Foto / Divulgação

Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 45 anos. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

O jornalismo tem algumas bobagens, algumas “leis” bem antigas, escritas não se sabe por quem, que precisam ser revistas. Alguns exemplos:

– Se a notícia é positiva e envolve o nome de uma empresa comercial, não cite o nome da empresa para não fazer propaganda gratuita dela.

– Se a notícia é negativa e envolve o nome de uma empresa comercial, cite o nome da empresa para que ela “pague” pelo seu erro.

– Se uma notícia envolvendo um governo (municipal, estadual ou federal) é claramente positiva e vai render dividendos para esse governo, coloque no texto alguns “mas”, “porém”, “contudo”, “todavia”. Afinal, você não é assessor de imprensa e podem até achar que está levando “algum” por fora.

– Se uma equipe esportiva ou um projeto cultural recebe patrocínio de empresas para se viabilizar, nunca cite o nome dessas empresas. Se ela quiser divulgação, que anuncie no seu jornal ou revista ou site ou emissora de rádio ou de TV.

– Indo mais fundo na última “lei”: se você for publicar uma foto ou vídeo sobre o assunto e lá estiver aparecendo a logomarca do patrocinador, troque a foto ou corte no vídeo para não divulgar nenhuma empresa “de graça”.

– Indo mais fundo ainda. Na imprensa esportiva, se um clube adotar o nome do patrocinador –Red Bull Bragantino, Sada Cruzeiro, MRV Minas, Farma Conde São José–, vete o nome ou esconda-o ao máximo.

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Já notou que é assim?

Vamos ficar nos três últimos itens acima. O assunto me surgiu nesse final de semana após a bela –e até inesperada– conquista da equipe de basquete da cidade, o São José Basketball, que é o novo campeão brasileiro da categoria adulto principal.

Quando preparávamos o texto sobre a vitória joseense na final, veio à mente a tal “lei” de não fazer publicidade gratuita para empresas. E veio em mim, ao mesmo tempo, a certeza de que alguns paradigmas precisam mudar.

Quer dizer que uma empresa como a Vinac Consórcios, que apoia o basquete –e outras modalidades– de São José há mais de 30 anos, colocando um bom dinheiro nas equipes e tendo como contrapartida a sua logomarca estampada nos uniformes, tem que ter o seu nome e a sua marca escondidos? Se quiser aparecer vai ter que pagar publicidade em todos os veículos de comunicação?

É claro que isso está errado.

Vejamos como isso funciona desde o início. Uma equipe esportiva ou um projeto cultural inscreve-se anualmente para receber dinheiro da LIF, a Lei de Incentivo Fiscal do município. A Prefeitura analisa cada projeto, verifica se ele se encaixa e, se aprovado, abre esse projeto para captar dinheiro de patrocínio junto a empresas e até pessoas físicas.

O segundo passo é os responsáveis pelos projetos procurarem as empresas. Se o limite aprovado para o projeto do basquete, por exemplo, é de R$ 1 milhão, ele poderá “vender” patrocínios até esse valor. Então, uma empresa pode investir, ainda por exemplo, R$ 200 mil na equipe e terá direito a um determinado espaço no uniforme para divulgar sua marca. Também terá direito a placas no ginásio onde o time disputa seus jogos e a outras formas de exposição.

Tudo isto é possível porque a Prefeitura de São José abre mão desse valor no imposto que a empresa deve pagar. Os seja, os R$ 200 mil do exemplo que o patrocinador vai entregar para o basquete, ele vai descontar do imposto que tem a pagar para a Prefeitura.

Tudo bem, tudo certo. Mas não muito. Aí começam a vigorar as tais “leis” da mídia. Isso eu mostro, isso eu não mostro, corta aqui, desfoca ali, isso já é abusar da nossa boa vontade…

Ou seja, a Prefeitura –o cidadão contribuinte– já fez sua parte abrindo mão de dinheiro de impostos que poderia estar sendo usado para obras e serviços públicos; a equipe já correu atrás das empresas que irão pagar os salários dos jogadores e comissão técnica, viagens etc.; e as empresas já produziram suas campanhas de divulgação para terem retorno no negócio.

