tempo integral nas escolas municipais”. Sabe-se muito bem que vice-prefeito não pode ser autor de projeto nenhum, seu cargo é de expectativa, assume na ausência do prefeito eleito. Mas isto mostra um claro processo de construção do candidato.
Não bastasse tudo isso, na sexta-feira (17) Anderson rompeu a última barreira que o separava da imagem de sucessor de Felicio: o discurso político próprio. Com desembaraço e tendo o cuidado de não se sobrepor à figura do prefeito, ele deu entrevista ao competente âncora do jornal da rádio CBN Vale, Angelo Ananias, e analisou a saída do ex-governador Geraldo Alckmin do partido, além da possibilidade de que ele seja candidato a vice-presidente na chapa de Lula.
[Veja aqui] um dos melhores momentos da entrevista.
É claro que, em política, a palavra “certeza” não deve ser usada com frequência. Mas todos os fatos recentes levam a acreditar que, ao final do governo Felicio, o vice Anderson será o candidato do grupo à sucessão. Caso a operação precise ser abortada, existe pelo menos mais um nome que poderia ocupar o lugar –José de Mello Correa, poderoso ex-secretário, atualmente assessor de Projetos Especiais da Prefeitura–, mas tudo indica que isso não será necessário.
Quem chegou até este ponto do texto e acha prematura a definição interna do sucessor de Felicio, não deve esquecer que o PSDB não se perdoa até hoje pela derrota para o PT de Carlinhos Almeida em 2012, quando um misto de indecisão e falta de entendimento entre os principais líderes tucanos levou ao lançamento, em cima da hora, do advogado Alexandre Blanco, então secretário da Juventude. E o partido não conseguiu a vitória.
Agora, não resta quase nenhuma dúvida: o candidato de 2024 será Anderson Farias Ferreira. Planejado, construído, divulgado, com luz própria, tem três anos para ganhar polimento e entrar voando na campanha pela sucessão de Felicio Ramuth.
PONTO A PONTO
É cíclico?
Depois da onda ultradireitista que elegeu, entre outros, Jair Bolsonaro no Brasil, primeiro a Argentina e agora o Chile apostam em governos de esquerda. Os chilenos acabam de escolher o jovem Gabriel Boric, de apenas 35 anos, para dirigir o país. Enquanto isso, aqui no Brasil, o líder das pesquisas é o esquerdista-populista Lula. Será uma nova aposta do continente nos partidos de esquerda depois que as ultradireitas mundo afora –com destaque para Donald Trump – passaram a agradar apenas aos ultrarradicais?
Em SJC, comemorações
As redes sociais dos joseenses não passaram em branco após a vitória de Boric no Chile. Vários perfis de militantes do PT e de outros partidos de esquerda fizeram questão de comemorar o resultado. Com direito ao grito de guerra “Chi, Chi, Le, Le! Viva Chile!”
Mata a cobra e…
Em tempos de fake news e de eleitores com pavio curto, nada melhor que o político se antecipe e divulgue o voto que deu em matérias polêmicas. É o que fez o deputado federal Eduardo Cury (PSDB) logo após a votação do aumento do valor do Fundo Eleitoral de R$ 5,7 bilhões. “Votei contra”, anunciou Cury em um banner nas redes sociais. E ainda explicou: “O voto sim mostrado no print significa que fui a favor do veto e contra o Fundo”.
Mais paradesporto
Além de investir pesadamente na iniciação esportiva e na formação de atletas e equipes de base por meio do programa Atleta Cidadão, São José executa um trabalho elogiado na área do paradesporto.
Esse trabalho pode se expandir ainda mais. Está em tramitação na Câmara Municipal o projeto de lei 641/21, de autoria do vereador Marcelo Garcia (PTB), que propõe a concessão de área para a implantação de um centro de referência voltado para o desenvolvimento esportivo de pessoas com deficiência (PCD). De acordo com o vereador, a Prefeitura poderá conceder direito real de uso da área por 15 anos, prorrogáveis por mais 15.
Garcia ressaltou a necessidade de “um centro de referência com piscinas, quadras e salão para incentivar e desenvolver a prática de atividades esportivas”. E lembrou que o Estatuto da Pessoa com Deficiência “prevê que a pessoa com deficiência tem direito ao esporte em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”.
