Depois de tirá-los do quintal e dos telhados, colocá-los para dormir em nossa cama, dividir a pipoca assistindo a um filme, levá-los para todos os lados, comprar roupinhas, brinquedos, ração premium, petiscos, chamar de filho e conversar com voz melosa, nós conseguimos mexer tanto na identidade dos pets que, muitos deles, estão precisando passar por um psicólogo para poder se encontrar novamente.
Tá achando que é brincadeira?
Pior que não é…
O seu cachorro (ou gato) anda agressivo, ansioso, tem problemas para se separar de você, não interage com outros da sua espécie, é hiperativo, destrói tudo o que vê pela frente, sente muito ciúme, a ponto de atacar seja lá quem for, ou não te obedece? Trate de marcar uma consulta com um etólogo.
É isto mesmo. Um etólogo, um profissional veterinário que se especializou em etologia, também conhecida como Zoopsiquiatria ou Medicina Veterinária Comportamental. Trocando em miúdos: um psicólogo para pets.
O foco desse profissional é abordar clinicamente os problemas comportamentais do animal, buscando melhorar a qualidade de vida e o bem-estar não só do animal, mas também da família que o acolhe.
O etólogo não é um adestrador, que fique bem claro. O adestrador é um condicionador de rotinas e comandos –o que, em alguns casos, pode trazer ótimos resultados. O etólogo vai além, quando procura diagnosticar o porquê do animal estar tendo determinadas atitudes e focar num tratamento adequado para aquela situação.
E muitas vezes o etólogo acaba até mesmo salvando a relação entre os tutores e o seu pet, porque a situação pode chegar a um ponto tão crítico, pelo fato do animal não se comportar bem, que os donos não veem outra solução que não seja doá-lo ou, pior ainda, abandoná-lo.
E esse “se comportar mal” passa por situações em que os animais não conseguem conviver com crianças, por exemplo, querem avançar; não sabem receber carinho ou brincar, já começam a morder; não podem ficar sozinhos em casa que destroem móveis; latem incessantemente; puxam roupas do varal e rasgam tudo, enfim, não conseguem ter uma vida feliz e nem deixar que os seus tutores também tenham.
Os especialistas dizem que, quando o animal apresenta esses problemas, o primeiro passo é tirar todas as dúvidas em relação à sua saúde física. Fazer exames de sangue, urina, fezes para ter certeza de que ele não está com problemas hormonais, por exemplo, ou nos rins, algo que pode mexer com o seu comportamento.
Feito isso –e se não houver nenhum indicativo de problemas na saúde do animal–, é hora de procurar um etólogo para ajudar a resolver esses problemas comportamentais, lembrando que esse profissional fará o trabalho dentro da sua casa, observando toda a rotina do animal e como ele se comporta com todos à sua volta.
A partir daí é que começa a ser realizado o tratamento propriamente dito, que, assim como as terapias em humanos, não tem data certa para acabar, depende de como o animal vai responder ao tratamento.
Vem de longe
Só pra constar, a análise do comportamento dos animais é tão antiga quanto a humanidade. Afinal, como você acha que os nossos ancestrais conseguiam alimento, protegiam-se de predadores e chegaram até mesmo a domesticar alguns animais? Observando o comportamento deles.
Na verdade, a etologia era ligada à biologia, e o primeiro biólogo a estudar o comportamento animal, incluindo o ser humano, foi Charles Darwin, autor do livro “A expressão das emoções no homem e nos animais”.
Não faz muito tempo que a etologia foi incorporada à medicina veterinária, e todos os tipos de animais –cachorros, gatos, cavalos– podem ser atendidos por um etólogo. Os cachorros, seguidos pelos gatos, sãos os mais necessitados desse tipo de atendimento, simplesmente porque nós, com o nosso amor –e por que não dizer, nosso imenso egoísmo–, decidimos humanizá-los a tal ponto que eles acabaram se perdendo no caminho.
Seria egoísmo?
Ninguém aqui é contra tratar o animal com amor, de jeito nenhum. O que não é certo, de forma alguma, é tratá-lo como um humano, porque ele não é. E quando você acha que está fazendo o melhor, é bom ter em mente que se o seu pet está tendo problemas comportamentais talvez seja exatamente pelo fato de você estar querendo fazer dele algo que ele não é: uma minigente.
No começo do mês de janeiro, o papa Francisco causou uma certa polêmica quando disse que os casais que substituem filhos por animais são egoístas. Muitos concordaram e muitos disseram que o papa não tinha nada que se meter nesse assunto, que cada um faz o que quer da sua vida.
Na minha humilde opinião, acho que o papa estava querendo dizer que não se pode criar um animal de estimação como se fosse um filho, no que ele está totalmente certo (aliás, já abordei esse assunto aqui na minha coluna).
Por mais amor que a gente sinta pelo nosso bicho de estimação –e ninguém duvida que é imensamente imenso– ele nunca vai substituir um ser humano amado por nós. E no quesito egoísmo, o papa está certo também, porque é muito egoísmo da nossa parte querer que o pobre animal ocupe o lugar de um filho. Afinal, ele nasceu para ser apenas e tão somente um animal e ser amado exatamente por ser isso. Pense nisso!
Adote
> Edna Petri é jornalista (MTb nº 13.654) há 39 anos e pós-graduada em Comunicação e Marketing. Mora na Vila Ema há 20 anos, ama os animais e adora falar sobre eles.