Será que é possível cachorros conviverem com onças, leões, ou outros animais selvagens, como se fossem amigos? O que você acha? Se você respondeu que isso é loucura, algo impossível de acontecer, errou feio.
Esses dias, vi um vídeo hilário de um cachorro vindo no meio da mata acompanhado de um outro animal e a voz de um homem dizendo: “O Rex tava sumido e voltou. Olha, fez até um amiguinho!”
Quando o cachorro vai se aproximando e o outro animal também, dá pra ver que o outro animal que está acompanhando o cachorro é uma onça-preta, e o homem então começa a gritar nervoso: Rex, sai daí, Rex. É uma onça, sai Rex… (o vídeo está disponível acima).
A voz “nervosa” que chama o animal –e faz a gente rir– não passa de uma brincadeira. O áudio foi colocado em cima de imagens reais, já que os animais seguem plenos, brincando.
Na verdade, o vídeo mostra a cachorra Zabelê, da raça blue heeler, e a onça-preta Luna, verdadeiras amigas de infância que moram no IOP (Instituto Onça-Pintada), uma ONG dedicada exclusivamente a promover a conservação da espécie.
O instituto, que fica localizado na região rural de Mineiros, interior de Goiás, uma propriedade de 50 hectares, pertence ao casal de biólogos Leandro Silveira e Anah Tereza Jácamo, mas é a Zabelê que bota ordem no local e comanda todas as onças por lá.
Mas como isso acontece?
O instituto recebe onças filhotes órfãs, suas mães foram mortas em caçadas ou por pecuaristas defendendo seu rebanho. Assim que chegam, os filhotes entram em contato com a cachorrinha, que acaba virando um exemplo de comportamento, além, é claro, de surgir um vínculo amoroso entre elas.
No caso da Luna, a onça-preta do vídeo, quando ela chegou ao instituto Zabelê também era filhote, então a afeição entre as duas é ainda maior, o vínculo é mais forte. Elas se tratam como verdadeiras irmãs.
Hierarquia
O instituto possui onça-pintada, lobo guará, harpia, macaco-aranha, veado campeiro, pacarana, paca entre outros animais. Zabelê convive com a maioria deles em perfeita harmonia. Aliás, chega a dar desespero quando a gente vê a cachorra se aproximando das onças, mas é impressionante como ela se impõe. As onças, ou acabam brincando com ela ou ficam num canto, quietinhas.
Impressionante também é ver o casal de biólogos e o filho deles, Tiago Jácomo Silveira, de 15 anos, brincando com as onças como se fossem gatinhos mansos. As fotos e vídeos deles se divertindo com as onças, nos rios ou nos campos, correm o mundo e são emocionantes de ver. E essa interação bicho/homem também só é possível graças ao treinamento, digamos assim, que as onças receberam da cachorra.
E o domínio que a Zabelê tem sobre as onças é tanto que outro dia vi um vídeo nas páginas das redes sociais do instituto que me tirou o fôlego. Duas onças estavam se estranhando e o Leandro pediu à Zabelê para acalmar os ânimos das “mocinhas”.
Imediatamente a cachorra toma a dianteira, entra na jaula e coloca cada uma num canto. Confesso que tremi toda, achando que as onças iam dar fim na Zabelê. Mas que nada, os animais, melhor do que nós, sabem respeitar a hierarquia, mesmo tendo mais força. É algo impressionante de ver. Aliás, se você tiver curiosidade em saber mais sobre a Zabelê e o Instituto Onça Pintada, esses são os endereços:
https://www.jaguar.org.br/
https://www.instagram.com/zabele_iop/
https://www.facebook.com/JaguarFund
Luján
Esse método de colocar filhotes de felinos junto a cães para serem “domesticados” também era utilizado no polêmico Zoológico de Luján, em Buenos Aires, isso de acordo com os administradores do local.
Filhotes de tigres, leões e onças também eram colocados para conviverem com cães, e acabavam se comportando como tal.
O Zoológico de Luján era o único no mundo que possibilitava a entrada de pessoas nas jaulas desses felinos para fazer carinho e tirar fotos com eles. Tenho certeza de que você já deve ter visto foto de amigos ou parentes ao lado desses felinos imensos nas mídias sociais.
Porém, após duas décadas de funcionamento e um caminhão de denúncias de maus tratos aos animais –mais de 300 de diversas espécies, como elefantes, camelos, entre outros– o governo argentino decidiu fechar o local, em setembro de 2020.
Uma das denúncias era de que os animais (principalmente os felinos) eram dopados para serem apresentados aos visitantes. Mas isso nunca foi comprovado, até porque, segundo alguns veterinários, isso seria impossível, pois se eles fossem dopados todos os dias não resistiriam por muito tempo.
De qualquer forma, Luján não existe mais. O governo da Argentina estuda a possibilidade de transformar o local em um ecoparque, sem atividades que permitam o contato direto de humanos com os animais.
Portanto, se você, assim como eu, sonhava em fazer carinho na barriga de um leão ou de um tigre e ainda tirar fotos com eles sem virar comida, esquece! Mas, pensando bem, se os animais sofriam para que isso acontecesse, não valia a pena, porque nada, absolutamente nada, justifica maltratar um animal, muito menos para fazer uma foto.
Adote
> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.