Meryl Streep e Tommy Lee Jones: terapia de casal após crise em casamento de três décadas. Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

“Lapidar” foi o sinônimo mais adequado que encontrei para traduzir o nosso amadurecer. Vamos nos lapidando a cada encontro e também nos desencontros, a cada escolha e nas imposições, a cada decepção, tanto quanto na alegria das vitórias, a cada chegada e a cada partida, a cada lágrima derramada e nas muitas caladas na alma. Vamos amadurecendo, assim, independentemente de quantos calendários se passaram.

O pôr do sol marca um tempo que, por vezes, sentimos ser diferente da nossa data de nascimento. Passados 50, 60, 70, 80 e mais anos, alguns de nós têm maior agilidade e vigor do que outros (até bem mais jovens), mas há também os que fazem da vida apenas mais um dia. Há que se respeitar: são as escolhas de cada um. Seja qual for o seu perfil, a verdade é que todos nós acumulamos experiências que vão se constituindo na bagagem que carregamos, aonde quer que escolhamos ir.

Escolhemos, mudamos, zarpamos, permanecemos, lembramos, exigimos, ficamos, compartilhamos, queremos, relevamos, aprendemos, buscamos e, nas mais diferentes formas, amamos. E o amor maduro aprende a conjugar verbos que nem sempre conhecemos na juventude: admirar, relevar, compreender, esperar, apreciar, justificar, aceitar, acolher. Admiramos o outro pelo conjunto de qualidades (sabedores de que há defeitos, sim!), relevamos suas rusgas (nem todas, para que se mantenham o respeito mútuo e elevada a autoestima) e pequenos lapsos de memória.

Compreendemos seus dissabores e nos dispomos a esperar no “seu” tempo (muitas vezes diferente do nosso), apreciamos estar juntos, seja um simples café em casa ou na Champs-Élysées –desde que a dois. Justificamos suas falhas (no tempo, no espaço, nas repetições de histórias) e seu recolhimento eventual (cada qual em sua caverna). Acolhemos e aceitamos o outro tal qual ele é –em parte porque gostaríamos da reciprocidade de acolhida e aceitação, compreensão e admiração; queremos respeito ao nosso tempo e esperamos sejam relevadas nossas falhas (que sempre julgamos pequeninas). E a conjugação de todos esses verbos é algo que somente a maturidade o faz.

Neste ponto da estrada da vida não há tempo nem espaço para egocentrismo. Fizemos uma escolha: trocar brigas por afeto, ciúme por fascinação, ansiedade por serenidade e, nesta era da tecnologia, preferimos tê-lo, às telas (exceto para ver juntos um bom filme).

Juntos, somamos mais de um século de experiências, de sucessos e fracassos profissionais, de exaltações e decepções, de perdas e ganhos. A (muitas vezes doentia) competição a dois ficou nas décadas passadas, pois amar na maturidade é ser cúmplice e apreciar o outro neste caminho que nos propusemos percorrer, enlaçados ao saldo positivo de cada um.

Ainda temos muito a descobrir! Lugares a conhecer, pratos e vinhos a degustar, caminhos a desbravar, netos –quiçá bisnetos– a ver crescer, conhecimentos a adquirir, momentos de intimidade a compartilhar…

Diante dessa incógnita chamada tempo, faz parte do “Amor na maturidade” desfrutar um dia de cada vez e sermos gratos à Vida por cada amanhecer juntos.

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“Um Divã Para Dois”

Em 2018, Hollywood nos presenteou com uma comédia romântica que se distingue por abordar a crise de um casamento de três décadas. “Hope Springs” traz os desejos de Kay (Meryl Streep: “O Diabo Veste Prada”, “Não Olhe Para Cima!”, “Simplesmente Complicado”) e as dificuldades de Arnold (Tommy Lee Jones: “MIB – Homens de Preto”, “Lincoln”, “A Grande Virada”), que ambos guardam calados dentro da sua rotina, sempre privilegiando a casa às vontades individuais.

