Imagem ilustrativa. Esta não sou eu, nem este é o meu marido, nem este é o nosso cachorro. Foto / Freepik

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Eu não via a hora de me casar para ter um cachorro. Parece estranho, mas é verdade. Na minha cabeça, um lar tinha que ter o casal e um cachorro para começar bem. O detalhe é que eu nunca perguntei para o meu marido se ele gostava de cachorro. Mas ainda assim, depois de alguns meses de casada, saí procurando o poodle dos meus sonhos. Sim, eu sempre sonhei ter um cachorro da raça poodle, não me julguem.

Fiquei sabendo por meio de uma amiga que uma cachorrinha havia dado cria e que só tinha mais um filhote para vender. Saí do trabalho na hora do almoço e, quando cheguei lá, claro que me apaixonei imediatamente por aquela fofura.

Conversa vai, conversa vem, falei para o rapaz –dono do cachorro– que ia pagar, mas voltava depois para pegá-lo, porque tinha que contar para o meu marido. A mãe dele nem disfarçou e já foi logo perguntando: Seu marido não sabe? Mas ele gosta de cachorro? Não, para a primeira pergunta e, não faço a menor ideia, para a segunda.

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Surpresaaaa!!!

Voltei para o trabalho e não conseguia tirar o cachorro da minha cabeça. Quando saí, ao invés de ir para a casa e contar a novidade para o meu amado esposo, resolvi comprar os apetrechos do cachorro: cama, vasilhas para comida e água, coleira, guia, brinquedinhos. O entusiasmo das compras foi tanto que saí da loja e fui direto buscar o cachorro. Pensei comigo: meu marido vai adorar, o cachorrinho é muito fofo.

Chegando lá, fiquei sabendo que a mãe e o filho haviam feito uma aposta. O filho apostou que eu voltaria no mesmo dia, e a mãe apostou que eu nem voltaria porque não tinha contado para o meu marido.

O filho ganhou a aposta. Eu não contei, mas fui buscar o meu cachorrinho, que parecia já estar me esperando. Coloquei ele no meu colo e saí dirigindo e imaginando vários nomes que combinassem com a carinha dele, mas nenhum me agradava.

Em casa, toda feliz, fiquei só esperando o maridão chegar. Enquanto isso, aproveitei para arrumar as vasilhas, o cantinho no nosso quarto onde ele ia dormir, coloquei a ração e comecei a brincar com ele. Algum tempo depois a porta se abriu, o marido entrou, me cumprimentou com pressa, foi direto para a cozinha, colocou umas sacolas na mesa, e quando voltou para a sala encontrou o pequeno ser fofo, lindo, maravilhoso, olhando para ele.

–– Mas o que é isso?

Pior do que essa pergunta, foi a que veio em seguida:

–– De quem é esse cachorro?

Eu respondi ainda com uma dúvida de felicidade no olhar:

–– É nosso. Não é lindo? Eu comprei.

Gente, gente, gente… o homem virou no Jiraya (como dizem).

–– Nosso? Você o quê? – perguntou ele, pra ter certeza da resposta.

Eu comprei. Respondi bem baixinho.

–– Você perguntou se eu queria um cachorro? Eu nem gosto de cachorro…

Foi então, naquele momento, que eu descobri que meu marido não gostava de cachorro.

Enfim, a coisa já estava feita e eu que não ia devolver o meu lindinho. O marido andava pela casa toda bufando, inconformado. E então, para descontrair um pouco, eu disse:

–– Ele não tem nome, você não quer dar?

Ele me fuzilou com os olhos e disse:

–– Isso aqui está igual ao kinder ovo, eu chego em casa e encontro uma surpresa, uma porcaria de surpresa.

Abusada, brincando com a morte, eu disse:

–– Nossa, adorei! Vou colocar Kinder.

E foi assim que o nosso primeiro cachorro foi batizado: na força do ódio.

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O amor venceu

Meu marido queria, de alguma forma, mostrar a raiva que ele estava sentindo. Então disse que o cachorro não ia dormir no quarto de jeito nenhum, que era para colocá-lo na área de serviço.

