Foto / TRE-MG/Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Passei a minha infância, juventude e início da vida adulta tendo que conviver com liberdade política bem limitada. Até dezembro de 1978, quando o Jornal do Brasil “furou” toda a imprensa nacional ao anunciar que o AI-5 (Ato Institucional número 5) tinha deixado de existir, eu era mais um dos brasileiros que sabiam o quanto era restrita a liberdade política no país.

Mas aquele regime autoritário não impedia que, nos bastidores, ou até nos subterrâneos, a política estivesse a cada dia mais viva, mais esperançosa de que, como dizia Chico Buarque em uma letra de música, “amanhã vai ser outro dia”.

Hoje, 43 anos depois da extinção do AI-5, que foi considerado a instalação de uma ditadura no país depois de quatro anos de tentativas dos militares e civis que os apoiavam de conduzir as reformas do movimento de março de 1964 de forma menos traumática, vejo que ainda está tudo errado.

Eu era um simples repórter de jornal impresso naquele ano de 1978, aqui em São José dos Campos. Percebia claramente que havia uma compreensível divisão entre quem era contrário ao movimento de 64 e quem era favorável. Mas quem era favorável? Simplesmente essas pessoas não “existiam”, especialmente entre os mais jovens.

Aliás, acredito que o tal “cancelamento” de hoje, que acontece principalmente nas redes sociais, foi criado naqueles tempos. Ai de quem não fosse, como se dizia na época, “de esquerda”. Não conseguia participar da política estudantil, era boicotado em indicações para estágio ou emprego, não conseguia, em muitos casos, nem namorar. Resumindo: não era de esquerda, era cancelado.

Os tempos foram mudando. Veio o fim do regime militar em 1985, vieram presidentes eleitos pelo voto direto, inicialmente de centro (ou seria centro-esquerda?), como Fernando Henrique Cardoso, o FHC, até chegar em Lula, que muitos acham que foi um presidente de esquerda, mas eu não acho. Foi um conciliador, populista, adepto das políticas de resultados.

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Cadê a direita?

Durante todos esses anos, começando lá nos anos 70, a ideologia de direita foi execrada, massacrada, praticamente “proibida” no Brasil. Prova disso é que nenhum partido político –nem mesmo os que apoiavam os governos militares– tinha a coragem de se declarar “de direita”.

Resultado: foram anos e anos, quase quatro décadas, até que um político de direita fosse eleito para o maior cargo do país, Jair Messias Bolsonaro, para presidente da República. Tudo resolvido? De jeito nenhum. Bolsonaro mostrou, desde o início –aliás, ao longo de quase toda a sua carreira–, que não é um político de direita, é um político que flerta com a extrema-direita.

Você pode perguntar: “Mas qual é a diferença entre direita e extrema-direita?”. Permita-me responder: a diferença é muito grande. Tão grande que essa palavra tão pouco usada no dia a dia, “extrema”, pode mudar tudo na vida do brasileiro.

O que eu quero dizer, depois dessa conversa de “cerca-lourenço”, é que todas as formas de pensar são válidas e devem ser respeitadas em uma democracia. Desde a esquerda e a direita, até as várias nuances ideológicas que caminham para o centro.

Vamos ter eleição para escolher quem será o próximo presidente do Brasil. A minha ideia com este artigo é que você use e abuse do seu direito de escolher o seu candidato, independentemente da ideologia dele. Vote naquele que expressar melhor o seu pensamento. Mas, se me permite uma sugestão, fuja dos extremos, seja à direita ou à esquerda. O Brasil nunca se deu bem com os extremos.

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Já que este espaço pede uma história, vou contar uma, verídica, sobre essa questão de patrulhamento ideológico. Era assim que os militantes escolhiam quem iriam prestigiar ou quem iriam “cancelar”.

Em 1993, eu jornalista, sem filiação partidária, trabalhando, cuidando da minha vida, primeiros dias do governo da médica Angela Guadagnin, em uma das primeiras prefeituras de cidades importantes conquistadas pelo Partido dos Trabalhadores, o PT. Um dia, uma colega de quem gostava muito, me revelou o seguinte. “Seu nome foi citado para diretor da área de Comunicação, recebeu vários elogios, mas no final foi rejeitado. É que alguém disse: ‘pena que é de direita’.”

Esclarecendo, quase 29 anos depois. Não sou de esquerda, não sou de direita e, principalmente, não sou radical. Mas respeito todos os esquerdistas e direitistas que sejam democráticos. E quero que todos os radicais antidemocráticos acertem suas contas com o Satanás.

Desculpe o “radicalismo”, mas é só uma maneira de reforçar que a democracia é o único caminho para melhorar o Brasil. Seja com governos de esquerda, seja com governos de direita, seja com governos de centro.

Teremos eleições em outubro. Pense, reflita.

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

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