Só falta a divulgação acontecer. É claro que os veículos não vão fazer publicidade gratuita, mas exibir as imagens dos uniformes é o mínimo que devem fazer. Citar o nome da equipe, mesmo que tenha uma marca comercial colada a ele, também não tira pedaço de ninguém.

E se alguns patrocinadores do esporte e da cultura quiserem anunciar em um ou mais veículos de comunicação, ótimo.

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Há 40 anos…

Tudo isso me fez voltar 40 anos no tempo, quando São José dos Campos tinha uma das melhores equipes de basquete do Brasil. No início de 1981, a equipe do Tênis Clube, com um apoio ainda amadorístico da Prefeitura, foi surgindo meio às pressas, um ou dois anos antes.

Formada e treinada pelo lendário José Edvar Simões, tornou-se campeã paulista e brasileira de 1980 enfrentando gigantes como Francana, Sírio e Monte Líbano. Mais ou menos um mês depois, a mesma equipe ficou com o vice no Sul-Americano disputado no Paraguai.

As imagens vêm facilmente à minha memória. Jovenzinho, trabalhava como repórter-correspondente do “Estadão” e do seu filhote “Jornal da Tarde”, jornais que adoravam basquete. Cobria treinos e jogos do Tênis Clube, cobri as finais memoráveis contra a Francana e passei duas semanas em Assunção para enviar notícias do Sul-Americano, onde o São José foi derrotado somente na final pelos argentinos do Ferrocarril Oeste.

Era um privilégio ver aquele time jogar: Ubiratan, Zé Geraldo, Marcelo Vido, Carioquinha e Nilo era a equipe titular. Todos eles já haviam passado ou ainda passariam pela seleção brasileira.

O problema é que aquela equipe estrelada e vencedora, é claro, passou a ter seus atletas cobiçados pelos adversários. E o Tênis São José dependendo apenas do apoio da Prefeitura…

Em 1982, a diretoria do clube tentou um patrocínio de repercussão nacional: a Haspa. Para os mais novos, Haspa era o nome de uma empresa financeira que tinha uma das cadernetas de poupança mais importantes do mercado. Aí começou uma novela que parecia não ter mais fim. E nada de o patrocínio ser assinado.

A novela terminou com a cidade em lágrimas. A Haspa anunciou que, em vez do Tênis São José, iria patrocinar o programa do Chacrinha, na Globo. Em seguida, as principais estrelas começaram a deixar o clube. Se não me engano, pela ordem, foram Nilo e Marcelo Vido para o Flamengo, Ubiratan para o Corinthians e Carioquinha… não me lembro para onde.

Essa história triste me faz pensar que, se a tal LIF da Prefeitura existisse na época, provavelmente Edvar e seus “globetrotters” teriam sido mantidos e o basquete joseense teria tido ainda muito anos de glórias.

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Vamos apoiar?

Volto de lá do “tempo do onça” e me vejo novamente na redação do SuperBairro, na segunda-feira, com aquela relação de empresas na minha frente: publico os nomes ou sigo a “lei” da mídia que, como disse lá em cima, recomenda não se dar colher de chá para quem não é anunciante?

Ora, é claro que resolvi publicar. E repito abaixo os nomes dos parceiros do São José Basketball, com os cumprimentos por fazerem parte desta conquista.

Parabéns aos patrocinadores Vinac Consórcios, Shopping Jardim Oriente, DM e Construtora Patriani. Parabéns aos apoiadores Emercor, Tomovale, RT Sports e Academia Vale Fight Club.

E quanto a você, leitor, se quiser ver o esporte e a cultura de São José dos Campos a cada dia melhores, prestigie quem apoia nossas equipes e eventos culturais.

É o tipo do negócio em que todos ganham, certo?

 

> Wagner Matheus é jornalista (MTb nº 18.878) há 46 anos. É editor do SuperBairro. Mora na Vila Guaianazes há 20 anos.

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