O projeto é autorizativo e, se aprovado pelas comissões internas da Câmara, deve ser votado na segunda quinzena de fevereiro.
Maioria é maioria
Não adiantou o choro da minoria de oposição. Na última quinta-feira (16), a base de apoio ao governo Felicio Ramuth na Câmara fez valer a sua esmagadora maioria e aprovou o projeto de lei complementar 19/21, regulamentando a emissão do Atestado de Regularidade de Construção no município.
A nova lei reconhece como construções regulares as edificadas e que pagam imposto há mais de seis anos, encurtando o prazo anterior, que era de dez anos. O valor da taxa de regularidade, que foi um dos motivos de toda a polêmica com a bancada do PT, não foi alterado. Será de R$ 20 por metro quadrado de área construída.
Só em fevereiro
A partir desta terça-feira (21), a Câmara entra em recesso até o dia 31 de janeiro. Apesar dos gabinetes de vereadores e da área administrativa funcionarem normalmente, só poderão ocorrer sessões extraordinárias quando convocadas de acordo com o regimento interno.
PESQUISAS
Lula já ganhou?
Se hoje em dia existe negacionismo para tudo, por que não existiria para as pesquisas de opinião, especialmente as pesquisas eleitorais? O problema é que pesquisa eleitoral é igual análise de arbitragem no futebol. Se o seu time venceu, o árbitro é ótimo; se perdeu, o árbitro não vale nada.
As pesquisas mais recentes para presidente da República divulgadas pelos dois institutos mais tradicionais do país –Datafolha e Ipec, o antigo Ibope– mostram que Lula pode comemorar e Bolsonaro deve repensar a sua estratégia. Os números, que mostram uma “fotografia” do momento atual, não deixam dúvidas: o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva seria eleito no primeiro turno.
Pelo Ipec, em um cenário com maior número de candidatos, Lula teria 48% dos votos no primeiro turno, Bolsonaro (PL) 21%, Sérgio Moro (Podemos) 6%, Ciro Gomes (PDT) 5%, João Doria (PSDB) 2% e mais os nomes com menos de 2%.
Mesmo na rejeição, a de Lula (28%) é bem menor que a de Bolsonaro (55%). Nesse quesito, o menos rejeitado –e teoricamente com boa chance de crescimento– é Moro, com 18%.
Quando entra em cena o Datafolha, a batata do atual presidente fica ainda mais assada. Nada menos que 51% dos ouvidos consideram Lula o melhor presidente que o país já teve, contra 11% de Bolsonaro.
Voltando ao instituto Ipec, a pesquisa mais recente também avaliou o atual governo. Somente 19% dos que opinaram consideram o governo de Jair Bolsonaro ótimo ou bom, 55%, o julgam ruim ou péssimo e 25% regular.
No geral, os dois institutos mostram que, neste momento, Bolsonaro está em queda nas avaliações enquanto Lula está em alta. Se o quadro se mantiver com essas tendências, será difícil tirar o terceiro mandato de Lula, apesar de tudo o que ocorreu no Brasil até o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Quanto a uma terceira via, parece ser apenas um sonho de uma noite de verão dos demais pré-candidatos.
A coluna Política & Políticos pediu três opiniões sobre os resultados das últimas pesquisas eleitorais: para a consultora política Gil Castillo, o presidente do PT joseense Wagner Balieiro e a deputada estadual Leticia Aguiar, bolsonarista atualmente no PSL. Veja, a seguir, as avaliações.
‘Temos 54% de indecisos’
“Ter 100% de certeza é como se, antes do início de um campeonato, já tivéssemos um vencedor. O que as pesquisas de intenção de votos, principalmente as estimuladas, indicam nesse momento é o que aconteceria se nada mudasse –candidatos, situação econômica e social, alianças, nível de conhecimento dos candidatos, entre tantos outros fatores. Além disso, neste momento importam outros dados para análise. Por exemplo, a última Pesquisa Genial+Quest aponta que temos 54% de indecisos e esse é um dado a se observar. O recall de Lula é enorme e isso traz uma grande vantagem no jogo político, mas a corrida ainda está começando. Temos muita placa tectônica para se acomodar: federações, alianças e janelas partidárias, terceira via e tudo o que pode vir à tona no período eleitoral. Sem dúvida, vai ser emocionante.”
