Foto / Pinterest

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Logo cedo apareceu um amigo e me avisou:

–– Zé, já está tudo certo, você pode descer sexta-feira para o meu apartamento lá em Caraguá e ficar duas semanas. É o paraíso, leve as crianças e a patroa.

A praia do morador de São José dos Campos sempre foi Caraguatatuba. Falava em litoral, banho de mar, o joseense já suspirava pela querida Caraguá. E ainda hoje é assim, se bem que também Ubatuba e São Sebastião sejam alvos secundários.

Muitos joseenses abonados tinham casa na avenida da praia da cidade em Caraguatatuba, desde os anos 1940-1950, como os Weiss e outras famílias da cidade. Outros tinham lá sua casinha e, depois, apartamento, agora na melhor praia, a de Martim de Sá.

Antes era a Prainha a de preferência dos banhistas, a tal da Pedra do Jacaré. Quantos e quantos não se atiravam de lá ao mar, fazendo trampolim, bem como tirando fotos.

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A descida para Caraguá já era uma festa, carros cheios, quando não caminhões e depois as Kombis, substituídas hoje pelas vans, fazendo algumas vezes a tal farofa: pedaços cosidos de frango misturados com uma rica farofa, fácil de comer. Daí o nome de farofeiros. Participei de uma farofada dessas, indo de Kombi, bate-e-volta, um sacrifício, mas compensador, para a época. Ademais, fui em melhores condições também.

Soube pelo meu sogro que a estrada para Caraguatatuba ia até a serra; de lá, descia-se a pé, por trilha. Foi durante a Revolução de 1932 que abriram a estrada, na mesma trilha das mulas. Foi asfaltada no tempo do Jânio Quadros e reconstruída após a terrível tromba d´água de 1967.  Agora é a gloriosa rodovia dos Tamoios, de pista dupla, estando a terminar a duplicação na serra e acessos facilitados para Ubatuba e São Sebastião, obras magníficas.

Quando escutei o amigo me convidando para ficar no apartamento dele em Martim de Sá, lembrei-me logo de uma temporada típica de litoral.

Logo cedo –no apartamento emprestado ou alugado, cheirando a mofo− crianças arrumadas, brinquedinhos, pazinhas, baldes, em suma, toda aquela tralha infantil reunida, tudo arrumado no carro, segue-se finalmente em direção ao paraíso.

Chega-se à praia, depois de muito rodar, ajustar-se com o flanelinha e tentar em vão que alguma criança carregue parte do equipamento. Entretanto, o local já está lotado, você a custo encosta numa gente de aparência simpática –mais tarde apura que tem maus modos.

Logo ao abrir o guarda-sol, a surpresa: duas varetas estão quebradas. A esta altura o Joãozinho, afoito, já estava lá na água, se afogando como de regra, depois de um caldo.

Peço uma cerveja no quiosque perto, para relaxar. Cara e quente.

Sentada na sua cadeira, a mulher tentando esfregar aquele pegajoso bloqueador na prole, você acha que está tranquilo, cervejinha meia-boca na mão, mas atormentado por infernal romaria de ambulantes.

Então acontece o inevitável: o Joãozinho se perde.  Depois de quinze minutos de gritos de chamadas e indagações a esmo, surge o amado pimpolho, chupando sorvete, a mãe toda descabelada!

Calma, vamos caminhar na praia. Seria bom se não fossem as boladas dos valorosos integrantes do futebol clube manos da areia. Ou se não pisasse na sujeira e não ficasse com o ouvido estourado pela instigante música saindo de imensas caixas acústicas.

Ah, mas o banho de mar compensou, não?  Não! Nada daquela água salgada gostosa e relaxante. Tem de ficar atento às motos aquáticas e desviar também das pranchas de surfe.

Hora de ir embora –ufa!− as costas queimando, os pés inchados, pois ficaram fora da sombra do guarda-sol. Entram os pequenos no automóvel, plenos de areia, pés no estofamento, maiôs molhando tudo, além das toalhas ensopadas nos bancos.

Chegada ao apartamento, briga pelo chuveiro, o chão cheio de areia. O almoço, aquele macarrão ítalo-brasileiro, com suposto molho à bolonhesa, salsicha de pacotinho e arroz à gaúcha −de Pelotas.  Em seguida ao banho, loções para queimaduras. Finalmente vou tirar uma sonequinha. Esquece. É criança em cima da sua barriga, chorando e gritando:

–– Pai, vamos ao parquinho?

Voltando ao início desta estoriazinha, passei a tarde me lembrando das peripécias da praia e desisti do delicioso final de semana.  Ainda bem que não cheguei a avisar a mulher.

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> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.

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