Como foi bom ganhar um santinho de presente da Irmã Diretora do Jardim de Infância naquele início da década de 1950. Eu deveria ter uns quatro anos, aquilo para mim –e para qualquer criança daquela época– tinha um importante significado. Não tem o jovem de hoje a menor ideia da relevância disso, pois criado num mundo diferente a partir da década de 1960.
Lembro-me da doçura da freira, muito amorosa, reconfortante figura feminina cuja imagem ficou impregnada na mente, somando-se a outras, a começar pela minha saudosa mãe. Digo isto numa oportuna e gostosa reflexão, agradável retorno ao passado, estimulado na verdade por este mês de março dedicado merecidamente às mulheres.
Da figura de mãe não se faz necessária nenhuma explicação, além daquilo que todos já sabem e experimentaram, com trágicas exceções, como a palavra mais doce a carregar ao longo da vida. Pudera, desde que veio à luz, tanto homem como mulher, o mundo desse bebê se resumiu, por um bom tempo, naquilo proporcionado pela mamãe: praticamente a única imagem, um seio para se alimentar, constantes toques carinhosos, palavras suaves e tranquilizadoras.
Felizes aqueles que –podendo fazê-lo– retribuem à mãe ou àquela que a substituiu essa dedicação e consigam imaginar quantas e quantas vezes ela se preocupou com sua manutenção, saúde e desenvolvimento. Nós não sabemos a maior parte de tudo que essa mãe passou por nossa causa, as lágrimas derramadas, as noites tormentosas e sobressaltos ao lado do filho enfermo, o tanto que carregou calada pequenos e grandes sofrimentos nessa maravilhosa, mas difícil missão.
Porém, não é somente sob este foco que se deve destacar a mulher, tudo passa por parentes próximos, avós, tias e irmãs, bem assim colegas de escola e de trabalho, ao longo da existência. Essenciais são as esposas fieis, dedicadas, amorosas, no mais das vezes dando crucial apoio para o crescimento do marido, quando não cumprindo jornada em dobro.
Mulheres povoam a existência masculina, reais ou idealizadas. Não podem ficar esquecidas as paixões da juventude, restando apenas doces lembranças de mulheres amadas. Memórias muitas vezes tênues, mas doces, de amores rompidos ou sequer iniciados.
As professoras, por outro lado, assumem fundamental papel na nossa vida, ao lado dos mestres do sexo masculino, marcando e influenciando nossa vida para sempre. Tive inúmeras e excelentes professoras, que ao longo dessa estrada de vida me ajudaram a formar o caráter e estimularam meu crescimento intelectual.
Já na nossa São José dos Campos, a partir de 1964, encontrei excelentes professores, as mulheres ainda em muito menor número, porém se destacando. Vêm-me à memória duas que me encantaram muito e conseguiram mostrar a beleza das matérias que lecionavam, diante de sua competência e simpatia: a primeira Dona Janú, solidificou o meu interesse pela História; a segunda, Dona Zélia Ortiz, revelando-me de maneira cativante as maravilhas da biologia. Ambas do bem-conceituado Instituto de Educação Coronel João Cursino.
Outras professoras desse São José antigo merecem lembrança, embora restritas à época em que fui estudante, já distante no tempo. Da turminha já madura, quem não se lembra, além das mestras Janú e Zélia Ortiz, das professoras Cleide Bonetti Calazans Camargo, Nazaré, Eny, Jandira Palma, Maria Aparecida Madureira Ramos, Dirce Saloni Pires, Vera Bijos, Benedita Vicentina Miragaia Mendes, a Jaú, Dirce Saloni e a prestigiada Dona Durvina?
No entanto, com sua citação simbólica, porque incompleta, fica minha homenagem não só a essa categoria como a todas as mulheres desta cidade e do mundo todo, algumas agora sofrendo consequências terríveis da guerra. Mulheres –oportuno dizer− cujos direitos devem ser mais e mais reconhecidos pela sociedade, para colocá-las em pé de igualdade com os homens, como merecem.
> José Roberto Fourniol Rebello é formado em direito. Atuou como juiz em comarcas cíveis e criminais em várias comarcas do estado de São Paulo. Nascido em São Paulo, vive em São José dos Campos desde 1964, atualmente no Jardim Esplanada. Participou do movimento cultural nascido no município na década de 60.