Os sentimentos por ela contidos vêm à tona vez ou outra, tornando o sexo (e a falta dele, pelo constrangimento do marido em face da idade de ambos) a gota d’água da explosão do seu inconformismo. Kay resolve fazer a inscrição numa terapia de casal com o famoso dr. Feld (Steve Carel: “Vice”, “A Grande Aposta”, “O Virgem de 40 anos”), o que os obriga a sair de sua rotina e viajar para uma cidade litorânea.

Prepare-se para rir muito na cena em que ela abre pela primeira vez um livro sobre sexo e, mais ainda, quando ela treina sozinha outras possibilidades de prazer a dois. As situações e comportamentos não são privilégio de casais idosos, portanto tire as crianças da sala, pegue a bacia de pipoca e boa diversão! Disponível no Now e Amazon Prime Video.

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 “Do Jeito Que Elas Querem”

Nos arredores da Califórnia, quatro mulheres acima dos 60 anos, de classe média alta e amigas de longa data, criaram um clube do livro e se reúnem mensalmente, oportunidade para degustarem bons vinhos, conversar e rir bastante. Ao lerem juntas o erótico best-seller “Cinquenta Tons de Cinza”, Vivian (Jane Fonda: “Nossas Noites”, “A Sogra”), Diane (Diane Keaton: “Alguém Tem Que Ceder”, “Um Amor de Vizinha”), Sharon (Candice Bergen: “Doce Lar”, “Miss Simpatia”) e Carol (Mary Steenburgen: “Última Viagem a Vegas”, “A Proposta”) passam a ousar mais no sexo e no amor, com seus atuais ou novos parceiros.

Arthur (Don Johnson: “Entre Facas e Segredos”, “Django Livre”) é um grande amor da adolescência da rica e solteira Vivian; Mitchell (Andy Garcia: “A Mula”, “O Infiltrado”), o charmoso que vai abalar as estruturas da viúva Diane, controlada pelas filhas superprotetoras;  George (Richard Dreyfuss: “A Última Gargalhada”, “Red: Aposentados e Perigosos”), frequentador de aplicativos de namoro, cai nas graças da divorciada e circunspecta juíza federal Sharon; por fim, Bruce (Craig Nelson: “A Proposta”, “Tudo em Família”) é o apagado e aposentado marido de Carol. “The Book Club” é um filme leve, mas não deixa de pontuar algumas questões do envelhecimento, como relacionamentos amorosos e a sexualidade. Se precisasse resumi-lo numa frase, eu escolheria a velha e conhecida “Nunca é tarde para amar”! Disponível no Google Play.

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 Série

“Os Homens São de Marte… e é Pra Lá Que Eu Vou”

Esta é mais uma diferenciada série brasileira, fruto do filme de mesmo título e criada por sua protagonista. Fernanda (Mônica Martelli: “Os Homens São de Marte”, “Minha Vida em Marte”, “Minha Mãe é Uma Peça”) é uma bela e verborrágica mulher de 40 anos, na busca eterna do eterno amor –e sempre acredita que este é o definitivo! Ora casada, ora divorciada, é uma empresária do ramo de eventos e tem como sócio e confidente Aníbal (Luís Salém: “Quem Vai Ficar com Mário?”, “Turbulência”, “Os Homens São de Marte”), que vive uma relação homoafetiva.

Natalie (Julia Rabelo: “Os Homens São de Marte”, “O Candidato Honesto”, “A Noite da Virada”) é sua melhor amiga, disposta a apoiá-la mesmo diante das mais absurdas ideias. A cada episódio, cenas hilárias (que podem ter sido vividas por qualquer um/a de nós) e diálogos ricos sobre amores e desamores, conciliação de trabalho e maternidade, reflexões sobre o envelhecimento. Elenco ótimo, assim como o roteiro (incluindo Mônica Martelli) e direção (Suzana Garcia). Disponível na GloboPlay.

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> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), atua como redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há nove anos na Vila Ema.