Por mais que eu tentasse, não houve negociação. Aquele cachorro pititiquinho foi dormir sozinho na área de serviço, e o castigo acabou sendo para mim, que fiquei levantando toda hora pra ver se ele estava bem. Bem-feito, quem mandou fazer as coisas sem combinar com o marido.

Kinder nos ensinou um outro tipo de amor. Foto / Arquivo pessoal

O tempo foi passando e, como eu trabalhava como gerente de uma loja do meu pai, em São José dos Campos, levava o Kinder para trabalhar comigo todos os dias, então o contato dele com o marido era pouco.

Um dia, na loja, percebi que ele estava mancando e quando chegamos em casa, nem estava andando mais. Naquela época não tinha tanta opção de clínica 24 horas, e tampouco Google ou celular para pesquisar e ligar. A busca era feita na lista telefônica. Ligando de um por um. Fala sério?

Achei uma clínica que ainda estava atendendo e, antes de sair, deixei um bilhete para o maridão: Fui com o Kinder no veterinário, acho que ele fraturou a patinha. Na clínica, depois de tirar raio X, enfaixar a patinha, tomar injeção para dor, fomos liberados e, quando estava saindo, dei de cara com o meu marido:

–– Como você sabia que eu estava aqui?

Foi o que eu perguntei, mas preste atenção nas perguntas que ele fez, enquanto fazia carinho no Kinder:

–– Ele está bem? O que aconteceu? Está doendo?

Naquele momento percebi que meu marido havia se tornado uma pessoa melhor ainda do que já era. Respondi que o Kinder estava bem, mas ainda estava curiosa para saber como ele havia nos encontrado.

Ele então me contou que a lista telefônica tinha ficado aberta, e que ele ligou para todas as clínicas procurando por nós. Ah, meu Deus, que fofo… Naquele dia ele deixou o Kinder dormir no quarto, e depois também, e depois e depois, até que ele começou a dormir junto com a gente, na cama.

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Bêbado

E como estamos na semana do Natal não tem como encerrar esta crônica sem antes contar como foi o nosso primeiro Natal: eu, marido e Kinder.

Estávamos eu e Kinder pititiquinho no sofá esperando papai chegar para irmos na casa da minha sogra. Enquanto esperava, resolvi tomar um vinho. Maridão chegou, conversamos, ele foi tomar um banho, coloquei o Kinder no chão, a taça de vinho e capotei, dormi gostoso.

Quando o marido volta do quarto dá de cara com o cachorro –ainda filhote, diga-se de passagem– lambendo o vinho da taça, não tinha tomado tudo.

Ele deu um baita grito, eu dei um pulo, meu espírito saiu e voltou para o corpo… meu Deus, como assim? Ficamos um olhando para a cara do outro sem saber o que fazer. O Kinder parecia bem, mas depois foi ficando sonolento. Que desespero. Rezei muito e deixamos o coitadinho dormindo, bêbado, embriagado.

Aquela noite parecia não ter fim. Eu sem conseguir pensar em outra coisa que não fosse no cachorro e ao mesmo tempo tentando ser a nora legal da primeira festa de Natal da família. Confesso que foi tenso. Mas quando chegamos em casa, Kinder estava bem, graças a Deus. Talvez sentindo uma dorzinha de cabeça, muita sede e falando pra ele mesmo: nunca mais vou beber aquele negócio vermelho.

Foram 13 anos de muito amor. Foto / Arquivo pessoal

Nosso Kinder viveu mais de 13 anos participando de todas as situações que marcaram a nossa vida, como por exemplo a chegada do nosso filho. Ele viajou com a gente e presenciou o encontro entre nós e o filho que Deus nos enviou.

Nosso amor por ele foi tanto que demoramos muito para ter outro cachorro. E então surgiu o Johnny, um poodle também, que veio com todas as características do Kinder. Mas essa história fica para a próxima semana.

Um ótimo Natal para você. E vamos cuidar para que o nosso pet não tome o nosso vinho (rsrsrsrs)!

Adote

> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.