Viviane Mosé
muitas doenças que as pessoas têm
são poemas presos
abscessos tumores nódulos pedras são palavras
calcificadas
poemas sem vazão
mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido poema
pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima
lágrima é dor derretida
dor endurecida é tumor
lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor
lágrima é raiva derretida
raiva endurecida é tumor
lágrima é pessoa derretida
pessoa endurecida é tumor
tempo endurecido é tumor
tempo derretido é poema
você pode arrancar poemas com pinças
buchas vegetais, óleos medicinais
com as pontas dos dedos, com as unhas
com banhos de imersão
com o pente, com uma agulha
com pomada basilicão
alicate de cutículas
massagens e hidratação
mas não use bisturi nunca
em caso de poemas difíceis use a dança
a dança é uma forma de amolecer os poemas
endurecidos do corpo
uma forma de soltá-los
das dobras dos dedos dos pés, das vértebras
dos punhos, das axilas, do quadril
são os poema cóccix, os poema virilha
os poema olho, os poema peito
os poema sexo, os poema cílio
ultimamente ando gostando de pensamento chão
pensamento chão é poema que nasce do pé
é poema de pé no chão
poema de pé no chão é poema de gente normal
gente simples
gente de espírito santo
eu venho do espírito santo
eu sou do espírito santo
traga a vitória do espírito santo
santo é um espírito capaz de operar milagres
sobre si mesmo
Viviane Mosé é poetisa, filósofa, psicóloga, psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nasceu em 16 de janeiro de 1964 em Vitória (ES). Fonte: Wikipédia
> Júlio Ottoboni é jornalista (MTb nº 22.118) desde 1985. Tem pós-graduação em jornalismo científico e atuou nos principais jornais e revistas do eixo São Paulo, Rio e Paraná. Nascido em São José dos Campos, estuda a obra e vida do poeta Cassiano Ricardo. É autor do livro “A Flauta Que Me Roubaram” e tem seus textos publicados em mais de uma dezena de livros, inclusive coletâneas internacionais.