Gil Castillo
Consultora política, diretora da agência de marketing político Tupy Company
‘Agora, é ampliar o debate’
“A pesquisa reforçou a liderança de Lula e mostra que ele é o mais preparado para o papel de reconstruir o Brasil e defender a democracia e as instituições. A população sabe o que foi o governo do presidente Lula e tem esperança de que esses bons tempos podem voltar. A eleição se define com voto na urna e até lá temos ainda muitas ações e debates a fazer. Agora, é ampliar o debate e somar com pessoas que defendem valores democráticos e um Brasil feliz de novo. Não se ganha eleição de véspera e podemos esperar de tudo do atual presidente no seu projeto de destruição.”
Wagner Balieiro
Presidente do PT (Partido dos Trabalhadores) de São José dos Campos
‘Nenhuma eleição se ganha nas vésperas’
“Absolutamente não. As pesquisas não refletem o que vemos nas ruas. O que vejo é uma militância da velha imprensa tentando tumultuar e antecipar resultados. Em 2018 mostravam pesquisas em que Bolsonaro perderia a eleição e ele venceu. Não existe pesquisa melhor do que ouvir a população nas ruas, olhando nos olhos, e nessa realidade vemos a grande maioria apoiando o presidente Bolsonaro para a sua reeleição. Não existe eleição decidida, a não ser que haja fraude. Será nas urnas que a vontade popular vai prevalecer. Qualquer tentativa de antecipar o resultado das eleições, com base em pesquisas, tem objetivo claro de apenas tumultuar o processo eleitoral e confundir a população.”
Leticia Aguiar
Deputada estadual pelo PSL (Partido Social Liberal) e bolsonarista histórica
GESTÃO
Itapemirim: um problemão
Bem que a Prefeitura tentou aplainar o terreno para evitar uma crise envolvendo o transporte coletivo do município. Juntou sindicalistas e empresários, obteve uma trégua e assinou o segundo contrato de gestão e operação do sistema com empresas do Grupo Itapemirim, vencedor de dois lotes da licitação, que passam a vigorar a partir de março do ano que vem.
Porém, a suspensão da operação da empresa aérea do grupo, ocorrida na última sexta-feira (17), fez aflorar novamente a grave crise que afeta suas empresas. Em nota, o Itapemirim informou que as empresas de ônibus continuam a operar normalmente.
Porém, o Sindicato dos Condutores do Vale do Paraíba, que representa a categoria dos motoristas e cobradores, chutou o pau da barraca e voltou à carga. Em nota divulgada nesta segunda-feira (20), a entidade disse que aguarda “uma posição oficial clara e imediata do prefeito Felicio Ramuth (PSDB) frente à crise do Grupo Itapemirim, assim como seu compromisso público, com garantias, de que o serviço de transporte público de São José dos Campos não será afetado por essa questão, alheia ao nosso município”.
O sindicato dos trabalhadores lembrou as denúncias que fez meses atrás –que teriam sido ignoradas–, de desrespeito a direitos trabalhistas pela Viação Itapemirim na cidade de Nova Friburgo (RJ); manifestou preocupação de que a crise do grupo venha contaminar o sistema de transporte público em São José dos Campos; e exigiu uma reunião urgente com o grupo para “tratar de garantias de emprego e direitos dos funcionários do sistema”.
É bom lembrar que a empresa de ônibus Itapemirim deverá operar a “joia da coroa” da atual administração, a Linha Verde.
A Prefeitura de São José dos Campos emitiu nota nesta segunda-feira informando que a empresa Itapemirim Group Ltda. apresentou todas as garantias necessárias na assinatura dos contratos de concessão das linhas 1 e 2 do novo transporte público, entre elas a criação de empresas específicas para a operação do sistema na cidade e a apresentação de apólice seguro-garantia.
TOQUE FINAL
> Texto alterado às 13h32 do dia 21/12/2021: o correto é “projeto 2024” em lugar de “projeto 2026”.