Julia Garner vive a assistente de um executivo da área de entretenimento com hábitos pouco ortodoxos. Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

Eis uma profissão que exige disciplina, discrição e nem sempre recebe o merecido reconhecimento. Uma assistente conhece em detalhes a vida de seu chefe ou sua chefe, guarda seus segredos, assume suas falhas, oculta seus deslizes, conhece todos –ou quase– os seus passos; transpostos os limites entre o profissional e o privado, a assistente deve estar sempre pronta a atendê-lo(a).

A protagonista Jane (Julia Garner: séries “Inventando Anna”, “Ozark”, “Dirty John – o Golpe do Amor”) é a mais jovem assistente que trabalha para um executivo da área do entretenimento. Ela divide o escritório com dois colegas que praticamente a ignoram, mas não permite que isso abale sua rotina, pois esse é o emprego desejado por toda mulher que, como ela, deseja seguir a carreira de produtora de cinema.

Com um chefe exigente e grosseiro, Jane se mantém calada e subserviente diante de todas as evidências de que ele mantém relações íntimas com candidatas a atriz (brincos perdidos no tapete, seringas de medicamento para disfunção erétil deixadas à mesa, viagens repentinas, despesas suspeitas, homens que não sentam no único sofá da sala dele por conhecerem os hábitos sexuais do magnata das telas), muitas delas confirmadas pelo silêncio do fiel motorista particular.

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O incômodo, entretanto, torna-se crescente e intolerável quando percebe que se aproxima uma nova situação de abuso: a chegada da jovem Sienna (Kristine Froseth: “O Apóstolo”, “O Rebelde no Campo de Centeio – A Vida de J. D. Salinger”), bela, ingênua e inexperiente ex-garçonete, que vem para a cidade grande a convite do executivo, que lhe ofereceu uma oportunidade para ser assistente, mesmo sem qualquer qualificação. A principal evidência de abuso sexual está no pedido do chefe para Jane hospedar Sienna num hotel, para onde ele se encaminha pouco tempo depois.

Excelente atuação de Julia Garner ao digerir posturas machistas na empresa, ao ser vítima da ira da esposa traída à procura do marido ao telefone, ao representar para os pais o falso papel de filha feliz e ao optar por manter-se calada ante à oportunidade de denúncia de abuso, numa empresa em que a conivência machista é regra e denúncias não são bem vistas.

A diretora australiana Kitty Green (Prêmio AACTA 2013 pelo filme “Ucrânia Não é Bordel”), que também produziu, escreveu e editou o filme, talvez tenha intencionado trazer para a trama um tanto do que já viveu como assistente, e o conseguiu, usando talento para nos trazer uma história forte, que se passa num único dia e ambiente de trabalho. Disponível na Amazon Prime Video.

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Série

Inventando Anna

Estreou esta semana mais uma boa série criada pela roteirista Shonda Rhimes (criadora das excelentes “Gray’s Anatomy”, “Scandal”, “Como Defender um Assassino”, dentre outras). A jornalista Vivian (Anna Clumsky: séries “Hannibal”, “Veep”) fica um tanto obcecada em conhecer a fundo e escrever a história da protagonista do mais recente escândalo que abalou Nova Iorque: Anna Delvey (Julia Garner: séries “Dirty John – o Golpe do Amor”, “Ozark”).

Nas primeiras cenas, fotos da jovem –que se apresentava como herdeira alemã e teria dado golpe em hotéis de luxo, famílias abastadas, galerias de arte e até em instituições financeiras– estampa todos os jornais e revistas da cidade, com notícias de sua prisão. A trama é muito bem tecida e envolve uma veia que permeia a elite nova-iorquina.

Com produção baseada em fatos reais (Anna Sorokin, processada e condenada em 2019), a série transita entre personagens que vivem num mundo glamoroso sob marcas de luxo, festas em iates, casas em The Hamptons e restaurantes sofisticados, pessoas cujos mútuos interesses as levaram a abraçar a audaciosa, elegante, culta e perspicaz Anna –ou o perfil com que ela se apresentou. Ótima opção que acaba de sair do forno da Netflix!

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> Tila Pinski é jornalista (MTb 13.418/SP), atua como redatora e revisora de textos, coordenadora editorial e roteirista. Cinéfila, reside há nove anos na Vila Ema.

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